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Voluntários já recolheram 3 toneladas de lixo do Evereste. Faltam “só” 30 para a limpeza ser total

Voluntários já recolheram 3 toneladas de lixo do Evereste. Faltam “só” 30 para a limpeza ser total
Ananya bilimale

Os detritos deixados pelos alpinistas que sobem ao pico da montanha mais elevada do mundo têm vindo a aumentar e podem mesmo gerar questões sanitárias. Os dejetos humanos são um dos maiores problemas

Voluntários já recolheram 3 toneladas de lixo do Evereste. Faltam “só” 30 para a limpeza ser total

João Pedro Barros

Editor Online

Para se subir ao pico do Evereste – um feito já conseguido por 5200 pessoas – é preciso, para além de resistência psicológica e física, levar material e comida, entre outras coisas. E o que sobe nem sempre desce: para se chegar ao topo já não é preciso um mapa, basta seguir o lixo, diz Dragana Rajblovic, a única mulher natural dos Balcãs a escalar a montanha, citada pela ABC.

Com a cada vez maior popularidade da escalada – só este ano está previsto que seja tentada por 775 pessoas –, a quantidade de lixo que se acumula cresce e preocupa várias entidades, como a associação de montanhismo do Nepal, a associação de montanhistas do Evereste e o departamento de Turismo do Nepal.

Vai daí, organizaram-se equipas de voluntários que trabalham desde 14 de abril, dia de Ano Novo no calendário nepalês, e que querem retirar 10 toneladas de lixo até 29 de maio, dia do 66.º aniversário da primeira subida confirmada ao pico. ''Nem sei quem são, há tantos grupos a fazer limpeza. Estou espantada por ver tantas pessoas comuns, organizações não governamentais e militares a fazer recolha”, diz à ABC Ang Tshering, ex-presidente da associação de montanhismo do Nepal.

Já foram recolhidas três toneladas. Mas o problema é que, no total, há 30 toneladas de lixo espalhado, estima a associação de montanhistas do Evereste. E, pasme-se, uma quantidade significativa são dejetos humanos. Cada alpinista produz, durante o trajeto que pode durar dois meses, uma média de 27 quilos de excrementos. Os dejetos podem ficar congelados e não se decompor, com o risco de gerar doenças. Em 2017, foram recolhidas 15 toneladas.

Já foram estudadas soluções para transformar os excrementos em fertilizante ou metano, um biogás que pode ser utilizado para cozinhar. Essa transformação pode ser conseguida num tanque que junte água e as bactérias necessárias para desencadear o processo.

É igualmente encontrado muito material não-degradável, como garrafas de oxigénio, tendas danificadas, plásticos e restos de material de montanhismo, que foi transportado pelo Exército do Nepal para a capital Catmandu. Porém, há mais surpresas desagradáveis para além dos excrementos: cadáveres.

O aquecimento global tem tornado o trabalho mais fácil, expondo não só o lixo como também os corpos dos alpinistas que não atingiram o pico, 8848 metros acima do nível do mar, ou que não sobreviveram à descida. Em 2017, foram encontrados sete corpos em campanhas de limpeza e pelo menos 3030 pessoas já morreram ao longo dos anos no trajeto até ao cume.

O Governo nepalês está a pensar impor uma taxa de cerca de 3500 euros para quem não regressar da subida com, pelo menos, oito quilos de lixo. Mas mesmo aquele valor poderá revelar-se insuficiente, visto que o peso pode colocar em causa a sobrevivência. Para além disso, os alpinistas já investem verbas significativas na preparação e concretização da escalada e 3500 euros podem parecer apenas trocos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jpbarros@expresso.impresa.pt

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