Juiz canadiano diz que mulher alegadamente violada é demasiado “combativa” para isso
Não é só em Espanha ou em Portugal que surge um certo tipo de sentença judicial que a muita gente parece vinda de outro tempo
Não é só em Espanha ou em Portugal que surge um certo tipo de sentença judicial que a muita gente parece vinda de outro tempo
Jornalista
Um juiz canadiano absolveu um homem acusado de violação e assalto sexual de duas mulheres com o argumento de que uma das alegadas vítimas era uma pessoa combativa e a outra tinha uma noção de tempo diferente da do acusado.
Explicando que "o consentimento pode ser dado sem se dizer uma palavra", o juiz notou que uma das mulheres se mostrou bastante combativa no tribunal, e que portanto também o teria sido se estivesse a ser atacada pelo homem. Portanto, não era credível que se tivesse sentido demasiado intimidada para dizer 'não'.
Uma ideia rejeitada por uma defensora dos direitos das mulheres, Julie Lalonde, citada pelo "Guardian". "A ideia de que, se ficamos agitados quando estamos a ser contra-interrogados num tribunal, então devemos ser assertivos 24 horas sobre 7, é um mito realmente danoso para espalhar no mundo".
Noutro dos casos, o juiz pôs em dúvida o relato da mulher alegadamente sujeita a violação anal. "Curiosamente, ninguém parece ter ouvido os seus gritos", disse. Também achou estranho ela falar num incidente que durou 10 minutos, contra os 40 referidos pelo acusado. Notando o impacto do trauma sobre a capacidade humana de recordar eventos de forma linear, Lalonde explicou que a precisão aparente com que o acusado recordava os mesmos eventos poderia justamente ser mais um argumento a favor da vítima.
Noutro processo que o homem vai enfrentar proximamente por agressões sexuais, num tribunal diferente, o resultado poderá ser diverso. Para já, as conclusões do juiz suscitaram reações em muita gente, nas redes sociais e não só.
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