O relator especial da ONU sobre Myanmar alertou recentemente para o aumento de refugiados rohingya que viajam até à Indonésia em embarcações sobrelotadas. Tom Andrews frisa a necessidade de uma resposta de emergência regional a esta situação. Em comunicado, defendeu ainda que não é possível alcançar uma solução para a crise enquanto “a junta impedir a formação de um Governo comprometido com direitos humanos”.
A junta militar tomou o poder num golpe de Estado, em fevereiro de 2021. Desde então têm surgido denúncias de ações violentas contra a população. No final de outubro foi lançada uma ofensiva de forças que se opõem à junta militar, com confrontos próximos de zonas fronteiriças. Em entrevista ao Expresso, Andrews descreveu as escolhas difíceis que os refugiados são obrigados a tomar e que ações devem ser tomadas em relação à junta militar.
Até que ponto as condições nos campos de refugiados no Bangladesh promovem saídas e viagens de barco para a Indonésia?
Estive na Indonésia, penso que há quatro meses, e fui até à área de Aceh, onde muitos destes barcos desembarcaram, e encontrei-me com muitos refugiados que se abrigaram e refugiaram em Pidie. Disseram-me, pela comunicação regular com as pessoas nos campos no Bangladesh, algo que já sabia: as condições eram más, a violência estava a aumentar, as crianças mal recebiam o suficiente para comer, mais de 40% tinham atrasos de crescimento, cerca de metade era anémica. As rações alimentares diminuíram ao longo do último ano, dado que os Estados-membros das Nações Unidas não garantiram financiamento ao plano de resposta conjunta do Programa Mundial Alimentar. A combinação destas condições nos campos deixou as famílias entre a espada e a parede. As pessoas com quem falei nos campos em Pidie disseram-me – e isto foi há meses – que já havia filas para as diligências para saírem dos campos e procurarem esperança às mãos de passadores, que lhes prometiam passagem segura através do mar. Muitos destes barcos não estão em condições de navegar. Muitos dos que atraíram estas pessoas desesperadas não têm escrúpulos, ouvi histórias horríveis dessas viagens. No entanto, devido à deterioração das condições nos campos e à perda de esperança entre as famílias que lá vivem, optam por correr riscos extremos.
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