O hospital de Seul onde cheira a pão acabado de fazer
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Unidade está equipada com a última tecnologia e já quase não tem papel. Recebe oito mil pessoas por dia, muitas de fora. Reportagem dos enviados especiais Vera Lúcia Arreigoso (texto) e João Santos Duarte (vídeo).
Parece difícil de imaginar mas existe: um hospital onde cheira a pão acabado de fazer. Está muito longe na distância, a quase 14 mil quilómetros, e no funcionamento face às unidades portuguesas, e do resto da Europa, e antecipa o futuro que um dia também chegará aqui.
Instalado na capital da Coreia doSul pela Samsung, o centro hospitalar junta o conforto das instalações às tecnologias mais modernas nos procedimentos. Quase não há papel nem tempos de espera e todos estão ligados pelo smartphone ou pelo tablet. A relação ‘sem fios’ é fácil, mesmo para os idosos. Seul é a cidade mais conectada do mundo, com 90% da população ligada à internet, rápida e barata.
De portas abertas há 20 anos, o Samsung Medical Center (SMC) aposta em antecipar a realidade. O seu lema é a “inovação feliz“. “Temos muita atividade em ensaios clínicos, ficando expostos a medicação e dispositivos inovadores que chegam ao mercado quando os nossos médicos já têm um a dois anos de experiência a utilizá-los”, explica Alice Tan, especialista em medicina interna do SMC.
Na unidade são atendidas oito mil pessoas por dia, incluindo as que só têm a cobertura pública de Saúde, e o primeiro contacto com a modernidade na Saúde começa antes da entrada no hospital. O médico ou o utente pedem a consulta por telefone ou pela internet e recebem a marcação igualmente por via eletrónica. Chegado ao SMC, o utente dirige-se à zona indicada e verifica se os seus dados estão incluídos no planeamento. Não precisa falar com ninguém, basta-lhe olhar para um ecrã gigante, colocado nas várias alas. “Normalmente, podemos entrar à hora marcada”, garante Jungeun Park, assessora do SMC.
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Os exames são pedidos no momento. O utente sai do gabinete médico, paga a taxa (dez euros pela consulta, com meios complementares de diagnóstico incluídos) ou a fatura (para privados) nas máquinas para o efeito — indica o número de utente, a que está associado o cartão bancário — , faz o exame e regressa à consulta, onde já terá chegado o resultado. No raio-X, por exemplo, um equipamento inovador faz mais de 500 imagens por dia e, mesmo assim, coloca o resultado no computador do médico em menos de um minuto.
A rapidez do rastreio e diagnóstico verifica-se mesmo nos casos complexos, como o cancro. “Os doentes terminam todos os testes numa manhã e os resultados estão disponíveis no mesmo dia ou numa semana”, afirma a médica. “Distanciamo-nos dos outros centros no tempo de espera para exames e cirurgias. Somos muito rápidos.”
Na área oncológica, o futuro vai voltar a ser antecipado, desta vez, para dezembro. O centro vai iniciar terapia com protões, uma técnica na dianteira de tudo o que existe. Vai custar perto de 22 mil euros por sessão. “E somos muito famosos pelas cirurgias com apenas uma porta, geralmente através do umbigo. Implica uma cicatriz pequena e uma recuperação rápida.”
Mesmo no mais elementar há diferenças: os quartos têm frigorífico; o sumo trazido pela visita não fica a aquecer à cabeceira do doente como em hospitais portugueses. Em certas áreas, sentimo-nos num hotel.
Na Urgência, mais congestionada, está tudo organizado. Um dashboard diz ao acompanhante onde está doente, a fazer o quê e com quem, por exemplo, para que não tenha de perguntar. E na zona pediátrica entra pai e mãe, e não apenas um dos progenitores como no Serviço Nacional de Saúde. A observação é feita com total privacidade, isto é, protegida por cortinas.
A diferenciação do SMC, o único na Ásia certificado para tratar o presidente dos EUA, atrai muitos estrangeiros. “Somos especializados em cuidados oncológicos, cardiovasculares e neurológicos, temos uma das melhores unidades de cuidados intensivos neonatais e procuram-nos”, diz Alice Tan.
Um dos próximos passos será colocar o utente a fazer a sua história clínica e triagem, nos casos agudos. À chegada ao hospital, receberá um tablet para ‘escrever’ a informação, que passará para um assistente e para o médico. Alice Tan antecipa o que os seus colegas pelo mundo fora vão sentir quando trabalharem num centro médico tecnológico: “É uma vantagem enorme para a capacidade de tratar o doente."
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