O Presidente dos EUA, Donald Trump, disse esta segunda-feira que algumas tropas americanas vão permanecer na Síria, apesar do anúncio anterior de uma retirada total. As declarações são feitas um dia depois de o secretário norte-americano da Defesa, Mark Esper, ter confirmado que todas as tropas dos EUA que estão a abandonar o norte da Síria seriam transferidas para a parte ocidental do Iraque.
Trump tem repetido a promessa de fazer regressar os soldados americanos a casa.
Há duas semanas, as tropas da Turquia e os combatentes sírios apoiados por Ancara lançaram uma ofensiva no nordeste da Síria escassos dias depois de Trump ter anunciado que iria retirar as tropas americanas do local – na prática, abrindo caminho à ofensiva turca.
A operação de Ancara visa as Forças Democráticas Sírias (SDF), formadas por curdos financiados e treinados pelos EUA desde 2015 para combaterem o Daesh. Os curdos conseguiram derrotar o autoproclamado Estado Islâmico em março, perdendo 11 mil soldados. No entanto, Ancara alega que o maior grupo das SDF, as Unidades de Proteção Popular (YPG), é constituído por terroristas ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que luta há décadas contra o Estado turco.
A decisão de Trump de abandonar as SDF perante um iminente ataque turco tem sido amplamente criticada, mesmo pelos seus aliados mais indefetíveis, e descrita como uma traição a um parceiro militar dos EUA. A medida terá como consequências mais um desastre humanitário e um possível ressurgimento do Daesh, sublinham os críticos.
Cessar-fogo termina ao início da noite
O cessar-fogo de cinco dias, acordado para permitir a retirada de forças lideradas pelos curdos, termina esta terça-feira às 22:00 locais (menos duas horas em Lisboa). Trump não descartou a possibilidade de uma extensão da trégua.
Desde o início do conflito, mais de 300 mil pessoas terão fugido das suas casas.
Ainda esta terça-feira, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reúne-se com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, para conversações sobre a ofensiva turca na Síria. “Vamos iniciar este processo com Putin e depois tomaremos as medidas necessárias”, declarou Erdogan.
De acordo com o site do Kremlin, o encontro irá realizar-se na cidade russa de Sochi e incidirá sobre tópicos relacionados com “o combate a grupos terroristas internacionais e a promoção de um processo de estabilização política” na Síria.
Apesar da promessa de Trump, contingentes dos EUA no mundo engordam
Trump voltou esta segunda-feira a defender a sua decisão de retirada das tropas. “Porquê colocar os nossos soldados no meio de dois grandes grupos, possivelmente centenas de milhares de pessoas, a lutar? Não me parece. Fui eleito com a promessa de trazer os nossos soldados de volta para casa.”
Em simultâneo, o Presidente referiu que Israel e a Jordânia lhe haviam pedido que deixasse um pequeno contingente numa “secção totalmente diferente da Síria”. Noutra parte do país, as forças americanas são necessárias para “assegurar o petróleo”, acrescentou.
Nas contas da BBC, há cerca de 200 mil tropas americanas posicionadas em zonas de conflito em todo o mundo. Desde maio, o contingente americano no Golfo aumentou em 14 mil soldados, na sequência de ataques a petroleiros cuja responsabilidade os EUA atribuem ao Irão. Além disso, o Pentágono anunciou já este mês que cerca de três mil soldados americanos seriam enviados para “melhorar a defesa da Arábia Saudita”.
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