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Rushan Abbas: “O sangue dos uigures não devia tornar a China economicamente forte”

Rushan Abbas: “O sangue dos uigures não devia tornar a China economicamente forte”
TIAGO MIRANDA

Em entrevista ao Expresso, a ativista norte-americana uigur Rushan Abbas fala do seu percurso na procura de informação sobre a irmã, o desapontamento com as ações das Nações Unidas quanto aos direitos humanos daquela minotia muçulmana na China e apela a pressão internacional sobre o regime de Pequim

Rushan Abbas: “O sangue dos uigures não devia tornar a China economicamente forte”

Salomé Fernandes

Jornalista da secção internacional

A ativista norte-americana uigur Rushan Abbas está em Portugal a convite da Embaixada dos Estados Unidos. Fundadora e diretora executiva da organização Campaign for Uyghurs, há anos que tenta chamar a atenção para a Região Autónoma Uigur de Xinjiang, na China, onde as Nações Unidas indicaram recentemente que podem estar a ser cometidos crimes contra a Humanidade. Uma avaliação a que a China se opõe, argumentando que é baseada em desinformação.

A causa de Abbas também é pessoal: considera que a condenação da sua irmã pelas autoridades chinesas está relacionada com o seu ativismo. Em entrevista ao Expresso, defende que a sua irmã deve ser libertada e que a China deve deixar de ser vista como parceiro legítimo para trocas comerciais.

É ativista desde os anos 80. O que a leva a crer que a sua irmã foi detida por causa do seu ativismo?

A minha irmã respeita a lei, é uma pessoa muito introvertida e não é politicamente ativa, nem sequer fala muito de temas sociais. É bem educada, fluente em chinês, médica reformada antecipadamente por motivos de saúde. É a última pessoa que seria alvo quando a China começou com as políticas de genocídio. Começaram pelos intelectuais, como os escritores famosos e professores. Ela não é famosa. Seguiram-se figuras religiosas ou quem pudesse ser visto como líder. Ela não se integra nas características. Além disso, participei num painel em Washington, no Instituto de Hudson, foi o meu primeiro discurso público desde que a política de genocídio começou na nossa terra. Falei dos campos de concentração — a nossa organização e eu fomos dos primeiros uigures a chamar-lhes campos de concentração e a falar de genocídio — e esse discurso foi muito poderoso, porque dei cara a este genocídio, ao descrever toda a família do meu marido. Foram levadas 24 pessoas da família dele: os meus sogros, três das suas irmãs e os maridos, o irmão e a mulher, 14 dos seus filhos. Desapareceram todos desde o verão de 2017. Seis dias depois deste discurso, a minha irmã foi levada de casa. De início também levaram a minha tia materna. Eram de cidades diferentes, a cerca de 1400 km de distância. A minha tia era professora reformada, foi à escola chinesa toda a vida, fala chinês fluentemente e não é famosa. Na altura apenas tinham como alvo as pessoas conhecidas ou que pudessem ser líderes. É por isso que digo que é muito claro que o Governo chinês fez da minha irmã alvo por causa do meu ativismo e do discurso no Instituto de Hudson.

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