Em jogo estavam €20 mil em prémios. Motivação suficiente para juntar criatividade, inovação e empreendedorismo em torno de soluções que motivem a população a reciclar mais equipamentos elétricos e eletrónicos, os chamados REEE, que incluem desde os grandes e pequenos eletrodomésticos, até aos computadores, tablets ou telemóveis.
Ao longo de três meses, as várias equipas participantes trabalharam em conjunto com os promotores do concurso – LG Portugal e ERP Portugal -, contando com a mentoria da Startup Lisboa. Esta semana, entre os cinco finalistas, foram escolhidos os três vencedores que arrecadam €15 mil, €3500 e €1500, respetivamente. Além do prémio monetário, estes empreendedores têm ainda a possibilidade de vir a ter os seus projetos apoiados, quer pelos promotores, quer por outras entidades. A seleção dos melhores projetos esteve a cargo de um júri composto por representantes da Agência Portuguesa do Ambiente, da Direção-Geral das Atividades Económicas, da ERP Portugal, da LG Portugal e da Startup Lisboa.
O desafio foi lançado em outubro, após a divulgação de um estudo realizado pela Qdata, com a coordenação de Pedro Simões Coelho, professor da NOVA IMS, para a ERP Portugal e para a LG Portugal, que revelou algumas conclusões surpreendentes, nomeadamente a baixa percentagem de jovens que dizem reciclar este tipo de equipamentos. Na altura, em entrevista ao Expresso, Rosa Monforte, diretora-geral da ERP Portugal manifestou a sua surpresa, garantindo que a entidade gestora de resíduos que representa aproveitaria os resultados do estudo para procurar formas de quebrar a falta de motivação para a reciclagem dos REEE. À vontade de procurar respostas para um problema que está a impedir Portugal de cumprir as metas de reciclagem impostas pela União Europeia - 65% da quantidade de equipamentos elétricos e eletrónicos colocados no mercado nos três anos anteriores – juntou-se a missão empreendedora da Startup Lisboa, que ajudou a materializar a iniciativa e-Waste.
Recompensas motivam cidadãos
As vantagens da reciclagem, em geral, e dos REEE, em particular, parecem evidentes, mas, até agora, não têm sido motivação suficiente para que a boa vontade se transforme em ação. Vantagens como prolongar o tempo de vida dos equipamentos, mantendo o seu valor por mais tempo na economia ou garantir que os resíduos são sujeitos a um tratamento rigoroso - durante o qual são removidas as substâncias perigosas e recuperados materiais que poderão ser reutilizados, com redução no consumo de matérias primas - não estão a fazer soar as campainhas da consciência coletiva dos cidadãos.
Rui Berkemeier, dirigente da Associação Zero, dizia em outubro ao Expresso que, claramente, esta mensagem não está a passar e que continua a existir muito desconhecimento na sociedade, mesmo entre as gerações mais jovens. A solução, referia na altura, passa por “um sistema de prémios (depósito/devolução) pois o cidadão terá outra motivação para entregar os REEE”. Uma ideia já usada em alguns projetos piloto noutros países da Europa e que, aparentemente, inspirou também os cinco finalistas do concurso e-Waste.
Programas de fidelização, de buy-back, recompensas em forma de pontos que, posteriormente, podem ser trocados por prémios e a utilização de aplicações de gamificação para tornar o processo mais divertido, são algumas das propostas dos projetos vencedores. Por agora, as ideias estão aí, prontas a entrar no mercado e a serem uma das ferramentas nas mãos de câmaras municipais, entidades gestoras e entidades produtoras de resíduos para que, em conjunto, promovam a sustentabilidade, a circularidade da economia e a tão almejada meta de reciclagem europeia.
Conheça os três vencedores:
1º lugar: Trash for Goods
Aplicação que usa internet of things e promove economia circular com o objetivo de sensibilizar e consciencializar a população, através de um sistema de gamificação que premeia as práticas sustentáveis
2º lugar: Phone Hut
Quiosque automático para reciclar telefones. É feita uma inspeção visual do telefone com inteligência artificial, um software de diagnóstico identifica todas as falhas a corrigir para futura reutilização, e há uma tecnologia contactless que desinfeta. No fim do processo é atribuída uma cotação que pode ou não ser aceite pelo utilizador.
3º lugar: Bye Waste
O objetivo é dar uma segunda vida aos objetos do dia a dia através de uma aplicação que utiliza inteligência artificial. O lixo eletrónico é recolhido gratuitamente em casa, vendido às entidades que reciclam ou a lojas de artigos em segunda mão, sem esforço e com recompensas para o cidadão. Reduz o custo das recolhas e garante uma separação adequada destes equipamentos.