As múltiplas dimensões da inovação nas empresas

Fundada em 1969, a FEPSA — Feltros Portugueses atua numa área de nicho: a produção de feltro para chapéus. Como não havia “ninguém a fazer novos equipamentos e tecnologia para chapelaria desde os anos 50, viu uma enorme oportunidade”, e por isso, conta o CEO, Ricardo Figueiredo, tem “vindo a desenvolver a sua própria tecnologia e tem continuado constantemente a inovar”.
O exemplo mais recente junta “a tecnologia de chapelaria ao têxtil”, diz. E explica: “O feltro dos chapéus não desfia e vamos produzir uma espécie de burel sem fio que permite fabricar um têxtil plano que possibilitará, dentro de dois anos, ter casacos com corte vivo, sem pesponto [costura], na Louis Vuitton ou na Gucci.”
E não, não se trata de uma ambição desmedida, porque esta empresa exporta 98% da sua atual produção para marcas de luxo como estas, o que a obriga a inovar noutras vertentes, nomeadamente na gestão dos recursos humanos e do negócio em si. “Dentro do nosso sector é importante ter escala, não ter medo de stocks, porque eles permitem uma resposta rápida”, acrescenta.
A FEPSA é, por tudo que foi mencionado, um exemplo de como uma empresa pode e deve inovar em todos os sectores de atividade e nas várias vertentes do negócio, ganhando com os benefícios que isso traz. Como, aliás, tem sido beneficiado o sector têxtil com, por exemplo, os novos tecidos criados a partir de outros que iam para o lixo, a constante adaptação às novas regras de sustentabilidade e ainda o esforço para internacionalizar e diversificar mercados.
“Há muitas maneiras de criar valor no mercado e muitas formas de inovação — na produção, na utilização de recursos energéticos, nas marcas, no serviço ao cliente, no marketing, nas plataformas digitais, que são tão importantes nas exportações… A inovação tecnológica não é a única possível”, diz Jorge Portugal, presidente da COTEC Portugal — Associação Empresarial para a Inovação.
Ora, para que as organizações cresçam e aumentem as suas exportações elas precisam de inovar e de criar produtos únicos e de valor acrescentado, repara Andrés Baltar, administrador do Novo Banco. Aliás, para José Manuel Fernandes, presidente do Conselho Geral da Associação Empresarial de Portugal (AEP), “a arma mais importante hoje em relação aos mercados externos é a inovação”.
Jorge Portugal lamenta que, “por razões históricas”, ainda haja muitas empresas portuguesas para as quais a inovação é apenas tecnológica, o que, por vezes, as leva a desistir de dar a volta ao negócio. É que este tipo de inovação é exigente em capital financeiro e humano e as empresas portuguesas, na sua maioria de pequena e média dimensão, têm pouco dinheiro para investir e para recrutar trabalhadores mais qualificados.
O que está a faltar
É por todas estas razões que este foi o tema do primeiro almoço-debate da iniciativa Portugal Export +60’30, promovida pela AEP e o Novo Banco e que tem como objetivo ter as exportações a valer 60% do PIB em 2030. Daí que alguns dos empresários presentes no almoço-debate salientem a importância dos fundos europeus e a necessidade urgente de fazer alterações ao seu funcionamento. Desde logo, os procedimentos deviam ser mais ágeis e transparentes, comenta José Manuel Mendonça, presidente do Conselho de Administração do INESC TEC. “Temos fundos que chegam, que sobram, que se estragam, que se esgotam por causa da burocracia; pensam que protege o dinheiro público e os abusos, mas a burocracia dá mais espaço à fraude.”
E podia mesmo “haver mais independência entre as agências [que atribuem esses fundos] e o Governo”, repara António Braz da Costa, diretor-geral do CITEVE — Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário. E ainda, acrescenta Ricardo Figueiredo, “um desígnio comum de canalizar os incentivos também para as pequenas e médias empresas, e não só para as que estão a começar”.
“Temos de aproveitar os incentivos para aumentar a qualidade dos produtos”
António Braz da Costa
Diretor-geral do CITEVE — Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário
“A velocidade a que as empresas são apoiadas não é a melhor para o que estão e podem fazer”
Raquel Vieira de Castro
Administradora executiva da Vieira de Castro
“Qualquer incentivo que o Estado dê tem de estar direcionado para as exportações”
Jorge Portugal
Presidente da COTEC
Portugal Export
A Fundação da Associação Empresarial de Portugal, no Porto, promoveu o primeiro almoço-debate do Portugal Export +60’30, um projeto da Associação Empresarial de Portugal (AEP) e do Novo Banco — a que o Expresso se associa como media partner — que pretende incentivar as exportações portuguesas a atingir os 60% do PIB em 2030.
Textos originalmente publicados no Expresso de 15 de dezembro de 2023
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