Foram precisos apenas minutos para que Donald Trump e respetiva máquina de campanha reagissem à escolha de Kamala Harris para vice-Presidente do Partido Democrata na corrida presidencial, cuja votação está marcada para 3 de novembro.
No Twitter, no site da campanha e em conferência de imprensa, Trump acusou Harris de “contar muitas, muitas histórias que não são verdade”, de preparar-se para “destruir a América” e repetiu um adjetivo que dirigiu a Hillary Clinton na campanha de 2016: “nasty” (“desagradável”).
Donald Trump diz que está surpreendido com a escolha de Kamala Harris, a primeira mulher negra presente numa corrida à Casa Branca, antes de mais por causa do adversário democrata. “Ela foi muito, muito desagradável… ela foi provavelmente mais desagradável do que a Pocahontas [é assim que Trump se refere a Elizabeth Warren] para Joe Biden. Foi muito desrespeitosa com Joe Biden. E é difícil escolher alguém que é tão desrespeitoso.”
Pré-candidata do partido, Harris, atual senadora pela Califórnia, desistiu alegando “falta de fundos” para prosseguir a campanha, não sem antes se tornar uma das mais críticas vozes internas de Biden.
No primeiro debate das primárias, a senadora recuou ao passado do ex-vice de Barack Obama para o criticar pela oposição ao “school busing”, o sistema de transporte de crianças entre a escola e o local onde vivem, criado para combater a segregação racial no ensino. No vídeo publicado por Trump no Twitter, essa referência aparece no conjunto de comentários sobre Harris. “Atacou Biden por causa de políticas racistas.”
No púlpito da Casa Branca, minutos depois do anúncio da campanha do Partido Democrata, Trump reforçou. “Ela disse coisas horríveis nos debates das primárias.” E lembrou por que motivo prefere o seu vice-Presidente, Mike Pence. “Ele é firme como uma pedra. Tem sido um vice-Presidente fantástico, tem feito tudo o que se pode fazer. É respeitado por qualquer grupo religioso.”
A ameaça da “esquerda radical”
Sem especificar, o vídeo que Trump reproduziu no Twitter fala também na vontade de Kamala Harris cobrar “triliões de novas taxas”. E usa uma expressão — a da “esquerda radical” — em que o Presidente tem insistido para descrever a campanha democrata e que irá reforçar com a escolha de Harris, cujas votações no Senado a colocam como uma das vozes mais à esquerda do partido [aqui é possível perceber isso mesmo — Harris fica apenas atrás de Warren, que também chegou a ser hipótese para vice].
“Biden nada mais é do que um cavalo de Tróia para a agenda da extrema esquerda radical, e Phony Kamala está ansioso para preencher a sua concha vazia”, lê-se numa das mensagens da campanha do republicano, intitulada “Joe Biden e Kamala Harris vão destruir a América”, disponível no site Donald J. Trump. Os nomes com que os concorrentes democratas são descritos foram criados pelo próprio chefe da Casa Branca, que se refere frequentemente ao principal adversário como “Sleepy Joe” [“Joe Sonolento”] e a agora vice Harris como “Phony Kamala” [“Kamala Falsa”]
Na declaração aos jornalistas, Donald Trump também aludiu à ideia de radicalização à esquerda para descrever a escolhida de Biden. “Pelo que percebo, ela é conhecida como a pessoa mais liberal do Senado norte-americano e achei que Biden se ia afastar um bocadinho disso.”
O atual Presidente exemplificou-o recorrendo a dois temas-chavão: a imigração e as armas. “Porque o que eles estão a fazer com fronteiras abertas, a tentar proteger ‘cidades-santuário’ [que têm regras próprias no acolhimento e proteção de imigrantes] é também proteger um grande número de criminosos.” E voltou a referir a Segunda Emenda, a lei que garante o direito de posse e porte de armas. “Eles querem acabar com a vossa Segunda Emenda ou modificá-la a um ponto em que ela deixa basicamente de ser a Segunda Emenda.”
“Eu achei que ele [Biden] iria por um caminho diferente”, rematou.
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