Exclusivo

Internacional

Donald Trump em silêncio enquanto prepara “vingança”

Banido do Twitter, o ex-Presidente não intervém em público desde que deixou o cargo, a 20 de janeiro
Banido do Twitter, o ex-Presidente não intervém em público desde que deixou o cargo, a 20 de janeiro
CARLOS BARRIA/Reuters

Fechado em Mar-a-Lago, sua residência na Florida, o ex-Presidente dos Estados Unidos reaparecerá assim que o processo de destituição termine, com previsível desfecho a seu favor. Com 300 milhões de dólares amealhados desde novembro, Trump atuará contra quem não lhe foi fiel

Donald Trump em silêncio enquanto prepara “vingança”

Ricardo Lourenço

Correspondente nos Estados Unidos

À medida que avança o segundo processo de impeachment contra o anterior Presidente dos Estados Unidos da América, o ‘mundo Trump’ emudece. Do ex-chefe de Estado aos seus assessores, conselheiros, passando pelos facilitadores (caso dos pivôs da noite televisiva da Fox News), todos se esforçam por ignorar em público o que se passa no Senado.

Exemplo disso, na terça-feira, primeiro dia do processo, Tucker Carlson preferiu utilizar o seu programa na Fox News, entre as 20h às 21h locais, para questionar a segurança das novas vacinas contra a covid-19, mergulhando em teses conspirativas.

De todos os silêncios, o mais ensurdecedor será o do próprio Trump, acusado de incitar a invasão do Capitólio (sede do Congresso, em Washington), no passado dia 6 de janeiro. Desde que saiu da Casa Branca, a 20 de janeiro, iniciou uma espécie de clausura.

“Pode não ter o Twitter [a rede social expulsou-o após o ataque ao Capitólio], mas seria de esperar que estivesse quase todos os dias no programa de Sean Hannity [outro pivô da Fox]”, diz ao Expresso Kirsten Kukowski, ex-dirigente do Comité Nacional Republicano, órgão máximo do partido de Trump.

Calado para não perder apoios

A razão da acalmia prender-se-á com o futuro a curto prazo do “trumpismo”. O magnata nova-iorquino quererá assegurar-se de que o impeachment corre de feição para, posteriormente, voltar a assumir protagonismo na política americana.

O único elemento próximo de Trump que respondeu aos contactos do Expresso foi Jason Miller. Os telemóveis da assessora Hope Hicks, braço-direito do ex-Presidente, e de Steve Bannon, outrora seu estratego, mantêm-se desligados. “O Presidente Trump quer dar a oportunidade ao seu sucessor de se concentrar nos problemas do país”, explicou Miller de forma sucinta.

Questionado sobre o que Trump pretende fazer com os mais de 300 milhões de dólares (247 milhões de euros) amealhados desde as eleições de novembro, fruto de doações online, Miller recusou tecer qualquer comentário. Vários media americanos especulam que parte da verba transitará para a campanha eleitoral de 2022. É previsível que Ivanka Trump, filha de Donald, concorra ao Senado, desafiando o também republicano Marco Rubio na Florida.

Convicto da absolvição

Desconhecem-se os planos de longo prazo de Trump. Nos próximos tempos “a palavra-chave é vingança”, afirmou George Stephanopoulos, pivô do programa matinal “Good Morning America”, da CBS, citando um conselheiro do ex-Presidente.

“De Bannon a Trump, estão todos convencidos de que a responsabilidade pelo ataque ao Capitólio cabe apenas aos milhares que lá estiveram”, alegou Stephanopoulos, jornalista e ex-operacional do Partido Democrata.

Para Trump ser condenado pelo Senado e potencialmente impedido de voltar a candidatar-se à presidência, são necessários 67 votos (dois terços da câmara alta). Para isso teria de haver 17 senadores republicanos dispostos a votar com os 48 democratas e dois independentes que apoiarão a destituição. Numa votação preliminar sobre a constitucionalidade do processo, apenas seis republicanos votaram contra Trump, o que sugere que não haverá 17 dispostos a fazê-lo na votação final.

“Trump está de olhos postos nos poucos senadores republicanos que ousarão votar a favor do impeachment. Quando o julgamento terminar, Trump irá regressar para reassumir o controlo do Partido Republicano. Os críticos que se cuidem”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: correspondenteusa@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate