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Terceira guerra põe fim ao enclave de Nagorno-Karabakh: Erdogan quer “ver um tratado de paz assinado” entre Arménia e Azerbaijão

Refugiados de Nagorno-Karabakh chegam à Arménia
Refugiados de Nagorno-Karabakh chegam à Arménia
IRAKLI GEDENIDZE/REUTERS

A República separatista arménia dentro do Azerbaijão chega ao fim, depois da reconquista do território pelas forças azeris. Entre acusações de limpeza étnica e massacres, a população arménia foge para o país vizinho. Baku explorou divisões entre a Arménia e a Rússia, o seu tradicional aliado, para recuperar a soberania sobre um pedaço do seu território perdido logo após a independência da União Soviética

Terceira guerra põe fim ao enclave de Nagorno-Karabakh: Erdogan quer “ver um tratado de paz assinado” entre Arménia e Azerbaijão

José Pedro Tavares

correspondente em Ancara

“Devido à difícil situação política e militar atual […], foi decidido dissolver todas as instituições do Estado até ao dia 1 de janeiro de 2024, e a República de Artsaque [nome arménio de Nagorno-Karabakh] deixa de existir”. Foi assim, por decreto, que Samvel Shakhramanyan, o atual Presidente desta República separatista arménia, pôs fim a uma situação que causou morte, êxodos e desolação no Cáucaso nos últimos 35 anos, desde o colapso da União Soviética.

Shakhramanyan confirmou o que já era evidente — uma vitória total do Azerbaijão, que assim conquista o controlo absoluto do seu território, parte do qual nunca dominou desde a data da sua independência, em 1991. “Os residentes de Artsaque devem familiarizar-se com as condições de reintegração no Azerbaijão e tomar uma decisão individual sobre ficar no território”, lia-se no comunicado da agora extinta República de Artsaque.

A verdade é que a maioria decidiu partir para a Arménia, num enorme êxodo, reminiscente de movimentos semelhantes nas guerras na ex-Jugoslávia nos anos 90. Nos termos do cessar-fogo acordado entre os representantes da República separatista e o Governo de Baku, após a ofensiva antiterrorista que as tropas azeris lançaram no passado dia 19 de setembro, a população de Nagorno-Karabakh pode escolher entre ficar no território, e ser assim integrada no Azerbaijão (país de maioria muçulmana), ou partir para a Arménia através do corredor de Lachin, a única e sinuosa estrada de montanha que liga o enclave à Arménia, e que viu na última semana uma interminável fila de automóveis e carrinhas, carregadas até ao topo.

Segundo os últimos dados, mais de 85 mil pessoas, 70% da população de Nagorno-Karabakh, já terá abandonado o enclave, as suas casas e as suas vidas, em direção à proteção da Arménia. “Não quero viver com os azeris”, dizia uma mulher, aparentando 50 anos, entrevistada por uma estação de TV na fronteira da Arménia. “Talvez alguns retornem às suas casas um dia. Eu não quero. Quero viver como uma arménia!”

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