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Os milhões do “impeachment” de Donald Trump

Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump, no comício em que este pediu uma marcha até ao Capitólio. Também ele ficou sem pagamento quando os seus serviços não satisfizeram o ex-Presidente
Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump, no comício em que este pediu uma marcha até ao Capitólio. Também ele ficou sem pagamento quando os seus serviços não satisfizeram o ex-Presidente
Eric Lee/Bloomberg/Getty Images

Gastos em advogados e em planos de segurança à volta do Capitólio pesam na fatura do julgamento político do anterior Presidente dos Estados Unidos da América. Poucas dúvidas subsistem sobre quem a pagará

Os milhões do “impeachment” de Donald Trump

Ricardo Lourenço

Correspondente nos Estados Unidos

Donald Trump amealhou mais de 300 milhões de dólares (247 milhões de euros) em donativos online desde que perdeu as eleições de 3 de novembro. Permanece por esclarecer, no entanto, se usará parte dessa verba para pagar aos advogados que o defendem no processo de destituição (impeachment) em curso no Senado.

Esta sexta-feira, precisamente, a equipa de defesa do ex-chefe de Estado tenta rebater os argumentos com que os congressistas democratas defenderam a destituição. A votação final deve acontecer nos próximos dias.

“Certamente não caberá ao contribuinte”, diz ao Expresso o professor de Direito Paul Berman, da Universidade de Georgetown. “Durante o primeiro impeachment, em janeiro de 2020, o conselheiro jurídico da Casa Branca fez grande parte do trabalho. Dessa forma, Trump poupou imenso dinheiro. Hoje é um cidadão comum. As regalias acabaram.”

Nesse processo Trump foi impugnado pela Câmara dos Representantes, onde o Partido Democrata tem maioria. No Senado os republicanos, que são maioritários, absolveram-no. A exceção foi o senador Mitt Romney.

A fórmula aplicada há um ano ditava que o Comité Nacional Republicano (CNR), órgão máximo do Partido Republicano, contribuísse para os pagamentos. Na altura, segundo uma reportagem da televisão pública americana (PBS, sigla em inglês), só o escritório de Jay Sekulow, principal representante legal de Trump, recebeu mais de 200 mil dólares (164 mil euros) do CNR entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020.

Clima de violência

“É natural que o CNR esteja a fazer o mesmo”, explica ao Expresso o professor Robert Peck, que leciona na American University, em Washington.

Mesmo que o contribuinte fique a salvo da fatura, outra já está a ser paga, em consequência do clima de violência gerado pelo discurso enfurecido de Trump, logo após as presidenciais. “Falamos da tal narrativa do roubo [da eleição, propagado sem fundamento por Trump], que terá motivado o ataque ao Capitólio”, lembra Peck. O segundo processo de impeachment contra Trump tem por base a acusação de “incitamento à insurreição”.

Fruto dessas circunstâncias, foram gastos 530 milhões de dólares (436 milhões de euros) no reforço dos planos de segurança por todo o país, em reparações de edifícios danificados e na resposta às centenas de processos em tribunal interpostos por funcionários públicos, alegadamente agredidos por apoiantes de Trump.

Neste último caso aqueles que trabalharam nos locais de voto e de apuramento de resultados queixam-se de sucessivas ameaças de indivíduos que insistiam na teoria de que a contagem prolongada dos sufrágios (grande parte dos mesmos foram enviados por correio devido à pandemia) daria azo a batota.

Daqueles 530 milhões de dólares, grande parte serviu para custear a mobilização de 25 mil elementos da Guarda Nacional, que até à tomada de posse de Joe Biden, a 20 de janeiro, protegeram Washington de nova vaga de revoltosos. Desse grupo, cerca de cinco mil permanecerão nas imediações do Capitólio até março.

No resto do país, vários governantes queixam-se do mesmo. Na Califórnia, por exemplo, desembolsaram-se 19 milhões de dólares (15 milhões de euros) para garantir a integridade do Congresso estadual, dada a ameaça de um atentado terrorista. O Ohio despendeu 1,2 milhões (980 mil euros).

Calotes do passado

De volta às despesas privadas de Trump, recorde-se que, no passado, vários advogados queixaram-se de calotes impingidos pelo magnata nova-iorquino. Aparentemente, sempre que um caso não lhe corria de feição, culpava os representantes legais por não terem feito um bom trabalho e recusava-se a pagar-lhes.

Há cerca de um mês, “The Washington Post” revelou que a tática mantém-se. Confrontado com a aprovação do segundo impeachment pela Câmara dos Representantes, em janeiro, Trump insurgiu-se contra o seu advogado pessoal. Rudy Giuliani, também antigo mayor de Nova Iorque, terá ficado sem receber um cêntimo. Ainda segundo aquele diário, Giuliani cobra 20 mil dólares por dia (16 mil euros), uma cifra não confirmada pelo causídico.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: correspondenteusa@expresso.impresa.pt

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