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Tribunal de Hong Kong condena cinco terapeutas da fala por escreverem livros infantis com conteúdos "separatistas"

Tribunal de Hong Kong condena cinco terapeutas da fala por escreverem livros infantis com conteúdos "separatistas"
Anthony Kwan/Getty Images

Procuradores de Hong Kong acusam os livros de “doutrinar” os leitores com sentimentos separatistas. Os acusados podem sofrer penas até dois anos de prisão

Cinco terapeutas da fala de Hong Kong foram condenados por um tribunal local ao abrigo de uma lei de sedição que remonta à era colonial britânica. O seu crime: terem escrito três livros infantis ilustrados que, segundo os procuradores da cidade, “doutrinaram” os leitores com sentimentos separatistas. Os autores, Lai Man-king, Melody Yeung, Sidney Ng, Samuel Chan e Fong Tsz-ho, com idades compreendidas entre os 25 e 28 anos, podem ser condenados até dois anos de prisão.

No essencial, refere o jornal britânico “The Guardian”, os livros retratam a tentativa de um grupo de ovelhas de proteger a sua aldeia das agressões de um conjunto de lobos. No segundo volume, 12 das ovelhas conseguem escapar momentaneamente recorrendo a um barco, sendo mais tarde capturadas e colocadas na prisão - uma aparente referência aos 12 ativistas de Hong Kong capturados pelas autoridades chinesas em agosto de 2020 quando se encontravam a caminho de Taiwan.

Para um dos juízes que avalia o caso, Kwok Wai-kin, as fábulas procuram principalmente influenciar as crianças que as leiam a “acreditar que o governo da Republica Popular da China chegou a Hong Kong com a intenção perversa de tirar-lhes a casa e arruinar as suas vidas felizes". Wai-kin, selecionado diretamente para um painel de juízes de segurança nacional pelo líder do governo de Hong Kong, John Lee - que, por sua vez, foi eleito em agosto com o apoio de Pequim -, disse ainda que “a intenção sediciosa não vem apenas das palavras”, mas do efeito que estas pretendem causar na mente dos leitores.

Este é o mais recente episódio numa campanha do Partido Comunista Chinês que visa restringir ao máximo a liberdade de expressão e dissensão entre os cidadãos de Hong Kong. No seguimento dos protestos pró-democracia de 2019, as autoridades chinesas impuseram uma rígida lei de segurança nacional, através da qual já foram detidas 60 pessoas com acusações de sedição, segundo as contas da Human Rights Watch, uma organização não governamental (ONG).

A Amnistia Internacional defende em comunicado que “escrever livros para crianças não é crime e que tentar educar as crianças sobre os acontecimentos recentes na história de Hong Kong não constitui uma tentativa de incitar a uma rebelião.”

Já Peter Wong, advogado de defesa dos cinco autores, explicou numa audiência judicial que “o objetivo dos livros era o de explicar aos jovens o que está a acontecer na sociedade de uma forma mais delicada”, acrescentando que, para os terapeutas da fala, esta é uma forma “legítima e útil de expressar os eventos que ocorrem na sociedade". A sentença final está prevista para o próximo sábado.

Texto de José Gonçalves Neves, editado por João Cândido da Silva

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