Iniciativa Milei-beral
Os argentinos não queriam outra vez arroz, por isso não deram a vitória ao peronista Sergio Massa. O problema é que optaram pelo Pinoché-ché
Humorista
Os argentinos não queriam outra vez arroz, por isso não deram a vitória ao peronista Sergio Massa. O problema é que optaram pelo Pinoché-ché
Surpresa! Fala-se na imprensa portuguesa de um argentino com um cabelo esquisito e estilo desconcertante e, pela primeira vez, não é um extremo-esquerdo de 19 anos do Estudiantes de la Plata cujo pai-agente decidiu apresentar exigências de última hora que podem fazer cair o negócio. Nada disso. Neste Domingo, a Argentina - a viver uma crise inflacionista brutal - elegeu Javier Milei como presidente. Os argentinos não queriam outra vez arroz, por isso não deram a vitória ao peronista Sergio Massa. O problema é que optaram pelo Pinoché-ché.
A Argentina pode agora esperar reformas drásticas. Por exemplo, o presidente-eleito disse no passado que a venda de órgãos é um "mercado como outro qualquer". Só espero que não coloquem a banca de entranhas humanas ao lado da do talho, caso contrário jamais voltarei a comer picanha argentina. Também respondeu "depende", quando questionado sobre se concordava com a comercialização de bebés. Podemos criticar, mas a verdade é que as crianças argentinas jogam especialmente bem à bola. Qual é o problema de fazer algum com o passe de uma jovem promessa de 18 meses?
Por falar em futebol, uma coisa é certa: Lionel Messi não vai terminar a carreira tão cedo. É que os metais preciosos são um sensato investimento em tempos de incerteza e o homem tem facilidade em conquistar bolas de ouro.
Num vídeo que se tornou viral, Milei surge a arrancar papéis de um quadro, revelando os inúmeros ministérios que pretende eliminar. Entre eles, o da educação. Milei considera que a educação não deve ser pública, nem obrigatória. Escola facultativa e poder trocar de progenitores num mercado livre? A minha turma do 4ºB teria votado em massa nele - em vez de em massa no Massa.
António Costa terá ficado com inveja da ideia de acabar com ministérios, pois talvez ainda fosse primeiro-ministro caso tivesse acabado com o das Infraestruturas. Ou mesmo com o Público. Na Argentina, o governo acaba com os ministérios. Em Portugal, segundo alguns, os ministérios acabam com o governo.
Tiago Mayan Gonçalves, candidato presidencial pelo Iniciativa Liberal em 2021, revelou no X (antigo Orkut) que ficou radiante com a vitória do Bolsonaro temperado com chimichurri. Sendo que Milei tem propostas mesmo muito liberais, como acabar com o acesso das mulheres à interrupção voluntária da gravidez. Cotrim Figueiredo teve tanto trabalho a distanciar-se de Ventura no último Expresso da Meia-Noite para agora Mayan vir pedir um tango na taberna do Chega.
Percebo finalmente porque é que há a dúvida de se é “a” Iniciativa Liberal ou “o” Iniciativa Liberal. É que, ideologicamente, são dois partidos: um liberal e um Milei-beral. O/a Iniciativa Liberal, no fundo, é como um museu de arte contemporânea. Tenta ser disruptivo, mas é demasiado elitista e os quadros frequentemente desiludem.
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