A escalada incendiária entre Trump e a congressista muçulmana Ilhan Omar

A memória dolorosa do 11 de Setembro foi usada pelo presidente americano para atacar a primeira pessoa de ascendência somali a chegar ao Congresso dos EUA
A memória dolorosa do 11 de Setembro foi usada pelo presidente americano para atacar a primeira pessoa de ascendência somali a chegar ao Congresso dos EUA
Jornalista
A líder da Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, criticou este sábado o presidente Donald Trump por ele ter sugerido no Twitter que a congressista Ilhan Omar (muçulmana) subestimou os ataques do 11 de Setembro.
Na véspera, Trump colocara um vídeo com imagens do 11 de Setembro, pontuado por trechos de um discurso de Omar em março, no qual a congressista eleita por Minnesota se referia aos ataques como algo que “algumas pessoas fizeram”.
O discurso de Omar fora feito para um grupo de defesa dos direitos civis dos muçulmanos. A congressista democrata disse que estes “vivem com o desconforto de serem cidadãos de segunda classe e, francamente, estou cansada disso e cada muçulmano deste país deve estar cansado disso”.
No seu tweet, Trump colocou as palavras “Nunca esqueceremos!”.
O que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas. E as guerras do Twitter resolvem-se no Twitter, assim pensou Pelosi, que difundiu um comunicado na mesma rede social para responder a Trump: “A memória do 11 de Setembro é território sagrado, e qualquer discussão sobre ela deve ser feita com reverência”, disse a “speaker” do Congresso.“O presidente não deve usar dolorosas imagens do 11 de Setembro para um ataque político.”
Para lá da intervenção de Pelosi, a troca de acusações entre Trump e Ilhan Omar, que não vem de agora, desde há muito que contaminou as fileiras dos dois principais partidos norte-americanos.
De um lado são vários os senadores e membros da Câmara dos Representantes do Partido Republicano a acusar a política nascida na Somália de minimizar os ataques do 11 de Setembro.
Do lado dos congressistas democratas, estes acusam Trump de descontextualizar as palavras de Omar, para acirrar sobretudo nas suas bases sociais e políticas um sentimento antimuçulmano.
Omar, nascida em Mogadíscio (Somália) e refugiada nos EUA desde 1995, tornou-se cidadã dos EUA cinco anos depois. É o rosto mais destacado de uma gesta de mulheres que o Partido Democrata fez chegar recentemente às instâncias do poder legislativo federal dos EUA.
No Capitólio, Omar exibe orgulhosa o seu véu (Hijab). Aliás, para isso ser possível, foi necessário revogar uma norma com 181 anos que impedia os congressistas de estarem com a cabeça coberta dentro das suas câmaras do Congresso.
No seu discurso de vitória, após ganhar a eleição no ano passado, Ilhan Omar exaltou a sua condição para mandar um recado a Trump, visando derrubar um dos principais cavalos de batalha do Presidente: "Aqui em Minnesota não apenas recebemos imigrantes — enviamo-los para Washington".
Não será apenas por isso, mas a política democrata parece ter o condão de irritar Trump. Um investigador alemão de Relações Internacionais, que como Omar cresceu no distrito de Minnessota, Kai Michael Kenkel, ensaiou recentemente à revista brasileira “Época” uma explicação para o efeito Omar: "Ela é claramente vetor de um processo pelo qual o Congresso chega a espelhar melhor, ainda que tardiamente, a realidade dos EUA. Não vamos esquecer que, seja ela somali no século XXI, latina no século XX ou italiana no século XIX, a sua história representa quase perfeitamente o mito tradicional do imigrante que foge da pobreza e do conflito e encontra liberdade e segurança nos EUA", disse.
Mas a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, insistiu este domingo nas críticas a Omar, 37 anos. “Considero os seus comentários absolutamente infames e impróprios para um membro do Congresso.”
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