Em mais uma ação de desobediência civil com um museu por cenário, um ativista pertencente à coligação ambientalista Just Stop Oil entrou esta quinta-feira no Mauritshuis, em Haia, nos Países Baixos, e tentou colar a sua cabeça ao quadro ‘Rapariga com Brinco de Pérola’, um dos retratos de Johannes Vermeer, noticia o jornal dos Países Baixos AD.
Quase em simultâneo, um outro ativista da organização antipetróleo atirou sopa de tomate contra o quadro e contra o seu parceiro de protesto, encenando uma demonstração semelhante levada a cabo pela Just Stop Oil dia 14 de Outubro na National Galery, em Londres. Aí,duas jovens de 20 e 21 anos arremessaram sopa dee tomate contra os ‘Girassóis’ de Vincent Van Gogh.
Num vídeo publicado no Twitter, ouve-se o ativista a questionar as pessoas presentes no museu: “Como é que se sentem quando vêem algo belo e insubstituível a ser destruído à frente dos vossos olhos? Sentem-se indignados? Ainda bem. Porque é que não se sentem assim quando vêem o planeta a ser destruído?”
Uma fonte do Mauritshuis assegurou que o quadro, que estava protegido por um vidro, não sofreu danos: “O estado do quadro foi examinado pelos nossos restauradores. Felizmente, a obra-prima não foi danificada”.
Juntando-se ainda ao coro de vozes que têm criticado este tipo de ativismo, cada vez mais comum - para além de Vermeer e Van Gogh também uma obra de Monet foi atacada no domingo passado -, a mesma fonte disse que “a arte está indefesa e que tentar danificá-la para qualquer fim é algo que o Mauritshuis rejeita veementemente”.
Segundo fontes da polícia local, três pessoas foram detidas na sequência do acidente, todas com nacionalidade belga, não sendo possível ainda determinar qual a acusação que irão enfrentar. Terão entre 42 e 45 anos e um deles, Wouter Mouton, já foi detido em várias ocasiões no passado, devido ao seu ativismo ambiental.
Ouvidas pelo Expresso na passada terça-feira, várias personalidades dos sectores da arte e do ambientalismo mostraram-se descontentes face aos métodos utilizados pela Just Stop Oil.
Helena Mendes Pereira, curadora de arte e especialista em práticas artísticas e culturais contemporâneas, defende que o “vandalismo não pode ter lugar no ativismo”. Se os ativistas “querem alertar para a destruição do planeta, não me parece que atacar o que mais bonito o ser humano fez seja eficaz”, defende a Diretora da Bienal de Cerveira e da Zet Galery, acrescentando que “acaba por ser um tiro no pé, mesmo que a intenção seja benigna”.
Já Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, aponta que, nestas ações, “não se percebe o contexto e a mensagem pode não passar”. Embora reconheça que o objetivo dos protestos passe por gerar atenção mediática, ações deste género criam adversidade” e “podem fazer com que haja alguma desmobilização”, quando “é preciso trazer as pessoas para a causa, em vez de as afastar”.
Citada pelo jornal AD, um porta-voz da Just Stop Oil, sediada no Reino Unido, informou que a coligação ambiental não foi diretamente responsável pelo protesto, mas “no entanto, nós apoiamos esta ação". Porquê? “Porque se não acabarmos com a nossa dependência dos combustíveis fósseis, em breve não restará ninguém na Terra para desfrutar da arte. É esse o nosso ponto.”
Texto de José Gonçalves Neves, editado por Mafalda Ganhão
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