O primeiro marido da escritora JK Rowling, um português chamado Jorge Arantes, faz hoje manchete no diário britânico "The Sun". O título é uma alegada afirmação dele: "Esbofeteei JK e não estou arrependido" (I slapped JK and I'm not sorry).
A manchete foi instantaneamente criticada por organizações que fazem campanha contra a violência doméstica, as quais acusam o jornal de dar voz a um abusador (Arantes admite as bofetadas mas diz que nunca abusou de Rowling, segundo o jornal "The Sun").
Várias deputadas subscreveram essa crítica, incluindo a trabalhista Jess Phillips, que descreveu a manchete como "horrível" no Twitter. Outra deputada lamentou a forma como as vítimas de abusos continuam a ser tratadas na imprensa tablóide.
Rowling, que viveu no Porto há quase trinta anos, onde ensinou inglês e começou a conceber as histórias de Harry Potter, teve um casamento breve com Arantes, do qual resultou uma filha que tem hoje 27 anos.
A escritora explicou que nunca quis falar em concreto da violência de que foi objeto por causa da filha. Mas agora, envolvida numa polémica resultante de um comentário que fez na internet, resolveu explicar que o facto de ter sido vítima de abuso justifica as preocupações que estão na raiz desse comentário.
Especificamente, Rowling tinha ironizado com o título de um artigo que falava de "pessoas que têm menstruação", em vez de dizer 'mulheres' (women). Rowling escreveu: "Tenho a certeza de que costumava haver uma palavra para essas mulheres. Alguém me ajude. Wumben? Wimpund? Woomud?".
Acusada de transfobia supostamente por negar que quem não nasceu biologicamente mulher não é mulher, ou vice-versa - o autor Daniel Radcliffe, que interpretou Harry Potter no cinema, juntou-se às vozes que deploraram o comentário - Rowling defendeu-se afirmando que "se o sexo não é real, não existe atração entre o mesmo sexo".
"Se o sexo não é real, a realidade vivida das mulheres globalmente é apagada", continuou. "Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitas para discutirem as suas vidas com sentido. Não é ódio dizer a verdade".
Agora Rowling reforçou a sua defesa, lamentando que pessoas abusadas como ela foi sejam acusadas de "preconceituosas por terem preocupação com lugares uni-sexo". Acrescentou que conseguiu escapar ao seu violento primeiro casamento com dificuldade, mas que neste momento é casada com um homem "bom e com princípios".
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