“Os mais velhos ainda têm muito para dar e podem continuar a participar na sociedade”
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Aconteceu na terça-feira à noite, na SIC Notícias, o segundo de dez debates que a Impresa e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) vão realizar nos próximos 10 meses para debater as últimas cinco décadas de Democracia em Portugal. O tema foi o envelhecimento
Ana Baptista
Maria João Guardado Moreira, coordenadora da Unidade de Investigação Interdisciplinar – Comunidades Envelhecidas Funcionais/Age.Comm; Pedro Pita Barros, professor de economia na Nova School of Business Economics (SBE); Joaquim Ferreira, médico neurologista e Isabel Galriça Neto, médica especialista em cuidados paliativos foram os convidados deste debate em que se deram sugestões sobre como melhorar o sistema de saúde, a segurança social e o mercado de trabalho para dar melhores respostas aos idosos, que serão cada vez mais na nossa sociedade e cada vez mais ativos. Estas são as principais conclusões.
1. A velhice não é o fim
Chegar a velho é “inevitável, mas é também uma conquista”, e por isso mesmo, “não posso enfiar a cabeça debaixo da areia como as avestruzes e deixar a velhice chegar, tenho de me preparar para isso”, repara Isabel Galriça Neto.
Ainda mais porque hoje, com a evolução da medicina e da melhoria geral das condições de vida, quem tem entre 65 e, pelo menos, 80 anos, tem uma vida mais ativa.
Por isso é que, diz Maria João Guardado Moreira, “os mais velhos ainda têm muito para dar e podem continuar a participar na sociedade”.
E até no mercado de trabalho, diz Pedro Pita Barros. “O mercado de trabalho está pensado para quem está na vida ativa, mas pode dar oportunidades a quem está nestas idades mais avançadas. Há muitas pessoas com 65 e mais anos que vão tirar cursos e aprender outras coisas”, repara.
Maria João Guardado Moreira e Pedro Pita Barros
Jose Fernandes
2. É preciso mexer no sistema de saúde
Chegar a velho é uma conquista, mas é também “uma coisa dura”, repara Joaquim Ferreira. Porque, apesar dos avanços da medicina, é também inevitável que os mais velhos vão ter mais doenças e o que se estima é que a grande maioria delas sejam doenças crónicas e degenerativas. “E o sistema de saúde não está preparado para isso”, diz Joaquim Ferreira.
“Estima-se que haverá 200 mil pessoas com demência em Portugal em 2050, o que será 4% da população. Mas como estas doenças exigem muito das famílias e exigem cuidadores a tempo inteiro, estamos a falar de uns 10% da população afetada por estas doenças. Ora, se 4% têm de ir ao médico, o sistema não aguenta. Vamos ter de alargar o modelo de cuidados a fisioterapeutas, cuidadores informais, apoio ao domicílio…”, acrescenta.
Ou seja, diz Pedro Pita Barros, “não é só o Serviço Nacional de Saúde que tem de responder aos problemas dos idosos. Temos de mudar o sistema de segurança social e ter outras entidades a dar apoio e não pode ser estarem todos institucionalizados”.
Além disso, vão surgir novos medicamentos para combater essa doenças, “mas que vão ser caros e até podem ter efeitos adversos”, daí que a melhor opção é apostar mais na prevenção do que na procura de uma cura, diz ainda Joaquim Ferreira.
Joaquim Ferreira e Isabel Galriça Neto
Jose Fernandes
3. Apostar mais na prevenção do que na cura
Para Isabel Galriça Neto uma das formas de prevenção é acreditar mais nos cuidados paliativos sobre os quais, “muitas vezes por iliteracia, se pensa que os paliativos são apenas para os mais velhos, mas são para todas as idades e não só para quem tem cancro ou está a morrer”.
Mas há outras formas de prevenção que não estão diretamente ligadas aos cuidados médicos, principalmente para prevenir as doenças neurodegenerativas, como a demência ou o Alzheimer.
“Quem estuda mais está mais protegido face à demência ou pode surgir mais tarde. E o melhor tratamento para estas doenças é andar a pé”, conclui Joaquim Ferreira.