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1940 - Diário de uma Invasão: cruzadores ao ataque (dia 30)

Aviões britânicos atacando navios alemães nos mares da Noruega
Aviões britânicos atacando navios alemães nos mares da Noruega

Enquanto a situação se agravava em França, as operações militares na Noruega, que nunca tinham corrido bem aos aliados, terminam com um ataque devastador alemão a um comboio naval britânico

ACONTECIMENTO: Navios ao fundo

O ataque dos cruzadores alemães Scharnhorst e Gneisenau a comboios navais britânicos que regressavam da Noruega faz do dia 8 de Junho de 1940 um dia negro para a marinha britânica. Num primeiro momento são afundados três transportes de tropas, sem baixas de maior uma vez que se encontravam vazios. Mas logo depois os dois navios de guerra tomam como alvos o porta-aviões Glorious que transportava aviões que tinham operado nos céus da Noruega, bem como dois contratorpedeiros que o escoltavam. Os três vão ao fundo e dos 1500 marinheiros aliados apenas meia centena sobreviveu. Enquanto isto acontecia, passava sem problemas outra força naval aliada que escoltava as tropas recolhidas após a efémera conquista de Narvik e incluía o contratorpedeiro Devonshire que trazia a família real norueguesa e as reservas de outro do país. Nenhum dos dois navios de guerra alemães chegará ao fim da guerra: o Scharnhorst será afundado em combate no mar de Barents (Ártico) em 1943 e o Gneisenau sabotado pela sua tripulação em 1945 para bloquear o acesso soviético ao porto polaco de Gdansk.

Cruzador alemão Scharnhorst visto do seu homólogo Gneisenau
ullstein bild Dtl.

CONTEXTO: Uma campanha que correu mal

Nesta fase da guerra a superioridade naval britânica revela-se mais teórica que real. O apoio da Royal Navy às operações na Noruega, iniciadas em Abril como reacção à invasão alemã, nunca for completo, permitindo, numa série de momentos, a conquista da superioridade naval pelos alemães. Estes, além de uma frota de submarinos que começa a ganhar cada vez maior importância, têm navios de guerra ultra modernos que superam quase todos os seus equivalentes britânicos, caso, além dos dois citados, dos couraçados, Tirpitz e Bismarck. Se este último virá a ser alvo de uma caça impiedosa que só se concluirá em 1941 com o seu afundamento, o Tirpitz sobreviverá quase até ao fim da guerra, apenas sendo afundado por um bombardeamento aéreo britânico na Noruega em Novembro de 1944.

Nesta fase da guerra naval o único grande sucesso britânico tinha sido a caça ao cruzador pesado Admiral Graff Spee que, cercado no porto uruguaio de Montevideu e sem perspectivas de romper o bloqueio, fora afundado pela própria tripulação em Dezembro de 1939.

Navios britânicos em acção
ullstein bild Dtl.

E AINDA: Ilusões sucessivas

No início da II Guerra Mundial a frota britânica parecia invencível, quer pelo seu número, quer por, ao contrário da Alemanha e da Itália, possuir porta-aviões. Contudo, a Royal Navy revelou-se mais vulnerável que o esperado aos ataques de submarinos, exemplificado pelo afundamento do couraçado Royal Oak em Outubro de 1939 na base naval de Scapa Flow ou do cruzador Corageous no Canal da Mancha em Setembro desse ano. Os próprios porta-aviões mostraram fraquezas, evidenciadas pelo afundamento do Glorious em águas da Noruega, até porque de início apenas transportavam aviões ultrapassados como os biplanos torpedeiros Swordfish, não estando adaptados à operação de aeronaves mais modernas como os Hurricanes.

O estado-maior naval alemão depositava grandes esperanças nos seus couraçados e cruzadores modernos mas estes serão sempre poucos para estorvar o tráfego comercial aliado e alguns depressa se perderão como o Admiral Graff Spee e o Bismarck. Restavam os submarinos, mas como utilizá-los de forma eficaz?

Com a conquista da França em Junho de 1940 e o acesso a bases navais como Saint Nazaire ou Lorient as águas do Atlântico Norte vão abrir-se aos submarinos alemães, ainda que de início estes sejam poucos e receiem os sistemas de detecção submarina dos contratorpedeiros britânicos. Mas com as perdas sofridas na campanha da Noruega, os britânicos na primeira fase da Batalha do Atlântico não conseguirão ter suficientes navios de escolta com capacidade anti-submarina para contrariar a ameaça aos comboios navais que transportavam mantimentos ou material de guerra vindos dos EUA. E isto irá deixar os alemães à beira de cortarem as rotas de abastecimento britânicas, situação que só se inverterá a partir de 1943 com a entrada em cena de mais navios de escolta e de aeronaves com autonomia para sobrevoar todo o Atlântico Norte dia e noite, equipadas com radar.

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