Jovens preferem ficar em casa (mais do que as gerações mais velhas), mas quase metade não se identifica com ela
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Um em cada três jovens já fingiram ter planos para, no fim, poderem ficar em casa, apesar de 44% deles sentirem que a habitação não reflete a sua “identidade”. Este número desce para os 33% na população adulta, de acordo com um estudo promovido pelo IKEA
Globalmente, os jovens são aqueles que menos se identificam com a habitação onde vivem. Das 37 mil pessoas inquiridas, de 37 países diferentes, 49% dos jovens, com mais de 18 anos, afirmou não sentir que a sua casa refletia a sua “identidade”. Já 58% da população adulta – aquela com maior probabilidade de deter habitação própria – afirmou o contrário. Em Portugal, os valores são mais altos do que a média europeia em ambas as faixas etárias. Se por um lado 44% dos jovens não vê a sua “identidade” refletida na habitação, por outro só 33% dos adultos sentem o mesmo. Significa que, tanto em Portugal como no resto do mundo, são os jovens os que menos conseguem ver a sua personalidade espalhada no espaço onde habitam.
Ainda assim, 42% dos jovens portugueses admitiu já ter fingido ter planos para poder ficar em casa – um valor 15% acima da geração mais velha. Os dados, divulgados esta sexta-feira, são referentes ao relatório “A Vida em Casa”, de 2022, do IKEA.
Para 44% dos jovens, a casa onde vivem não reflete a sua identidade
“As pessoas com menos rendimentos têm tendência a sentir-se menos ‘em casa’ e sentem menos a sua personalidade refletida onde vivem. Os jovens, tendencialmente, têm rendimentos mais baixos e muitos ainda vivem com os pais”, começa por explicar ao Expresso Katie McCrory, Life at Home Communications Leader no IKEA e responsável pelo relatório. Estas são algumas das explicações para 44% dos jovens afirmarem não sentir a sua “identidade” refletida no espaço onde habitam. Nos adultos, a percentagem desce para 33%, o que revela que há uma tendência para, com o aumento da idade, aumentar também o sentimento de identificação com a habitação.
Além dos salários baixos, existem outras possíveis justificações para a falta deste sentimento de identidade nos mais novos. “Os jovens sentem menos controlo sobre como e onde vivem, por exemplo, não podem fazer alterações como mandar paredes abaixo ou pendurar quadros. Também têm menos dinheiro para comprar os objetos que gostavam de ter e mudam de casa mais frequentemente, o que também dificulta a implementação da sua identidade”. Ainda assim, os jovens portugueses estão 5% acima da percentagem global (56% dos jovens identificam-se com as suas casas, globalmente a percentagem cai para 51%).
De acordo com o estudo, as pessoas que se sentem ‘em casa’ têm “1,5 vezes mais probabilidade de se sentirem positivas em relação à mesma”.
42% dos jovens já fingiram ter planos para ficar em casa
Apesar de se identificarem menos com o espaço onde vivem, são os jovens que mais cancelam planos para não terem de sair de casa (42% dos jovens, em comparação com 27% dos adultos). “Os jovens têm tendência para quererem ficar mais tempo em casa. Um em cada três jovens já fingiu ter planos para ficar em casa, comparado com um em cada quatro adultos”, enumerou Katie McCrory.
Ainda que o relatório não detalhe as razões para estes valores, a responsável do relatório anual encomendado pela empresa sueca põe em cima da mesa fatores como o “aumento do custo de vida” e uma potencial “mudança de prioridades” das novas gerações quanto à forma como vivem as suas vidas e convivem com amigos e família.
Só 23% das pessoas que vivem em quartos alugados tem privacidade
Em 2021, Portugal tornou-se o país da União Europeia onde os jovens saem mais tarde de casa dos pais. A idade média fixou-se nos 33,6 anos, que contrasta com a média europeia de 26,5 anos, segundo dados divulgados pelo Eurostat. Com a inflação e o aumento dos custos da habitação, os poucos jovens que conseguem deixar a habitação onde cresceram não têm, muitas vezes, rendimentos suficientes para alugar ou comprar casa. Desta forma, multiplicam-se os testemunhos de jovens a dividir casa com um ou vários inquilinos na mesma situação. Contudo, uma das consequências desta situação habitacional é a perda de privacidade.
Entre os arrendatários portugueses que alugam quarto, apenas 23% afirmou que a sua casa oferecia privacidade. No contexto global, que inclui inquiridos dos 37 países, a percentagem sobe um pouco mais até aos 31%. Estes valores podem ser uma das razões para os mais jovens – a faixa etária que mais se insere na situação de habitação em quartos alugados – serem aqueles que menos se “divertem” em casa. “Quanto mais jovem, menos a probabilidade de sentir diversão em casa. Ainda que, depois da pandemia, tenhamos visto que cresceu a importância dessa diversão dentro de casa para as pessoas”, revelou Katie McCrory.
85% dos portugueses preocupados com a economia nacional
Inflação, aumento dos produtos essenciais, perda de poder de compra. Estes foram alguns dos temas mais comentados durante um ano marcado também pela guerra na Ucrânia. Esta preocupação com a situação económica do país é transversal à grande maioria dos portugueses. Quando inquiridos sobre as três principais preocupações, 85% dos portugueses apontaram a economia nacional como o principal fator. Logo a seguir, surgiu o impacto das alterações climáticas (78%) e as finanças do agregado familiar (71%).
A nível global, os três tópicos mantêm-se. Contudo, o peso dado a cada um deles difere da realidade nacional. A economia volta a ser a principal preocupação das pessoas, embora com apenas 66% dos inquiridos a priorizá-la (quase 20% menos do que em Portugal). Seguem-se as finanças do agregado familiar (61%) e, por último, o impacto das alterações climáticas (56%).
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