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Embaixador chinês defende Huawei em Portugal e rejeita “mentalidade de Guerra Fria”

Embaixador chinês defende Huawei em Portugal e rejeita “mentalidade de Guerra Fria”
Getty Images

No seguimento do afastamento da Huawei do 5G em Portugal, o embaixador da China criticou a abordagem de temas na área da tecnologia com “uma mentalidade de Guerra Fria”. Olhando para os 45 anos de relações diplomáticas oficiais entre os dois países, Zhao Bentang disse em entrevista à Lusa que os resultados têm sido “muito positivos” e que a transferência de soberania de Macau é "um exemplo de países que resolvem o problema da soberania através de negociações pacíficas”

O Embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, defendeu o papel da chinesa Huawei na tecnologia portuguesa e rejeitou uma “mentalidade de Guerra Fria” na questão. Os comentários surgem meses depois da Huawei ter ficado excluída do 5G em Portugal e de a empresa ter avançado com uma contestação judicial contra esta decisão.

Recorde-se que a Comissão de Avaliação de Segurança (CAS) deliberou a utilização de equipamentos e serviços que “provenham de fornecedor ou prestador” que não integre a União Europeia, a NATO e a OCDE como sendo de “alto risco”.

Em entrevista à agência Lusa, o diplomata disse que o 5G da Huawei começou em 2003 e com a empresa Altice houve uma “cooperação importante”, resultando em que Portugal disponha dessa tecnologia. E “nunca correu perigo, nunca teve problemas de confidencialidade”, frisou o diplomata, acrescentando que a cooperação na área tecnológica envolveu projetos “muito evidentes de benefício mútuo”.

“Tratar estes temas com uma mentalidade de Guerra Fria ou intervir de uma maneira forçosa é como uma violação de regras internacionais, uma violação de benefício de outros”, sublinhou Zhao Bentang.

“Não acredito que beneficie Portugal ou a China. Estamos totalmente contra e opomo-nos a isso. Sempre quisemos comunicar e coordenar para que as cooperações corram bem”, concluiu o embaixador à Lusa, na resposta a dúvidas levantadas sobre tecnologia chinesa.

Em setembro de 2023, a Comissão Europeia disse caber aos Estados-membros da União Europeia (UE) decidir que fabricantes excluir do desenvolvimento das redes móveis de quinta geração (5G).

“Desde o primeiro dia, em que pusemos em prática a chamada ‘caixa de ferramentas’ sobre o 5G, obviamente não mencionámos nenhuma empresa, mas mencionámos o risco que qualquer país deve evitar ao selecionar ou ter as suas empresas a selecionar os fornecedores e, claro, a decisão foi tomada por eles [Portugal]”, declarou o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton.

Embaixador associa relações diplomáticas a resultados “muito positivos”

As relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China estabeleceram-se em 1979. Um dos pontos chave nas relações bilaterais foi a transferência de soberania de Macau, que deixou de estar sob administração portuguesa em dezembro de 1999. Apesar dos alertas sobre repressão das liberdades e garantias acordadas nessa altura, essas críticas não têm eco público pela voz de Portugal. Em 2021, o então ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva disse que o Governo português “espera e conta” que a China cumpra a Lei Básica de Macau.

O embaixador chinês destacou à Lusa “a confiança sólida” entre os dois países, resultante da transferência pacífica da administração de Macau, e afirma que a “compreensão” prevalece mesmo na “mais crítica” situação global atual.

“Temos uma confiança política bastante sólida entre os dois países porque o tema do regresso de Macau à República Popular da China é um exemplo de países que resolvem o problema da soberania através de negociações pacíficas”, considerou Zhao Bentang.

Além da avaliação positiva do processo de Macau, o diplomata elencou os contactos frequentes e visitas entre governantes dos dois países. “Podemos dizer que os 45 anos [de relações diplomáticas oficiais] têm tido resultados muito positivos. E agora, frente à situação mundial mais crítica, os dois países unem-se, comunicamos e compreendemo-nos para encarar desafios e temos uma estratégia parecida de desenvolvimento da economia”.

O vice-presidente da República Popular da China visitou Portugal em maio do ano passado, cerca de um mês depois da passagem o chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, por Lisboa.

O diplomata destacou como as empresas chinesas entraram em Portugal depois da crise financeira, “num momento muito difícil”, sempre com tónica na cooperação e para “ajudar a sair da crise”.

“Os líderes portugueses sempre lembram esta história” com a cooperação inicialmente a basear-se, sobretudo, em setores tradicionais como “finanças, bancários, energias”, frisou. Mas o foco mudou para “novas áreas de tecnologia, da inovação, de educação e de recursos renováveis” como carros elétricos, baterias de lítio, e “também se está a estudar construir um centro de investigação conjunta de saúde”, adiantou.

O embaixador indicou que as “mais de 30 empresas” chinesas em Portugal cobrem setores de “quase todas as áreas, desde a energia à banca, e “há uma cooperação muito boa” no setor da cultura, como provam as atividades agora programadas no âmbito do Festival da Primavera (ano novo chinês), além de “três laboratórios conjuntos” ao abrigo da estratégia da “nova rota da seda”.

A China quer iniciativas para um “mundo de futuro compartilhado”, tendo Zhao Bentang recordado as propostas do Presidente Xi Jinping para a “multipolarização e globalização económica” assente em “princípios da igualdade e ordem”.

“Temos um fundamento e uma complementaridade muito grande e acreditamos que o futuro de relações será ainda maior”, considerou.

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