O ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn foi preso esta quinta-feira pela quarta vez por alegadamente ter desviado cinco milhões de dólares (4,4 milhões de euros) da empresa. O Ministério Público japonês informou que Ghosn causou aquele montante de prejuízos num período de dois anos e meio até julho de 2018, em violação das suas obrigações legais para com a empresa e com o objetivo de enriquecer.
Segundo a agência de notícias Kyodo, as perdas envolveram a transferência de fundos através de um revendedor em Omã para a conta de uma empresa que Ghosn detinha.
“A minha prisão desta manhã é ultrajante e arbitrária. É parte de outra tentativa de alguns indivíduos na Nissan para me silenciarem, enganando os procuradores”, disse o empresário num comunicado enviado por email, através de um porta-voz nos EUA, e citado pela agência Reuters. “Porquê prenderem-me senão para me tentarem quebrar? Não vão conseguir. Sou inocente das acusações infundadas que moveram contra mim”, acrescentou.
Ghosn prometera “contar a verdade”
Mais de uma dezena de funcionários do escritório do procurador do Ministério Público de Tóquio visitaram a sua residência esta quinta-feira e pediram-lhe que se submetesse a um interrogatório, noticia o canal de televisão NHK. Posteriormente, uma carrinha prateada, que estaria a transportar Ghosn, abandonou o local.
A prisão acontece apenas um dia após o empresário ter prometido no Twitter que daria uma conferência de imprensa no dia 11 para “contar a verdade”.
“Depois de ter estado preso injustamente durante 108 dias, a minha maior esperança e desejo é um julgamento justo. Eu ia apresentar a minha história na próxima semana. Ao prenderem-me novamente, os procuradores negam-me essa oportunidade – por enquanto – mas estou determinado em revelar a verdade”, disse ainda no comunicado enviado por email.
Má conduta financeira e quebra de confiança agravada
Ghosn foi preso pela primeira vez em novembro do ano passado em Tóquio e enfrenta acusações de má conduta financeira e quebra de confiança agravada. Segundo a acusação, o empresário não reportou cerca de 82 milhões de dólares (cerca de 73 milhões de euros) em salários e transferiu temporariamente perdas financeiras pessoais para a Nissan durante a crise financeira.
Libertado a 6 de março após pagar uma fiança de nove milhões de dólares (oito milhões de euros), Ghosn diz-se vítima de um golpe do conselho de administração.
O terceiro pedido de fiança foi aceite um dia depois de um dos seus advogados se ter afirmado confiante de que o empresário franco-brasileiro, de origem libanesa, iria ficar em liberdade. O advogado recém-contratado, Junichiro Hironaka, é conhecido por ter conseguido que vários clientes tivessem sido absolvidos no Japão, onde a taxa de condenações é de 99%.
Caso podia ter sido resolvido como assunto interno da empresa, sugere advogado
No mês passado, Hironaka afirmou ter proposto novas formas de controlar Ghosn após a libertação sob fiança, como a videovigilância. Hironaka questionou o fundamento da detenção de Ghosn, num caso que considerou “muito peculiar”, sugerindo que podia ter sido resolvido como um assunto interno da empresa.
No Japão, os suspeitos ficam em detenção provisória durante meses, frequentemente até ao início dos julgamentos. Os procuradores defendem que os suspeitos podem alterar provas e não devem ser libertados.
Referindo-se à prisão desta quinta-feira, o advogado classificou-a como “inapropriada”.
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