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Nova MNE argentina em entrevista ao Expresso: “O que acaba é o protecionismo. A Argentina que começa agora é a do mercado livre”

Diana Mondino, ministra dos Negócios Estrangeiros do novo Governo Argentino
Diana Mondino, ministra dos Negócios Estrangeiros do novo Governo Argentino
Márcio Resende

Javier Milei escolheu para chefe da diplomacia uma economista sem experiência política nem de relações internacionais. Nada disso impressiona Diana Mondino, que afirma ter ideias claras para o futuro da Argentina no mundo e os laços com países de todas as geografias. Em entrevista ao Expresso, explica as intenções do futuro Governo para o Mercosul, as trocas com a UE e a China e o vizinho Brasil

Nova MNE argentina em entrevista ao Expresso: “O que acaba é o protecionismo. A Argentina que começa agora é a do mercado livre”

Márcio Resende

Correspondente na Argentina

Diana Mondino, de 65 anos, será a ministra dos Negócios Estrangeiros de Javier Milei, que toma posse como Presidente da Argentina no próximo dia 10 de dezembro. Sem experiência na função pública nem nas relações internacionais, a economista tem sido assessorada por diplomatas ligados ao ex-Presidente Mauricio Macri (2015-19), cuja política externa é elogiada pelo chefe de Estado eleito.

Mondino foi eleita deputada pelo partido de Milei, A Liberdade Avança, para a legislatura 2023-27. Logo após vencer as presidenciais, o dirigente indicou-a como ministra. Apesar das suas declarações durante a campanha contra o Presidente brasileiro (“Lula é comunista e corrupto”), com quem jurou que não se reuniria, Mondino garante que a relação com o país vizinho, principal sócio político e comercial da Argentina, será “estupenda”, mesmo reconhecendo que não há “simpatia” entre os dois.

Para a ministra, o atual Mercosul, formado pelos fundadores Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, não funciona e deve ser “modernizado”, visão que os quatro países partilham, garante. Minimiza, pois, a inicial promessa de Milei de “terminar com o bloco”.

A partir de 10 de dezembro, a nova administração argentina promete acabar com o protecionismo histórico (“Vamos abrir o mais rápido possível”) e focar-se na ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) pendente desde 2019, além do também pendente com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, nas siglas em inglês).

As relações internacionais “serão baseadas numa ideologia liberal”, associadas aos países com valores ocidentais democráticos, diz a futura ministra. Entram em cena, Estados Unidos e Israel, além de Europa e países da América Latina, em detrimento de aliados incómodos como Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irão. A relação com a China, segundo maior sócio comercial da Argentina, não será entre Estados, mas entre empresas. Os acordos sigilosos entre Argentina e China, fechados durante os governos ligados à ex-Presidente Cristina Kirchner, se por acaso tiverem algo ilegal e que colida com a Constituição argentina, serão denunciados.

Durante a campanha, o candidato Javier Milei chamou a Lula da Silva “comunista e corrupto”. Lula apoiava o rival Sergio Massa e até pediu aos argentinos que “votassem num Presidente que gostasse de democracia”, sugerindo que Milei não gosta. Como será a relação da Argentina com o Brasil?
A relação com o Brasil será estupenda, como queremos que seja com todos os países do mundo. Mas recordemos que o Governo de Alberto Fernández não quis ter relações com Jair Bolsonaro. Então, o que tentamos explicar é que não se devem confundir simpatias entre pessoas com a enorme capacidade de desenvolvimento que temos como países em conjunto. Somos vizinhos, além de sócios comerciais. Mas se me estivesse a falar de um país distante, eu diria o mesmo: é importante ter relações com todos os países do mundo.

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