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A pandemia destapou “a fragilidade da sociedade”

Maria Pereira (à esq.) trabalha com uma utente de 70 anos (de costas) para desenvolver as suas capacidades psicomotoras
Maria Pereira (à esq.) trabalha com uma utente de 70 anos (de costas) para desenvolver as suas capacidades psicomotoras
José Fernandes

Cuidados. Perante situações de isolamento e de saúde mental que se agravaram com a covid-19, estas instituições tentam dar respostas para melhorar a qualidade de vida da população mais idosa

A pandemia destapou “a fragilidade da sociedade”

Tiago Oliveira

Jornalista

A saúde dos mais idosos foi um dos campos mais afetados pela pandemia, e essa realidade é bem evidente para os profissionais que todos os dias trabalham no Centro Psicogeriátrico Nossa Senhora de Fátima. A unidade de saúde das Irmãs Hospitaleiras acolhe, na Parede, 85 utentes acima dos 65 anos e as restrições na liberdade de circulação e no contacto com os familiares tiveram um efeito visível. A pandemia destapou a “fragilidade da sociedade. Foi muito impactante”, conta a irmã Paula Jacinta Carneiro, responsável pelo espaço.

A unidade de saúde alberga uma equipa multidisciplinar que procura “satisfazer as necessidades básicas dos utentes e melhorar a sua qualidade de vida”, através de uma abordagem que vê a “pessoa como um todo” com dimensão “social, lúdica” ou “relacional”. E é precisamente a abordagem que pretendem agora levar para ambulatório com um novo projeto financiado pelo Prémio BPI Fundação “la Caixa” Seniores — que na nona edição distribuiu €1 milhão por 34 projetos. Coordenado pela responsável pelo Serviço de Psicologia, Paula Agostinho, e pela psicomotricista Maria Pereira, o projeto está previsto arrancar “para janeiro do próximo ano” e junta a “vertente cognitiva à vertente física”. A ideia, que aposta também na promoção da literacia para a saúde mental, ganhou ainda mais força com a pandemia e o objetivo é ir diretamente à casa de doentes que sejam referenciados. Vão ser desenvolvidas também parcerias com diversos lares do concelho de Cascais para desenvolver atividades de grupo e diagnosticar casos que precisem de atenção especial. É a forma de dar nova resposta a “um grande desafio que temos enquanto comunidade”.

Quem já beneficia “há cinco anos” da assistência integral na instituição é Maria Santos, de 70 anos. Ribatejana e antiga professora do ensino básico, é uma das responsáveis pela secção de cultura e faz questão de nos dizer que é uma “leitora assídua do Expresso” e que a televisão e o jornal foram essenciais durante a pandemia, sobretudo como alguém que gosta “muito de comunicar”. Sem esquecer as atividades e o trabalho desenvolvido na unidade de saúde, que a fazem sentir “confortável”.

Outro dos projetos distinguidos foi o “E Agora?”, da Universidade Sénior de Évora, que consiste, explica Susana Madeira, “numa resposta socioeducativa no panorama da pandemia, onde se pretende que os seniores possam desenvolver ferramentas e competências ao nível da literacia digital. Noutro ponto do país, na Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave, encontramos o Centro de Investigação, Diagnóstico, Formação e Acompanhamento de Demências, e uma “solução pioneira” que consiste na criação de uma unidade “de avaliação da capacidade de condução” da população “com défice cognitivo ou demência”, elabora a diretora clínica adjunta Isabel Seixas.

Já a proposta da Cooperativa de Ensino Superior Egas Moniz, intitulada “BounceBack for Parkinson”, baseia-se, segundo as coordenadoras Catarina Godinho e Josefa Domingos, na implementação de “sessões inovadoras de treino de equilíbrio e de exercício físico usando trampolins, com o objetivo de reduzir o risco e a frequência de quedas que tem aumentado de forma significativa nesta fase” pós-pandemia.

O retrato de um país a envelhecer

Portugal é um dos países da Europa a viverem um processo mais acelerado de aumento da idade média da população

Os dados não deixam grande margem para segundas interpretações. Em 2050 o Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que um terço da população portuguesa seja idosa e quase um milhão de pessoas tenha mais de 80 anos. Por terceira idade entende-se habitualmente a população com pelo menos 65 anos de idade e, em Portugal, isso corresponde a 20% dos habitantes, de acordo com o INE. Uma tendência crescente que pode fazer com que o índice de envelhecimento atinja um rácio de 317 idosos por cada 100 jovens em 2080. Apesar de a Europa ser um espaço geográfico com uma tendência de envelhecimento visível, mesmo assim Portugal destaca-se, sobretudo pela sua dimensão. Em 2019, ano mais recente para o qual existem dados comparáveis do Eurostat, o país tinha a terceira idade mediana mais elevada da União Europeia, 45,5 anos, apenas superado pela Alemanha e pela Itália.

“Portugal está a sentir profundas alterações demográficas e sociais que promovem a necessidade de mudanças na assistência social e no apoio à população mais velha”, defende Isabel Seixas, diretora clínica adjunta do Centro de Investigação, Diagnóstico, Formação e Acompanhamento de Demências da Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave.

O envelhecimento da população tem também impacto económico e obriga a encontrar respostas de apoio social e financeiro para impedir o aumento de situações de carência. Segundo números da Segurança Social referentes a setembro deste ano, estão atribuídas mais de 2 milhões de pensões de velhice e mais de 150 mil complementos solidários para idosos, valores que têm aumentado.

Distinguidos no prémio seniores

  • Associação do Centro Social de Escapães
  • Associação Juvenil Transformers
  • Associação Nacional de Apoio ao Idoso — ANAI
  • Benéfica e Previdente — Associação Mutualista
  • Centro Comunitário de São Martinho de Dume
  • Centro Comunitário de Tires
  • Centro de Acolhimento São Pedro
  • Centro de Bem-Estar Social da Zona Alta —Torres Novas
  • Centro de Dia de São Silvestre de Escalos de Baixo
  • Centro Paroquial de Bem-Estar Social de São Julião de Monte do Trigo
  • Centro Paroquial de Bem-Estar Social Almalaguês
  • Centro Social Cultural e Recreativo de Quimbres
  • Centro Social da Musgueira
  • Egas Moniz — Cooperativa de Ensino Superior, crl.
  • Fundação Bissaya Barreto
  • Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus — Centro Psicogeriátrico Nossa Senhora de Fátima
  • Instituto Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus — Casa de Saúde Rainha Santa Isabel
  • Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Trofa
  • Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Riba De Ave
  • Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso
  • Pasec — Plataforma de Animadores Socioeducativos e Culturais
  • Passo Positivo — Associação de Ação Social
  • Probranca — Associação para o Desenvolvimento Sociocultural da Branca
  • Provectus — Associação em Prol da Terceira Idade
  • Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça
  • Santa Casa da Misericórdia deOliveira de Azeméis
  • Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra
  • Santa Casa da Misericórdia de Pombal
  • Santa Casa da Misericórdia do Bombarral
  • Santa Casa da Misericórdia do Fundão
  • Semente Levamos Vida — Associação Humanitária
  • Sopro — Organização Não-Governamental de Solidariedade e Promoção
  • Suão — Associação de Desenvolvimento Comunitário
  • USE — Universidade Sénior de Évora

Textos originalmente publicados no Expresso de 30 de outubro de 2021

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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