A Polónia diz que ele morreu na Bielorrússia e a Bielorrússia diz que ele morreu na Polónia: um iraquiano é o 10º morto nesta fronteira
Nos mais de 400 quilómetros de florestas, rios e terras ou áridas ou geladas que separam a Bielorrússia da Polónia escondem-se cada vez mais migrantes com medo de serem devolvidos. Não pedem ajuda. Já morreram 10 pessoas
O impasse na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, que no total tem mais de 400 quilómetros, continua a provocar vítimas. Esta terça-feira, um homem iraquiano foi encontrado morto perto da linha que demarca a fronteira, mas os dois países negam que tenha morrido dentro dos seus respetivos territórios. Não se conhece ainda nem a idade nem a razão da morte.
Segundo um comunicado da força policial fronteiriça da Bielorrússia, difundido pela agência de notícias France Presse, o homem terá morrido do lado polaco da fronteira, durante mais uma tentativa de entrar na Europa. O mesmo organismo acusa ainda os guardas polacos de obrigarem outros migrantes a arrastar o corpo do iraquiano para o lado bielorrusso, num diferendo que está a atingir níveis preocupantes, com a Polónia a ter já acusado os guardas bielorrussos de dispararem na sua direção.
Neste momento, as localidades polacas mais próximas da fronteira estão em estado de emergência e junto à zona onde há quase três meses se encontram pelo menos 32 pessoas a segurança é ainda mais forte. Os jornalistas têm de filmar ao longe, os advogados usam megafones para explicar às pessoas como preencher papéis para a proteção internacional e é impossível chegar perto das pessoas.
Já o serviço de proteção de fronteiras da Polónia garante que não encontrou o corpo em território polaco. “Se alguma coisa desse género tivesse acontecido do nosso lado, os serviços fronteiriços teriam sido informados”, disse um membro desta força ao jornal “Gazeta Wyborcza”. A maioria dos corpos recuperados desde o verão foram de facto encontrados do lado polaco: sete dos dez mortos conhecidos até hoje, segundo informações coligidas pela France Presse.
Ativistas no terreno, que filmaram alguns dos seus encontros com migrantes para o “Guardian”, mostram que muitas pessoas com problemas urgentes, como os que se relacionam com a saúde, sua e dos seus filhos, temem pedir ajuda porque podem ser assistidos por polícias polacos que os reenviem para a Bielorrússia, como já aconteceu, segundo uma investigação da Amnistia Internacional. No último trabalho do “Guardian” a partir da fronteira vê-se uma família que pede ajuda para um filho com dificuldades respiratórias mas é um ativista que liga a um médico - e o grupo não quer envolver-se com nenhuma autoridade, nem sequer chamar uma ambulância.
Amnistia Internacional diz ter provas do reenvio ilegal de migrantes na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia. A 18 de agosto estavam do lado da Polónia mas a 20 estavam já do lado da Bielorrússia
A Polónia (e toda a UE) acusa o Presidente da Bielorrússia de utilizar estas pessoas para, ao permitir que elas cheguem em grandes números às fronteiras europeias, pressionar os países europeus a aliviar as sanções que lhe impuseram. Aleksander Lukashenko já admitiu isso mesmo, que a UE tem de lidar com o seu tráfico de droga e com os seus fluxos migratórios, já que ele e o seu Governo não continuarão a “prestar esse serviço”.
Em outubro, o parlamento polaco aprovou um novo projeto de lei que permite aos guardas de fronteira expulsar imediatamente os migrantes que entram no país sem documentos, o que quer dizer que os pedidos de asilo podem ser recusados sem serem analisados. O Governo alega que quem quiser pedir proteção tem de procurar entrar por uma zona autorizada de entrada.
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