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São estas as seis perguntas duras a que o húngaro Olivér Várhelyi vai ter de responder para se tornar (ou não) comissário europeu

São estas as seis perguntas duras a que o húngaro Olivér Várhelyi vai ter de responder para se tornar (ou não) comissário europeu
Thierry Monasse/Getty

Audição do húngaro Olivér Várhelyi não convenceu. Eurodeputados da comissão para os Assuntos Externos do Parlamento Europeu hesitam em dar luz verde ao comissário nomeado pelo Governo de Viktor Orban e pedem-lhe que responda primeiro a novas questões. Mantêm-se as dúvidas sobre se será independente face a Budapeste. O Expresso teve acesso às perguntas que Várhelyi ainda tem de responder. São bastante duras e estão traduzidas neste texto

São estas as seis perguntas duras a que o húngaro Olivér Várhelyi vai ter de responder para se tornar (ou não) comissário europeu

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

São estas as seis perguntas duras a que o húngaro Olivér Várhelyi vai ter de responder para se tornar (ou não) comissário europeu

Ana França

Jornalista da secção Internacional

O Expresso teve acesso às perguntas que o Comité preparou para Várhelyi e o foco é claramente nas suas possíveis ligações ao governo que atualmente lidera a Hungria.

  1. Sente-se vinculado ou influenciado no exercício das suas futuras funções como Comissário, incluindo pelas declarações que o seu primeiro-ministro fez sobre seu papel e a declaração feita no Conselho Turco em Baku, em 15 de outubro de 2019? [Viktor Orbán defende que a Hungria pode ser a ligação entre a Turquia e a UE]

  2. Como avaliaria uma situação em que um governo da UE concedesse asilo a algum ex-primeiro-ministro condenado de um país do alargamento?

  3. Como vê a recomendação do Parlamento Europeu em adotar um regime específico de sanções aos Estados que interferem nos direitos humanos, atualmente em discussão no Conselho e como contribuirá para sua rápida adoção?

  4. No caso de um país do alargamento limitar o espaço dos partidos da oposição, controlar quase completamente os meios de comunicação nacionais, forçar os juízes a aposentarem-se precocemente, restringir a liberdade académica e não combater o crime organizado e a corrupção, o que recomendaria como comissário?

  5. Após a sua declaração na qual deu prioridade ao desenvolvimento económico, ao investimento estrangeiro e à gestão de migração em relação aos vizinhos do sul [Argélia, Egito, Israel, Jordânia, Líbia, Marrocos, Autoridade Palestina, Síria e Tunísia], que apoio prestará à sociedade civil nesses países parceiros? E está disposto a comprometer-se a suspender a prestação de assistência por meio de apoio orçamental aos governos que violem os direitos humanos, incluindo, entre outros, os direitos dos defensores dos direitos humanos e os direitos dos migrantes e refugiados e minorias religiosas?

  6. Na sua opinião, qual deve ser o nível de apoio do IPA [Assistência Pré-Adesão] aos Balcãs Ocidentais? Acredita na redução do IPA e outros apoios financeiros à Turquia? Quais são os seus planos para mitigar e reduzir influências externas nos Balcãs Ocidentais?

Os eurodeputados ainda não estão convencidos de que Olivér Várhelyi é o homem certo para ser comissário com a pasta da “vizinhança e alargamento”. O diplomata não dissipou as dúvidas durante a audição desta quinta-feira na comissão parlamentar para os Assuntos Externos (AFET) e vai ter de responder a mais perguntas, desta vez por escrito. Serão analisadas pelos coordenadores dos vários grupos políticos na AFET na próxima segunda-feira.

Se então vier a ser chumbado, pode levar a novo adiamento da tomada de posse da nova Comissão de Ursula von der Leyen. A votação de toda a equipa no hemiciclo de Estrasburgo está prevista para 27 de novembro e a entrada em funções para o primeiro dia de dezembro.

Para maioria dos deputados, não chegaram as mais de três horas de explicações que o atual embaixador da Hungria na UE ofereceu. Socialistas Europeus, Liberais, Verdes e a Esquerda Unitária juntaram-se para adiar a aprovação e pedir mais garantias.

O grupo do Partido Popular Europeu - a que pertence o Fidesz de Viktor Orbán - e os restantes partidos que apoiaram Várhelyi não foram suficientes para garantir a maioria de dois terços exigida.

O diplomata húngaro prometeu perante a comissão parlamentar que iria agir de forma independente em relação ao Governo de Viktor Orbán. Mas não foi suficiente. Entre as preocupações dos eurodeputados estão a proximidade de Orbán à Rússia e o risco de desrespeito pelo Estado de Direito.

Foi o próprio Parlamento Europeu quem desencadeou o procedimento ainda em curso contra a Hungria, por dúvidas quanto ao respeito pelos valores europeus. Valores que Várhelyi terá de verificar se estão a ser cumpridos pelos países candidatos à adesão ao bloco europeu.

Em comunicado, o Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas explicou por que razão ainda não deu luz verde.

“Sem dúvida que Várhelyi é um diplomata muito experiente mas não nos convenceu. Temos de saber qual é de facto a sua visão quanto aos restantes países do leste e do sul nestes tempos de provação. Continuamos comprometidos com o alargamento da UE e temos de ter certezas que esta pasta da maior importância fica nas melhores mãos”, disse Tonino Picula.

O coordenador socialista na AFET expressa ainda a preocupação com as possíveis ligações deste diplomata ao país que até aqui serviu. “Gostaríamos de ter da sua parte a promessa escrita de que as suas ações como Representante Permanente da Hungria na UE não vão interferir nos seus compromissos futuros.”

Na segunda-feira, as respostas escritas deverão ser analisadas. Se os coordenadores da AFET não ficarem satisfeitos podem ainda chamá-lo para uma nova audição de hora e meia.

Já os comissários indicados pela França e Roménia podem respirar de alívio. Esta quinta-feira, Thierry Breton teve a bênção dos eurodeputados para assumir a pasta do Mercado Interno e Adina Ioana Vălean segue em frente para ser comissária dos Transportes.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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