A reunião que todos esperam (“vamos tornar Trump feliz”)
Donal Trump será a grande “estrela” da reunião de líderes da NATO
Massimo Percossi/epa
O Presidente americano Donald Trump e o seu homólogo francês Emmanuel Macron, sem esquecer o reforçado Presidente turco Recep Erdogan, serão as grandes “estrelas” da reunião que a NATO realiza esta quinta-feira
Não é bem uma cimeira, mas quase. Foram convocados todos os chefes de Estado e de Governo dos 28, bem como os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, algo que só costuma acontecer nas cimeiras da organização propriamente ditas. E haverá ainda um convidado, o Montenegro, que em junho se tornará no 29º membro da NATO – o que poderá custar-lhe caro por parte da Rússia.
A elite da classe política europeia – e entre ela António Costa, que representará Portugal na reunião – vai assim poder dar as “boas-vindas” e conhecer de perto o polémico Presidente americano, o mesmo que em plena campanha eleitoral considerou a organização “obsoleta” e depois de eleito deixou de a considerar como tal. Não “lutava contra o terrorismo”, acusou ele.
epa
Mas ninguém sabe exatamente o que Trump irá dizer. E na NATO ninguém gosta de surpresas de última hora. “Não queremos improvisação à mesa das negociações, mas decisões cuidadosamente ponderadas, confirmadas por chefes de Estado e de governo”, revelou ao site “Politico” uma fonte da organização. E improvisação tem sido a marca do novo Presidente americano, sobretudo quando se trata das suas inopinadas mensagens de 140 caracteres no Twitter.
A sensível partilha de custos
Para prevenir que nada corra mal, não haverá grandes discussões, mas tão só uma grande reunião e um jantar, depois das cerimónias de inauguração do novo Quartel-General da organização e dos dois memoriais erguidos à entrada do recinto. A organização pediu para os presentes não falarem mais do que três minutos.
“Trump vai querer saber o que fizeram por ele ultimamente e, mais especificamente, o que fizeram pela frente ‘hard power’”, declarou o ex-embaixador americano junto da União Europeia Anthony Gardner.
Ou seja, burden sharing, a partilha de custos na organização sobre a qual o líder americano tem insistido particularmente e nem sempre de forma educada. Um dia depois de Donald Trump ter recebido a chanceler alemã Angela Merkel, em março, o Presidente “tuitou” que a Alemanha deve “importantes quantias de dinheiro” aos Estados Unidos.
A Alemanha deve “…importantes quantias de dinheiro à NATO e aos EUA, que lhe fornecem uma defesa muito poderosa e muito cara”, escreveu Trump. A resposta alemã chegou rápida, num comunicado da ministra Ursula Von der Leyen: “Não há nenhuma conta onde estejam registadas dívidas à NATO”, afirmou a ministra, acrescentando que as contribuições para a Aliança não devem ser o único critério para medir o seu esforço militar.
A Alemanha gasta 1,2% do PIB em Defesa, mas reclama que nesses gastos devem também ser contabilizadas as missões de paz ao serviço da NATO e da UE e a contra o terrorismo.
Só os Estados Unidos, Reino Unido, Polónia, Estónia e Grécia atingem a meta dos 2% do PIB em gastos com a defesa que os aliados se comprometeram a alcançar na cimeira de Gales (2014) no prazo de 10 anos. A Letónia, Lituânia e Roménia estão próximos e França tem um vasto leque de operações militares em África e no Médio oriente.
Este mesmo critério espera o ministro português Azeredo Lopes que seja aplicado a Portugal.
lusa
Na semana passada, por ocasião da reunião dos ministros da Defesa em Bruxelas, o ministro Azeredo Lopes disse que Portugal espera que não haja “demasiada insistência” na questão orçamental e que seja feita igualmente uma “avaliação qualitativa” dos esforços e contributos do país.
“Temos a certeza de que vamos convencer os nossos aliados de que Portugal cumpre essencialmente as suas obrigações e também demonstrarmos que uma avaliação qualitativa do nosso esforço é de elementar justiça, além das (avaliações) métricas e do reforço do investimento, que nós, aliás, temos mais ou menos como adquirido que pode ter de ser reforçado”, afirmou o ministro, citado pela Lusa.
Atualmente, Washington custeia cerca de 70% das despesas da NATO, embora todos os países partilhem os custos da administração e tenham financiado a construção das novas instalações.
“Vamos tornar Trump feliz”
Outra das preocupações dos aliados – e num momento em que está ainda muito vivo o atentado de Manchester – é mostrar ao Presidente americano que estão dispostos a responder positivamente ao plano dos EUA para que a NATO assuma um maior papel na luta contra o Daesh na Síria e no Iraque, em linha com os apelos de Trump.
A questão não se apresenta todavia fácil, porque nem todos os aliados alinham pelo mesmo diapasão. França e Alemanha têm reservas em que a NATO enquanto tal se junte à coligação antiDaesh, além das obrigações que individualmente os aliados já assumiram. Se a decisão fosse tomada, daria todavia uma oportunidade a Trump de mostrar em Washington que a NATO vale alguma coisa, consideram fontes em Bruxelas. “Isto não é política, mas mensagem política”, afirmou um diplomata citado pelo site EurActiv: “Vamos tornar Trump feliz”.
reuters
Novo QG e dois memoriais
A confusão na capital belga promete ser garantida por causa das excecionais medidas de segurança que costumam rodear estes eventos, mas também devido à presença do Presidente turco.
Não será por acaso que o autarca do distrito bruxelense de Schaerbeek pediu aos seus habitantes, nos quais se incluem membros da comunidade turca na Bélgica, para “permanecerem tranquilamente” nas suas casas durante a reunião de líderes. Também o presidente da Câmara de Bruxelas tinha a intenção de proibir “por evidentes motivos de segurança” qualquer concentração de apoio a Erdogan frente ao hotel onde este ficará alojado. Outra das novidades é a inauguração do novo quartel-general (QG) da NATO, colossal e caríssimo, nos arredores de Bruxelas,que demorou anos a construir. “Uma nova casa para uma Aliança moderna”, assim a qualificou o secretário-geral Jens Stoltenberg. O QG demorou duas décadas a construir e custou €1,1 mil milhões.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg
reuters
As novas instalações estão localizadas nos terrenos de um antigo campo de aviação do tempo da Segunda Guerra Mundial. “É uma localização simbólica”, já que “o que foi no passado um campo de batalha tornar-se-á um local de diálogo e cooperação entre Aliados”, disse o secretário-geral na conferência de imprensa sobre a reunião.
A inauguração de dois memoriais, um fragmento do Muro de Berlim e outro do Worl Trade Center, marcará também a cerimónia. O memorial do Muro, descerrado pela chanceler Angela Merkel, representa a vitória da liberdade sobre a opressão, e o do Trade Center, dedicado pelo Presidente Trump, simboliza a solidariedade e a luta comum contra o terrorismo. Foi a propósito do ataque às Torres Gémeas a 11 de Setembro de 2001 que a Aliança invocou pela primeira vez a cláusula da defesa coletiva, o célebre artigo 5º.