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É “impossível viver sem plástico”: projetos de sustentabilidade querem tornar o plástico num produto “melhor” e recuperar os seus resíduos

Inovar através do design, das matérias-primas usadas ou recuperar os resíduos do plástico, há vários projetos que “obrigam as empresas a trabalhar em grupo” para transformar o setor numa economia circular

É “impossível viver sem plástico”: projetos de sustentabilidade querem tornar o plástico num produto “melhor” e recuperar os seus resíduos

Eunice Parreira

Jornalista

Para provar que o plástico não é o “bicho-papão” e que este material pode ser sustentável, a Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) desenvolve vários projetos que envolvem a reutilização dos resíduos plásticos na construção de mobiliário urbano ou a utilização de materiais biodegradáveis para criar plástico.

“O plástico foi sempre um material que teve muito sucesso e claro que, em algumas situações, passou a ser vítima do seu próprio sucesso, e sendo um produto fácil de transformar, económico, presente em múltiplos produtos, é importante que o seu fim de seja acautelado”, explica Amaro Reis, presidente da APIP.

Para incentivar a transição para a economia circular desta indústria, a APIP participou no projeto Better Plastics, que foi apoiado em 6,3 milhões de euros através do programa COMPETE 2020, do qual cerca de 3,8 milhões de euros são do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). “Um dos objetivos deste programa foi criar novos materiais, novos produtos, tecnologias inovadoras e sustentáveis” que foram, posteriormente, desenvolvidas no novo projeto Sustainable Plastics, apoiado em quase 39 milhões de euros através do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).

Através destes projetos, há uma alteração no paradigma do setor para se tornar mais colaborativo. “Durante muito tempo, a investigação e desenvolvimento foram feitos individualmente pelas empresas e estes projetos alargados, como as agendas e os projetos mobilizadores, obrigam as empresas a trabalhar em grupo, a comunicar, a aprender umas com as outras, a partilharem os seus técnicos”, o que facilita a implementação de uma estratégia sustentável neste setor. A APIP está ainda a desenvolver um roteiro da descarbonização da indústria dos plásticos, em conjunto com EY Parthenon e apoiado também pelo PRR.

“Existe um mito que tudo o que esteja associado ao plástico é mau”, mas “é importante as pessoas terem a noção de que o plástico tem cerca de 60 anos, tem muitas aplicações, é um material válido e nós temos de saber viver com este material, porque era impossível viver sem plástico”. “Temos de viver com um bom plástico e melhor plástico”, afirma Amaro Reis.

Em que consiste o projeto Better Plastics?

Foi o primeiro projeto mobilizador de investigação e desenvolvimento tecnológico promovido pela APIP, que agregou um ecossistema de inovação, tendo em conta as necessidades e a procura das empresas ligadas, muitas vezes, a entidades do ensino científico, para poder criar uma cadeia de valor com a investigação de novos produtos, novos materiais, novos processos e também de design do produto, porque hoje em dia, mais do que reciclar e reutilizar, os produtos quando são criados já têm que ser pensados para o seu fim de vida.

Como facilitam o fim de vida dos produtos plásticos?

Quando desenhamos uma embalagem, seja uma caixa, uma garrafa ou um produto de plástico, em termos uma pegada de carbono e acautelando o seu fim de vida, vamos ter de conferir características para que o seu fim de vida seja mais fácil. Então, uma das prioridades foi criar produtos monomateriais, isto é, feitos só de uma matéria-prima para que no fim de vida não fosse necessário desmantelar o produto e separar os vários materiais.

Que inovações desenvolveram nesse projeto?

Tivemos produtos desenvolvidos de base biodegradável e compostável para podermos ter aplicações em que os polímeros não fossem de origem fóssil e para também criar soluções e alternativas para substituir produtos que, hoje em dia, são feitos com material com uma pegada de carbono mais alta. Essa investigação abriu caminhos que depois no novo programa Sustainable Plastics se tornaram mais maduros, mais eficazes e se tornaram alternativas palpáveis com a apresentação e com a criação de novos produtos e aplicações.

Qual a vantagem de utilizar materiais biodegradáveis no plástico?

A palavra plástico quer dizer que o material é maleável, pode ser mais rígido ou mais mole, mas é um termoplástico. Em algumas funções mais comuns, os materiais bio são usados para produtos flexíveis e então o objetivo é que esses produtos flexíveis possam ser feitos através de materiais de base biológica para produtos que tenham uma utilização acelerada e que possam ser compostados em ambiente doméstico ou industrial e assim evitar a utilização de plásticos de base fóssil.

O que têm desenvolvido na agenda Sustainable Plastics?

Temos projetos ligados à investigação e desenvolvimento de utilização de produtos reciclados que não tinham utilização e que muitas vezes eram queimados e estão a ser utilizados em compostos com madeira para fazer, por exemplo, aqueles postes que vemos na rua das telecomunicações, que eram 100%, de madeira e passam a ter também incorporados o chamado lixo plastificado. Depois a partir daí poderemos usar muitos objetos que eram feitos de madeira, como o mobiliário urbano, que pode ser feito também com resíduos de plástico. Então, houve um desenvolvimento muito grande nessa área para aplicações mais nobres e com uma capacidade de durabilidade melhor.

Temos projetos também ligados à mobilidade, ligados ao desenvolvimento de novas tecnologias de reciclagem e de novos materiais. Temos projetos também ligados à farmacêutica no desenvolvimento de embalagens para acondicionamento de produtos farmacêuticos, que foram desenvolvidas no seguimento das que têm materiais biodegradáveis, mas já num estágio mais sólido e mais maduro para poder colocar o produto no mercado com uma fiabilidade maior em termos de resistência dos produtos. Temos também projetos ligados às garrafas de água, em que nós podemos pegar uma garrafa de água e através de um QR Code e de códigos que estão dentro do próprio plástico saber a origem da garrafa, com que material foi feita, de onde veio o reciclado que foi usado, em que fábrica foi operado. Por isso, se aquela garrafa aparecer em algum lado, vai ser possível saber de que lado veio, porque houve um desenvolvimento tecnológico em que incorporámos no produto toda essa informação.

Como funciona o roteiro de descarbonização para a indústria dos plásticos?

Nós vamos criar o melhor roteiro de descarbonização do setor do mundo para ajudar as nossas empresas a poderem descarbonizar as suas operações, à sua velocidade e tendo em conta o seu tamanho, [para] termos fábricas carbono zero e termos fábricas muito mais sustentáveis em termos de emissões e da redução da pegada de carbono e, assim, contribuindo para a diminuição dos gases de efeito de estufa.

As indústrias de plástico, ao longo dos anos, tecnologicamente foram criando avanços. São empresas que têm muita tecnologia e, como tal, necessitam de apetrechar os seus equipamentos com tudo o que é de última geração em termos de eficiência energética, porque é uma área muito competitiva e é importante as empresas estarem apetrechadas e serem eficientes energeticamente.

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