As autoridades chinesas anunciaram esta segunda-feira que o número de mortos resultante do surto de coronavírus subiu para 80. O total de casos confirmados em todo o país chega agora aos 2.744.
Embora não haja novas mortes confirmadas fora da província de Hubei, o valor nacional de infeções verificadas aumentou em 769, cerca de metade delas naquela província do centro do país, cuja capital, Wuhan, é considerada o epicentro do coronavírus.
Ainda segundo a Comissão Nacional de Saúde, 461 dos infetados encontram-se em estado grave.
Feriado do Ano Novo prolongado
A China prolongou por três dias o feriado do Ano Novo Lunar, até 2 de fevereiro, para desencorajar viagens e tentar conter a propagação do coronavírus.
Dezenas de milhões de chineses que visitaram as suas cidades natal ou pontos turísticos deveriam regressar a casa esta semana no maior movimento de pessoas a nível mundial que se repete todos os anos, aumentando o risco de o vírus se espalhar em comboios e aviões lotados.
Primeiro-ministro chinês visita epicentro da epidemia
A China isolou Hubei numa operação sem precedentes que afeta dezenas de milhões de pessoas e visa retardar a transmissão do vírus respiratório.
Em comunicado, o Governo de Pequim justificou as medidas com a necessidade de “reduzir eficazmente as reuniões em massa” e “bloquear a propagação da epidemia”. As escolas adiaram a sua reabertura até novo aviso.
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, visitou Wuhan esta segunda-feira para verificar os esforços em curso para conter a epidemia, tendo falado com pacientes e pessoal médico, acrescentou o Governo.
Foram confirmados casos nas regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong, onde os locais de comemoração do Ano Novo Lunar deram lugar a centros de quarentena. Também há casos confirmados em Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Austrália e Canadá.
Coreia do Sul confirma quarto caso de infeção
Foram impostas restrições drásticas de viagens para lá do epicentro. A província de Shandong e as cidades de Pequim, Xangai, Xiam e Tianjin anunciaram a proibição de entradas e saídas de autocarros em viagens de longa distância.
As províncias de Jiangxi e Cantão, esta situada no sul do país, tornaram obrigatório o uso de máscaras em locais públicos.
Pensa-se que o vírus tenha tido origem no final do ano passado num mercado de marisco de Wuhan que também comercializa animais selvagens.
A Coreia do Sul acaba de confirmar o seu quarto caso de coronavírus. Casos dispersos foram também confirmados na Tailândia, Taiwan, Japão, EUA, Vietname, Singapura, Malásia, Nepal, França, Canadá e Austrália.
Autoridades chinesas começaram a desenvolver vacina
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde informou este domingo que o caso suspeito de infeção em Lisboa foi negativo, na sequência da realização de análises laboratoriais. Trata-se de um homem que tinha regressado de Wuhan na véspera e que foi internado no Hospital Curry Cabral em situação estável.
Ainda no domingo, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês noticiou que o país começou a desenvolver uma vacina contra o coronavírus.
De acordo com o “Diário do Povo”, o cientista Xu Wenbo, do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças, disse que este centro já está a desenvolver uma vacina contra a epidemia “depois de isolar com sucesso a primeira estirpe do vírus”.
Sinólogo defende que doença expõe problemas sistémicos de crescente rigidez do poder na China
Um sinólogo da Universidade Renmin em Pequim defendeu que a crise do coronavírus, que está a paralisar a China, expõe "falhas estruturais profundas" no modelo de governação, face à crescente rigidez do poder.
"O sistema político do país é frágil e precisa de mais transparência, elasticidade e agilidade para identificar desafios", disse à Lusa o sinólogo italiano Francesco Sisci, professor na Universidade Renmin, em Pequim.
Em pouco mais de um ano, Pequim passou a enfrentar uma custosa guerra comercial com os Estados Unidos, a pior crise política em Hong Kong em várias décadas, um surto de peste suína que fez disparar a inflação, ou a vitória nas eleições presidenciais em Taiwan do partido pró-independência da ilha.
"Todos estes desafios têm raízes no sistema chinês", comentou Sisci. A "falta de transparência" torna "muito difícil" para a liderança em Pequim "avaliar a realidade de qualquer ameaça e reagir rapidamente", resumiu.
A guerra comercial com Washington e os protestos que há meses abalam Hong Kong foram negligenciados pelo Governo central, em resultado da "rigidez e incapacidade de entender o cenário global", enquanto a peste suína e o novo coronavírus refletem "falhas estruturais" na produção alimentar, acrescentou o académico, que em 1988 começou a fazer investigação na Academia Chinesa de Ciências Sociais.