O Governo de Donald Trump já não vai avançar com um acordo avaliado em 1,2 milhões de dólares (um milhão de euros) para vender armas aos guardas do Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. A decisão foi anunciada na segunda-feira à noite por fontes oficiais do Congresso norte-americano, horas depois de cinco senadores republicanos terem exigido que a administração Trump retaliasse em força contra os episódios de violência registados em maio na capital dos EUA — quando, durante uma visita oficial de Erdogan, a sua equipa de segurança agrediu manifestantes curdos em frente à casa do embaixador turco em Washington DC.
No início deste ano, a administração Trump tinha informado o Congresso que planeava autorizar a Sig Sauer, uma fabricante de armas com sede no estado de New Hampshire, a vender centenas de armas semiautomáticas e munições aos guardas que garantem a segurança do Presidente turco. Mas depois dos incidentes de 16 de maio, vários legisladores opuseram-se ao acordo de armamento ainda durante o período de avaliação dessa proposta pelo Congresso. Nesse dia, câmaras de televisão captaram alguns seguranças de Erdogan a espancarem manifestantes que se tinham concentrado pacificamente em frente à residência oficial do embaixador turco. Dezanove pessoas, incluindo 15 guardas presidenciais, foram indiciadas por um grande júri dos EUA pelo ataque aos manifestantes.
Este não foi o único incidente recente envolvendo equipas de segurança de responsáveis turcos em visitas aos EUA, o que potenciou debates internos no país sobre o comportamento das forças de segurança turcas em território norte-americano. Em junho, o republicano que chefia a Comissão de Assuntos Externos da Câmara dos Representantes, Ed Royce, escreveu ao chefe do Departamento de Estado, Rex Tillerson, pedindo-lhe que rejeitasse o acordo de armas com a Turquia e que abrisse um inquérito à conduta dos guardas turcos, que classificou como “brutal e amadora”. Nessa altura, um painel de legisladores do Senado também aprovou medidas para bloquear a venda de armamento à Turquia.
Reagindo à suspensão desse negócio na segunda-feira à noite, o senador democrata Chris Van Hollen falou num anúncio “algo tardio” mas ainda assim bem-vindo. “[O acordo de venda de armas] nunca deveria ter sido sequer considerado”, declarou o legislador que, em conjunto com o senador Patrick Leahy, também da oposição, conseguiu que fossem aprovadas medidas para impedir a venda. Num comunicado conjunto, os dois senadores acrescentaram ontem que, a par disto, “também devíamos parar de vender armas às unidades da Polícia Nacional Turca que têm estado a deter arbitariamente e a abusar de cidadãos turcos que criticam pacificamente o Governo”.
A decisão — anunciada na mesma altura em que Erdogan estava a aterrar em Nova Iorque para participar na assembleia-geral da ONU — foi igualmente aplaudida pela bancada republicana, que atualmente controla a administração federal e as duas câmaras do Congresso. Se o negócio tivesse avançado, sublinhou o representante Dave Trott, “teria representado nada mais que um patrocínio” do ataque executado pelas forças de segurança de Erdogan. Com a suspensão do acordo, o governo federal “apontou um dedo ao peito” do Presidente turco, demonstrando-lhe que a Turquia não está acima da lei.
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