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Mais uma obra atacada por ativistas ambientais: desta vez foi "Rapariga com Brinco de Pérola", de Vermeer

Mais uma obra atacada por ativistas ambientais: desta vez foi "Rapariga com Brinco de Pérola", de Vermeer
PHIL NIJHUIS/EPA

Depois dos quadros de Van Gogh e de Monet, a obra ‘Rapariga com Brinco de Pérola’, um dos retratos mais célebres do pintor neerlandês Johannes Vermeer foi esta tarde alvo de ataque, no museu Mauritshuis, em Haia. Três pessoas foram detidas

Em mais uma ação de desobediência civil com um museu por cenário, um ativista pertencente à coligação ambientalista Just Stop Oil entrou esta quinta-feira no Mauritshuis, em Haia, nos Países Baixos, e tentou colar a sua cabeça ao quadro ‘Rapariga com Brinco de Pérola’, um dos retratos de Johannes Vermeer, noticia o jornal dos Países Baixos AD.

Quase em simultâneo, um outro ativista da organização antipetróleo atirou sopa de tomate contra o quadro e contra o seu parceiro de protesto, encenando uma demonstração semelhante levada a cabo pela Just Stop Oil dia 14 de Outubro na National Galery, em Londres. Aí,duas jovens de 20 e 21 anos arremessaram sopa dee tomate contra os ‘Girassóis’ de Vincent Van Gogh.

Num vídeo publicado no Twitter, ouve-se o ativista a questionar as pessoas presentes no museu: “Como é que se sentem quando vêem algo belo e insubstituível a ser destruído à frente dos vossos olhos? Sentem-se indignados? Ainda bem. Porque é que não se sentem assim quando vêem o planeta a ser destruído?”


Uma fonte do Mauritshuis assegurou que o quadro, que estava protegido por um vidro, não sofreu danos: “O estado do quadro foi examinado pelos nossos restauradores. Felizmente, a obra-prima não foi danificada”.

Juntando-se ainda ao coro de vozes que têm criticado este tipo de ativismo, cada vez mais comum - para além de Vermeer e Van Gogh também uma obra de Monet foi atacada no domingo passado -, a mesma fonte disse que “a arte está indefesa e que tentar danificá-la para qualquer fim é algo que o Mauritshuis rejeita veementemente”.

Segundo fontes da polícia local, três pessoas foram detidas na sequência do acidente, todas com nacionalidade belga, não sendo possível ainda determinar qual a acusação que irão enfrentar. Terão entre 42 e 45 anos e um deles, Wouter Mouton, já foi detido em várias ocasiões no passado, devido ao seu ativismo ambiental.

Ouvidas pelo Expresso na passada terça-feira, várias personalidades dos sectores da arte e do ambientalismo mostraram-se descontentes face aos métodos utilizados pela Just Stop Oil.

Helena Mendes Pereira, curadora de arte e especialista em práticas artísticas e culturais contemporâneas, defende que o “vandalismo não pode ter lugar no ativismo”. Se os ativistas “querem alertar para a destruição do planeta, não me parece que atacar o que mais bonito o ser humano fez seja eficaz”, defende a Diretora da Bienal de Cerveira e da Zet Galery, acrescentando que “acaba por ser um tiro no pé, mesmo que a intenção seja benigna”.

Já Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, aponta que, nestas ações, “não se percebe o contexto e a mensagem pode não passar”. Embora reconheça que o objetivo dos protestos passe por gerar atenção mediática, ações deste género criam adversidade” e “podem fazer com que haja alguma desmobilização”, quando “é preciso trazer as pessoas para a causa, em vez de as afastar”.

Citada pelo jornal AD, um porta-voz da Just Stop Oil, sediada no Reino Unido, informou que a coligação ambiental não foi diretamente responsável pelo protesto, mas “no entanto, nós apoiamos esta ação". Porquê? “Porque se não acabarmos com a nossa dependência dos combustíveis fósseis, em breve não restará ninguém na Terra para desfrutar da arte. É esse o nosso ponto.”



Texto de José Gonçalves Neves, editado por Mafalda Ganhão

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