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Alemanha: sem certificação não há Nord Stream 2 e o problema maior é da Rússia

Alemanha: sem certificação não há Nord Stream 2 e o problema maior é da Rússia

Ao mandar suspender a certificação do Nord Stream 2, o chanceler alemão usa contra a Rússia as armas defendidas pelos Verdes alemães durante a campanha para as eleições alemãs de setembro do ano passado. Washington aplaude, aprova e secunda

A postura dos Verdes alemães relativamente à exigência do respeito pelos direitos humanos levou esta terça-feira um empurrão da realidade. Ao anunciar a suspensão da avaliação do Nord Stream 2, o gasoduto que duplicaria a debitagem de gás em direção à Alemanha, passando por baixo do Báltico e evitando a Ucrânia como país de trânsito, o chanceler Olaf Scholz mostrou que o Governo alemão é capaz de mudar de ideias e, neste caso concreto, está disposto a exercer verdadeira pressão sobre a Rússia

“Soa muito técnico, mas é um passo administrativo necessário porque sem certificação, o gasoduto Nord Stream 2 não poderá entrar em funcionamento”, disse Scholz em conferência de imprensa.

O ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, publicou um tweet na sua conta com a aprovação: “Saúdo a medida da Alemanha de suspender a certificação do Nord Stream 2. Este é um passo correto em termos práticos, morais e políticos nas circunstâncias atuais. Verdadeira liderança significa decisões difíceis em tempos difíceis. A decisão da Alemanha significa precisamente isso”.

O chanceler alemão declarou na mesma conferência de imprensa ter pedido ao ministro da Economia e Ação Climática, Robert Habeck, que garantisse que a certificação não aconteceria agora, conforme reporta a Deutsche Welle. 

“É uma grande mudança para a política externa alemã com enormes implicações para a segurança energética e para a posição de Berlim relativamente a Moscovo”, comentou à Deutsche Welle Marcel Dirsus, do Instituto de Política de Segurança da Universidade de Kiel.

Durante a campanha eleitoral para as legislativas de 24 de setembro do ano passado, os Verdes nunca cederam na crítica ao desrespeito pelos direitos humanos na Rússia e na China, o que implicava uma censura ao gasoduto Nord Stream 2. Não tivesse Moscovo precipitado as manobras militares e não tivesse a tensão relativa a uma invasão da Ucrânia tido o desfecho que foi conhecido esta terça-feira e os Verdes continuariam a ser os maiores críticos da Rússia e maiores apoiantes da Ucrânia no espectro político alemão.

Ex-co-líder dos Verdes até pouco depois de assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock nunca poupou críticas à ex-chanceler Angela Merkel pela sua brandura relativamente à China e à Rússia. “Tem de se procurar diálogo onde ele é possível, mas mostrar firmeza onde ela for necessária”, disse numa entrevista ao jornal “Financial Times” no final do ano passado.

Críticas a Angela Merkel e defesa do respeito pelos direitos humanos

Os grandes defensores do gasoduto eram os democratas-cristãos (CDU/CSU) o partido da chanceler, que liderava a coligação governativa com os sociais-democratas. Os Estados Unidos foram os primeiros a apoiar a decisão de Scholz, secundando-a. Como tweetou esta terça-feira Jen Paksi, assessora de imprensa da Casa Branca, “Joe Biden deixou claro que se a Rússia invadisse a Ucrânia nós estaríamos com a Alemanha para garantir que o Nord Stream 2 não avançaria. Estivemos em estreitas consultas com a Alemanha durante a noite e congratulamo-nos com o seu anúncio. Anunciaremos as nossas próprias medidas hoje.”

Em 21 de dezembro do ano passado, o site Euractiv anunciava o fim da “lua de mel” entre os três partidos da coligação governamental alemã “semáforo” quando o vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, ameaçou bloquear o gasoduto como sanção à Rússia. 

“De um ponto de vista político, o gasoduto é um erro”, declarou Habeck, esclarecendo que “todos os países tinham estado contra a sua construção exceto a Alemanha e a Áustria”, numa entrevista ao jornal conservador “Frankfurter Allgemeine Zeitung” publicada em 19 de dezembro. A declaração revelada as discordâncias entre os Verdes e os sociais-democratas, o partido que obteve mais votos em setembro passado.

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