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As mentiras ditas por Donald Trump em 2019 — uma por cada mês

As mentiras ditas por Donald Trump em 2019 — uma por cada mês
Leah Millis/Reuters

A contabilidade, ainda por fechar, aponta já para quase três mil mentiras ou exageros ditos pelo presidente norte-americano ao longo do ano. A partir deles, a CNN compilou uma lista de 12 mentiras especialmente graves, frequentes ou bizarras, ao ritmo de uma por mês

A contabilidade da imprensa norte-americana ainda não está fechada, mas o número de declarações falsas feitas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, não deverá andar longe de três mil. Isto só em 2019, terceiro de quatro anos de um mandato que até poderá ser renovado nas presidenciais de novembro deste ano, na qual só uma grande surpresa impediria Trump de ser o candidato do Partido Republicano.

Entre o leque de declarações falsas incluem-se malabarismos mais ou menos inocentes ou inócuos, alguns exageros, mas também mentiras deliberadas, com objetivos concretos, como o de se defender do processo de destituição aberto no final do ano. O trabalho jornalístico tem estado, por isso, especialmente ativo e a CNN fez uma compilação das 12 mais relevantes, que abaixo lhe mostramos.

Janeiro

O combate à imigração foi uma das bandeiras da campanha de Trump, pelo que não espanta o fervor com que se referiu ao tema logo no American Farm Bureau Federation (organização que representa empresas do sector agrícola), a 14 de janeiro deste ano. Para reforçar o apoio à ideia de construir um muro na fronteira entre EUA e México, disse que o tráfico humano é feito com mulheres presas com fita adesiva. “Eles [traficantes] prendem as suas bocas, os seus cabelos, as suas mãos por trás das costas, as suas pernas. Põem-nas nos bancos de trás dos carros e das vans, e vão”. Trump disse que os traficantes não passavam pelos portos de entrada do país, que são vigiados, porque seriam identificados. “Eles entram pelas fronteiras onde não temos barreiras ou muros”, acrescentou o Presidente.

Acontece que os especialistas em tráfico humano apontam que a maioria das mulheres latinas vítimas desse tráfico entra nos EUA legalmente, com um visto para o efeito. As que entram ilegalmente não o fazem amarradas ou amordaçadas, nem são conduzidas em zonas remotas ou não vedadas.

Fevereiro

Um caso de fraude eleitoral em eleições locais na Carolina do Norte abalou aquele estado norte-americano no segundo mês do ano, levando à repetição do plebiscito ocorrido ainda em 2018 e à condenação de um funcionário do Partido Republicano, Leslie Dowless Jr. Confrontado com o caso numa conferência de imprensa, Trump respondeu que condena “qualquer fraude eleitoral” e sugeriu ao jornalista que olhasse para “o que aconteceu na Califórnia” nas eleições de 2016, em que foi eleito (perdeu naquele estado). “Como sabe”, prosseguiu, “houve um caso em que encontraram um milhão de votos fraudulentos...”, disse. A afirmação foi imediatamente desmentida pelo jornalista — Trump escapou com um “com licença, com licença” e uma mudança de tema.

Ao canal NBC, já em junho, ensaiou a mesma acusação, mas também aí a mesma foi desvalorizada pelo jornalista, que falava sobre o facto de Trump ter perdido no voto popular nessa eleição de 2016 — “há muitos votos em que não acredito”, diz, ao minuto 28.25 deste vídeo. Até hoje, não há qualquer evidência de fraude na contagem dos votos no estado da Califórnia, nos últimos 30 anos afeto ao Partido Democrata.

Março

As acusações aos jornalistas de propagarem fake news são comuns no discurso de Trump, que disse em março que estava “a brincar” durante a campanha de 2016, quando pediu à Rússia que ajudasse a descobrir novos e-mails de Hillary Clinton. Recorde-se que essa foi uma das armas contra a candidata democrata, de quem se descobriu ter enviado 30 mil e-mails de um servidor pessoal enquanto era Secretária de Estado. Com alguns e-mails ainda por descobrir, Trump pediu apoio russo — “Rússia, se estás a ouvir” foi a frase que ganhou fama.

Em março deste ano chamou-lhe fake news. “Se você contar uma piada, se for sarcástico, se estiver a divertir-se com o público, se estiver na televisão ao vivo com milhões de pessoas e 25 mil pessoas numa arena, e disser algo como: ‘Rússia, por favor, se puder, envie-nos os e-mails de Hillary Clinton. Por favor, Rússia, por favor. Envie-nos os e-mails. Por favor!’... Todos se divertem. Eu estou a rir, estamos todos a divertir-nos. E vem a CNN falsa e outros dizer ‘Ele pediu à Rússia para receber os e-mails. Horrível’”, disse.

AQUI pode ver o momento em que tudo aconteceu e perceber se o tom era de brincadeira.

Abril

Há muito numa cruzada contra as turbinas eólicas, Trump disse num Congresso Republicano: se alguém morar perto de uma “parabéns — o valor da sua casa caiu 75%”. As turbinas eólicas, a que chama “moinhos de vento”, fazem um “barulho que provoca cancro”, terá dito uma fonte não identificada ao Presidente (que usou a palavra “eles dizem”, sem dizer quem diz). Não há qualquer evidência de que isso esteja sequer perto de ser verdade.

Maio

Sobre um programa chamado Veterans Choice, que facilita o acesso a cuidados de saúde a veteranos de guerra, o Presidente já tinha mentido algumas vezes, arrogando-se como criador de uma lei, na realidade assinada em 2014 por Barack Obama. Em maio, não só insistiu na ideia, como acusou John McCain, ele próprio veterano de guerra, de nunca ser capaz de aprovar um programa como aquele. Na verdade, apesar de não o ter criado, Trump até assinou uma lei sobre o programa Choice, que permitiu expandi-lo e modificá-lo, e que foi uma homenagem a alguém que lutou pelo programa e que morreu nesse mesmo 2018 — John McCain.

John McCain morreu em agosto de 2018
William Thomas Cain/Getty

Junho

A mentira de junho até parte de um trunfo de Trump: a devolução por parte da Coreia do Norte de restos mortais de soldados norte-americanos que combateram na guerra da Coreia. Só que o azedar das relações entre os dois países fez o regime de Kim Jong-un parar com as devoluções. Não fez com que Trump o admitisse, o que deu falsas esperanças a milhares de famílias de soldados americanos. A 25 de junho, dias antes do histórico encontro com o líder norte-coreano, falou nos restos mortais dos heróis que “estão a voltar” e já o Pentágono tinha anunciado em maio a suspensão do programa. O mesmo fez numa entrevista a 17 de junho, mesmo com o entrevistador a dizer-lhe que esses restos tinham deixado de regressar.

Julho

Sobre a deputada republicana Ilhan Omar, norte-americana nascida na Somália, Trump disse que se riu dos americanos por causa da forma como falam da Al-Qaeda. O presidente norte-americano acusou ainda a congressista do Minnesota de “jurar amor” à organização terrorista responsável pelos ataques do 11 de Setembro, de dançar a comemorar o aniversário desses ataques, e de usar a frase “judeus maus”. Todas as alegações são falsas, o que levou a uma resposta conjunta de outras deputadas democratas infundadamente visadas.

Ilhan Omar foi uma das congressistas democratas alvo das acusações falsas de Donald Trump
Stephen Maturen/GETTY IMAGES

Agosto

Donald Trump alegou frequentemente que a China estaria a pagar tarifas aduaneiras adicionais sobre produtos importados pelos EUA, declarações desmentidas pelos empresários e pelo próprio Trump, que em setembro adiou a imposição do pagamento dessas tarifas por uma questão de “boa vontade”. Porém, em agosto: “Nós não estamos a pagar as tarifas: a China está a pagar as tarifas, pela centésima vez”, repetiu. Só em agosto, altura em que se intensificava a guerra comercial entre EUA e China, Trump disse-o 20 vezes.

Setembro

O furacão Dorian provocou estragos em alguns estados norte-americanos, nenhum dos quais o Alabama. Porém, Trump alarmou no Twitter, e em letras capitais, os habitantes da região, afirmando que a passagem iria ser “mais dura do que o previsto”. O próprio Serviço Nacional de Meteorologia do estado respondeu, também no Twitter, desmentindo o Presidente, que insistiu na mentira dias depois apresentando um mapa adulterado da região. O furacão Dorian, que passou pelos EUA — com especial intensidade por Flórida e Geórgia —, e pelo Canadá e que causou dezenas de mortes nas Bahamas, não teve qualquer expressão no Alabama.

Outubro

Um dos meses mais difíceis para o Presidente norte-americano, com o início das investigações que levaram ao processo de destituição que está agora em aprovação no Senado (e onde não deverá passar). Entre outras, a declaração falsa mais repetida por Trump sobre o caso é a de que o denunciante estaria a mentir. Porém, as alegações do whistleblower provaram estar corretas pouco tempo depois, levando ao impeachment agora em curso.

As denúncias indiciaram pressões de Donald Trump sobre as autoridades ucranianas para que fosse investigado o ex-vice-Presidente e candidato democrata Joe Biden e a sua família por suposta corrupção.

Novembro

Em outubro, Trump tinha anunciado a retirada total das tropas norte-americanas da Síria, o que não veio a acontecer. Mas a 22 de novembro, já depois de o próprio dizer que afinal não seriam todos os militares a vir embora, repetiu que os americanos já lá não estavam. Brian Kilmeade, da Fox News, canal que não é conhecido por desmentir Trump, perguntou: “mas nós temos lá 600 tipos, certo?”. O número de Kilmeade estava certo, exceto por outros 100 militares no nordeste da Síria.

Não foi a primeira vez que Trump afirmou que não havia militares norte-americanos naquele país asiático.

Dezembro

Num tema completamente diferente, a CNN lembra que Donald Trump mentiu nas referências a eletrodomésticos. No caso, a máquinas de lavar louça. Contestado por uma lei que os especialistas acusam de ser danosa para o ambiente, respondeu com comparações falaciosas entre máquinas de lavar modernas e antigas. Trump afirmou que as mais recentes obrigam a carregar 10 a 12 vezes num botão para iniciar o trabalho, que gastam mais água e mais eletricidade que as antigas.

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