“É o grau zero da dignidade humana”. Leonor Caldeira critica “ativistas das casas vazias” e defende direito à habitação
Leonor Caldeira demonstrou revolta contra aqueles que se mobilizam e comovem com “o direito à propriedade privada imobiliária vazia no longo prazo”, mas nunca se pronunciaram contra a omissão do Estado nas matérias de habitação
Numa participação na “Edição da Noite” da SIC Notícias, relembrou que a Constituição estabelece o direito à habitação e citou a norma que consta na lei fundamental: “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar”.
Aponta “uma violação normalizada” deste direito e relembra a grande quantidade de pessoas “que trabalham a tempo inteiro e não conseguem ter habitação nestes moldes, que é o grau zero da dignidade humana — ter uma casa com condições de higiene, de conforto, com privacidade, com intimidade, para a sua família e para si próprio”.
Os ativistas das casas vazias
“É com muita revolta, e com a ingenuidade que revela a minha surpresa com isto, que agora vejo os ativistas das casas vazias, que é uma coisa que me choca e que até roça a piada de mau gosto”, atira.
“Quando os jovens não saem de casa dos pais, somos nós que somos preguiçosos e somos nós que não trabalhamos o suficiente, e estas pessoas aparentemente sensibilizam-se e ficam nervosas, e mobilizam-se, não pelo direito à propriedade privada, mas pelo direito à propriedade privada imobiliária vazia no longo prazo. Isto é uma coisa tão excecional e tão absurda que já não estamos a falar do direito à propriedade privada, estamos a falar do uso e do abuso da propriedade privada imobiliária”, conclui.
Uma das propostas anunciadas pelo governo no seu pacote de medidas de apoio à habitação passa pela possibilidade de arrendamento coercivo de casas devolutas, o que gerou críticas sobretudo dos setores da direita.
Luís Montenegro criticou as propostas por revelarem a “faceta comunista” do executivo liderado por António Costa, enquanto Rui Moreira apontou uma “pulsão bolivariana autodestrutiva” ao Partido Socialista e a Iniciativa Liberal, na voz do líder Rui Rocha, acusou o governo de estar a promover “um PREC da habitação”.
À esquerda, Pedro Filipe Soares, em declarações ao Expresso, considera que as medidas do Governo para a habitação dificilmente terão um efeito visível. Umas, como o arrendamento coercivo, porque decorrem do que “já estava na lei e não era cumprido”, outras porque não arrefecem o mercado.