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"O Hamas não tem hipóteses" contra Israel: ataques vão continuar a fazer muitas "vítimas civis inevitáveis"

Gaza
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Mais de 190 palestinianos morreram após os ataques aéreos retaliatórios israelitos na Faixa de Gaza, de acordo com as autoridades de saúde locais. Pelo menos 1610 pessoas ficaram feridas nos ataques. Israel lançou aquilo a que chamou “Operação Espada de Ferro” em resposta à incursão do Hamas, que começou com ataques massivos de foguetes esta manhã. Do lado israelita, há pelo menos 70 mortes. Mas a aritmética de mortes vai rapidamente evoluir para um “massacre” de civis, garantem os analistas

Pelo menos 70 israelitas já morreram em ataques desencadeados pelo Hamas, de acordo com os serviços de emergência do país. Pelo menos 985 pessoas foram feridas. Por outro lado, o Ministério da Saúde palestiniano em Gaza registou 198 mortes de palestinianos. Há também 1610 feridos. O ministério palestiniano não revelou onde ocorreram as mortes, e se incluíam militantes do Hamas ou apenas civis em Gaza.

As mortes do lado palestiniano deveram-se a ataques das Forças de Defesa de Israel, que responderam a uma salva de milhares de foguetes do Hamas contra o território israelita e a uma incursão de combatentes do grupo paramilitar. A Marina israelita também adiantou que matou dezenas de militantes palestinianos que tentavam “infiltrar-se” no país por mar. “O braço de guerreiros do mar eliminou dezenas de terroristas no espaço marítimo meridional e na costa”, escreveram, num comunicado, as Forças de Defesa de Israel. "Nas primeiras horas da manhã, os combatentes conduziram uma perseguição naval e eliminaram dezenas de terroristas que tentavam chegar a território israelita”. Foram destruídos dois barcos de borracha, outras duas embarcações e um instrumento agrícola, segundo o Exército de Israel.

Apesar de um dos líderes da milícia palestiniana,Saleh al-Arouri, ter declarado que o Hamas tem “um grande número de reféns” israelitas, e de ter dito à “Al Jazeera” que o grupo apostou numa “batalha total”, os analistas estão convencidos de que a matemática das execuções penderá para resultados dramáticos para a Palestina. “Será uma batalha muito unilateral”, diz ao Expresso Saul Newman, professor de Ciência Política na Universidade de Goldsmiths,em Londres. “Israel irá – e já está – reagir com uma força massiva e esmagadora, incluindo com ataques aéreos e um ataque militar total contra um inimigo munido apenas com armas pequenas e foguetes caseiros. O Hamas não tem hipótese contra isto.” O investigador tem, por isso, um “enorme receio”: o de virem a somar-se “inevitáveis ​​vítimas civis neste conflito”. Para Saul Newman, ambos os lados – Israel e Hamas – são “culpados pelo que será um massacre de pessoas inocentes”.

“Talvez não seja surpreendente, dadas as condições intoleráveis ​​que as pessoas que vivem nos territórios ocupados enfrentam diariamente, naquela que é, efetivamente, a maior prisão ao ar livre do mundo”, declara Saul Newman. “A situação atingiu o ponto de ebulição, exacerbada pela expansão dos colonatos e pelas políticas agressivas do Governo de extrema-direita em Israel, juntamente com o oportunismo político do Hamas, que explora a miséria da população palestiniana.” Uma explosão deste tipo aconteceria, mais cedo ou mais tarde, pondera o investigador.

Depois de uma incursão sem precedentes no território israelita por parte do Hamas, resultante do “enorme fracasso das secretas israelitas” em antecipá-la, Israel e Palestina estão de novo em guerra. Mas deixaram de o estar em algum momento? De acordo com os analistas, a situação modificou-se significativamente. “Isto é guerra, de facto”, analisa Jeffrey Sosland, perito no conflito israelo-palestiniano na Universidade Americana, em Washington. “Os serviços de informação de Israel falharam e muitos civis e soldados morrerão nos próximos dias.” O analista considera ainda que, apesar de se tratar de uma vitória tática para o Hamas, não haverá, como proferido, uma “batalha total” pela liberdade palestiniana. “O Hamas é uma pequena força militante que não se compara ao tamanho e sofisticação das Forças de Defesa de Israel. O Hamas apostou politicamente que um Israel internamente dividido poderia ser derrotado, e que poderia surpreender Israel num importante feriado judaico, como fizeram o Egipto e a Síria, em 1973.” Contudo, os partidos da oposição israelita já apelaram à unidade e as reservas das Forças de Defesa de Israel mobilizaram-se. “Os muitos problemas graves de Gaza não terminarão por causa deste ataque surpresa do Hamas, mas muitos israelitas e palestinianos morrerão”, avisa Jeffrey Sosland.

É uma convicção partilhada por William Wechsler, diretor dos programas para o Médio Oriente no ‘think tank’ Atlantic Council. “Estes ataques terroristas não têm qualquer utilidade militar tradicional. O Hamas tem de saber que estes ataques terroristas resultarão numa retaliação israelita maciça, que o deixará, e também ao povo de Gaza, numa situação muito pior. Estes ataques devem, por isso, ser vistos, não como a transmissão de uma mensagem a Israel, mas como uma mensagem às autoridades palestinianas, de forma a posicionar o Hamas junto dos palestinianos, à medida que se aproximam da luta interna para ver quem sucede a Mahmoud Abbas.”

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