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“Aquilo que nos é ensinado sobre ser homem é que tem que ser forte, tem que ser rijo, tem que ser imbatível, homem não chora”

Tânia Graça é a primeira convidada a comentar - em vídeo - o estudo sobre “A Saúde do Homem”, realizado pela GfK Metris para o Expresso. A psicóloga e sexóloga explica como os modelos sociais que travam a vulnerabilidade masculina estão a custar anos de vida aos homens portugueses e defende a urgência em repensar o que significa “ser homem”

“Aquilo que nos é ensinado sobre ser homem é que tem que ser forte, tem que ser rijo, tem que ser imbatível, homem não chora”

Sara Fevereiro

Jornalista

Os homens vivem, em média, menos 5,4 anos do que as mulheres. A diferença não é apenas estatística - é reflexo de padrões sociais e culturais profundamente enraizados. A conclusão é sustentada por este estudo que aponta para um problema estrutural: os homens cuidam menos da saúde, procuram menos ajuda médica e têm mais comportamentos de risco.

Para Tânia Graça esta realidade não é surpreendente. “Os homens têm tendencialmente mais comportamentos de risco, prestam menos atenção aos sinais do corpo e recorrem menos aos cuidados primários. Isso resulta em diagnósticos e tratamentos mais tardios e, por consequência, mortes mais precoces.”

O estudo em causa revela que doenças como o cancro, Alzheimer, problemas cardíacos, depressão, diabetes, doenças reumáticas e até gripe preocupam mais as mulheres. Apenas as doenças da próstata são maior preocupação masculina. Mas porquê esta disparidade? A resposta pode estar nos modelos de masculinidade que ainda hoje moldam o comportamento de muitos homens. “Aquilo que se ensina é que o homem tem de ser forte, rijo, imbatível — homem não chora. Assumir dor, fragilidade ou preocupação com a saúde é, muitas vezes, visto como sinal de fraqueza, algo ‘pouco masculino’”, explica a sexóloga. O estigma é tão forte que alguns homens chegam mesmo a considerar estes cuidados como uma “mariquice”.

No entanto, diz Tânia Graça, apoiada em relatos que todos conhecemos, os homens - na sua esfera privada - “dão-se mais permissão para viver essa fragilidade, mas no contexto público, não”.

A cultura de risco reforça-se noutros comportamentos. O consumo de álcool, por exemplo, mesmo que ocasional, é muitas vezes valorizado como parte do clichê de um verdadeiro homem. Tudo isto contribui para a negligência generalizada da saúde masculina, um padrão que começa na infância e se reforça ao longo da vida.

Outro dado revelador é que 81% dos inquiridos num estudo afirmaram já ter tido uma doença. Quando questionados se isso levou a uma mudança de hábitos, 65% respondeu afirmativamente. Ou seja, só após uma experiência de doença é que muitos homens dão prioridade à sua saúde.

“Qualquer evento com potencial traumático tem tendência a deixar-nos mais alerta. Tal como um acidente de carro pode tornar-nos mais cautelosos na condução, também uma doença pode servir de alerta para a importância de cuidar da saúde. Mas é uma pena que precise de haver um susto para que isso aconteça.”

Para mudar este cenário, é essencial repensar o que significa “ser homem”. O caminho passa por desconstruir o que muitos chamam de “colete de forças da masculinidade” — um conjunto de normas que inibe a expressão emocional, a vulnerabilidade e o autocuidado. “O termo ‘masculinidade tóxica’ ainda provoca reações defensivas. Muitos sentem-se atacados e dizem que ‘já não se pode ser homem’. Esse modelo é prejudicial, sobretudo para os próprios homens, e tem custos reais na sua saúde”.

A sensibilização e a literacia em saúde são vistas como ferramentas essenciais para mudar mentalidades. O objetivo não é transformar os homens em algo diferente, mas permitir-lhes ser mais: mais atentos, mais livres e, sobretudo, mais saudáveis.


A Saúde do Homem

Este é um projeto a que o Expresso chamou “A Saúde do homem” e que conta com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e ainda com o Alto Patrocínio da Presidência da República e a Ordem dos Médicos, na qualidade de parceiro institucional. O estudo foi conduzido pela empresa de estudos de mercado, GfK Metris.

No total, serão publicadas dez entrevistas em vídeo e dez entrevistas em texto. Acompanhe tudo em expresso.pt .

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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