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Nagorno-Karabakh: Arménia acusa Azerbaijão de limpeza étnica e Putin pede a Presidente azeri respeito por direitos dos arménios

Nagorno-Karabakh
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ARTEM MIKRYUKOV/REUTERS

A acusação foi feita no Conselho dos Direitos Humanos da ONU: “A Arménia tem informado constantemente este conselho sobre a iminência de uma limpeza étnica. Hoje, ela está em curso”. Também os separatistas arménios acusaram o Azerbaijão de violar o cessar-fogo em vigor desde quarta-feira no enclave, mas o Ministério azeri da Defesa qualificou esta acusação como desinformação

A Arménia acusou esta quinta-feira o Azerbaijão no Conselho dos Direitos Humanos da ONU de ter em curso uma “limpeza étnica” no território de Nagorno-Karabakh, que qualificou como um crime contra a humanidade. “A Arménia tem informado constantemente este conselho sobre a iminência de uma limpeza étnica. Hoje, ela está em curso”, declarou o embaixador da Arménia, Andranik Hovhannisyan, na cidade suíça de Genebra.

O diplomata disse que os civis do território estavam encurralados e não tinham forma de fugir, porque “o Azerbaijão continua a bloquear a única via de ligação para a Arménia”, o chamado corredor de Lachin. “Não se trata de uma simples situação de conflito, mas de um crime contra a humanidade que deve ser tratado como tal”, acrescentou, citado pela agência francesa AFP.

Uma representante do Azerbaijão, Dilara Abdullayeva, disse ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que Baku tinha decidido retomar o controlo do território secessionista, afirmando tratar-se de “medidas antiterroristas”.

O Azerbaijão lançou uma ofensiva militar em Nagorno-Karabakh na terça-feira, após a morte de seis azeris no território devido à explosão de minas. Os separatistas disseram que a ofensiva do Azerbaijão provocou 200 mortos e mais de 400 feridos. A Rússia disse que também morreram dois soldados da força de manutenção da paz que mantém no território, disputado pelo Azerbaijão e pela Arménia, desde a guerra de 2020.

A ofensiva do exército azeri terminou 24 horas depois com a capitulação dos separatistas arménios, que aceitaram depor as armas e negociar a reintegração do território no Azerbaijão. As negociações iniciaram-se esta quinta-feira, com a participação de um representante da Rússia.

Os arménios constituem a esmagadora maioria dos poucos mais de 120 mil habitantes de Nagorno-Karabakh, um território do Azerbaijão que os separatistas declararam como independente, mas apenas com apoio da Arménia.

Separatistas arménios acusam Azerbaijão de violar cessar-fogo

Os separatistas arménios acusaram o Azerbaijão de violar o cessar-fogo em vigor desde quarta-feira em Nagorno-Karabakh, após terem sido ouvidos tiros na cidade de Stepanakert, uma acusação negada pelas autoridades azeris.

Os tiros foram ouvidos cerca das 12h15 locais (09h15 em Lisboa), noticiou a AFP, desconhecendo-se a origem dos disparos. “As forças armadas do Azerbaijão utilizaram várias armas a partir das imediações de Stepanakert, violando o acordo de cessar-fogo”, afirmaram os separatistas nas redes sociais, citados pela agência francesa.

A acusação foi rejeitada pelo Ministério da Defesa do Azerbaijão, que a qualificou como desinformação.

As alegações surgiram no primeiro dia de negociações entre os separatistas da autoproclamada República de Nagorno-Karabakh e o Azerbaijão, realizadas na cidade azeri de Yevlakh, cerca de 300 quilómetros a oeste de Baku.

Os separatistas arménios de Nagorno-Karabakh anunciaram na quarta-feira que aceitavam depor as armas e negociar a reintegração no Azerbaijão da parte do território do sul do Cáucaso que controlavam.

Ainda esta quinta-feira, o Presidente da Rússia apelou ao seu homólogo azeri que dê garantias de respeito aos cidadãos arménios em Nagorno-Karabakh, com Ilham Aliev a pedir desculpa a Vladimir Putin pela morte de soldados da força de paz russa no enclave.

Num comunicado, o Kremlin dá conta de uma conversa telefónica entre os dois chefes de Estado, numa altura em que decorrem negociações entre separatistas e as autoridades de Baku. “O lado azeri confirmou que está pronto para trabalhar nestas questões com as forças de manutenção da paz russas” destacadas no local desde o final de 2020, referiu o Kremlin no comunicado que descreve o telefonema.

Sobre os soldados russos mortos na sequência da ofensiva militar azeri, o Kremlin adiantou que, em conjunto com o pedido de desculpas, Baku garantiu que vai investigar “de forma exaustiva” o “incidente”. “Ilham Aliev pediu desculpa e expressou profundas condolências pela morte trágica dos soldados do contingente russo. Será efetuada uma investigação exaustiva deste incidente e todos os responsáveis serão devidamente punidos”, lê-se no documento.

Entretanto, as autoridades azeris deram conta do fim da primeira ronda de negociações, que durou duas horas, com os separatistas que reivindicam a criação da República de Nagorno-Karabakh, apesar de terem aceitado depor as armas para negociar a reintegração no Azerbaijão do território que controlavam no enclave.

Segundo a imprensa estatal azeri, que não adiantou pormenores, não está prevista qualquer conferência de imprensa sobre o conteúdo das negociações, que decorrem na cidade de Yevlakh.

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