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Marisa Matias: “Não tenho nada contra o turismo, mas quando não há regulação a sério o que nós vemos em Lisboa e no Porto é de loucos”

Militante, dirigente do Bloco de Esquerda e eurodeputada, Marisa Matias é a mais recente convidada do Geração 70. Numa conversa com Bernardo Ferrão fala da infância pobre numa aldeia com cem habitantes, do salto para a cidade e da vida estudantil, que Marisa conciliava com trabalho nas limpezas e num bar, mas que - sublinha - era num tempo em que apesar de tudo se tinha muitas ‘expectativas no futuro’. Candidata à presidência da República por duas vezes, fala ainda do seu percurso político, as batalhas que travou e as que trava diariamente. Oiça aqui a entrevista em podcast

Bernardo Ferrão

Bernardo Ferrão

Diretor de Informação da SIC e SIC Notícias

Marisa Matias: “Não tenho nada contra o turismo, mas quando não há regulação a sério o que nós vemos em Lisboa e no Porto é de loucos”

João Martins

Coordenador de Podcasts

João Ribeiro

Sonoplasta

Ricardo Lopes

Nasceu a 20 de fevereiro de 1976, em Coimbra, e cresceu na pequena aldeia de Alcouce, onde não existia luz, nem água canalizada. “A minha família era pobre. Todas as manhãs ia buscar água à fonte e lembro-me de quando veio finalmente a água, a luz e o telefone”, recorda.

Ainda hoje é nessa aldeia despida com menos de 100 habitantes, que continua a sentir-se em casa. “É onde tenho a minha família. Foi em Alcouce que ganhei a noção da vida.”

D.R.

Aos 13 anos apanhava favas com o irmão – “eram as nossas tarefas do quotidiano”. Mas não deixou de ir à escola, o projeto dos pais sempre foi o futuro dos três filhos. A mãe começou a trabalhar depois de tirar a quarta classe, tratava da casa, “fazia umas limpezas aqui e ali” e cuidava de crianças. O pai – depois de voltar do Luxemburgo – trabalhou “toda a vida” como Guarda Florestal.

Ricardo Lopes

Ainda assim, começou a trabalhar na adolescência para ajudar os pais a pagarem os seus estudos. “Trabalhei nas limpezas, limpava prédios”. Já na cidade de Coimbra, para onde se mudou para estudar Sociologia, trabalhou num bar. “Dormia todas as noites umas duas horas”, lembra.

Em casa “falava-se muito de política”. “A minha mãe foi a primeira feminista que conheci. Antes de casar não podia usar calças, não podia cortar o cabelo. O casamento foi uma libertação para ela. Quando casou, a primeira coisa que fez foi ir a Coimbra comprar umas calças e cortar o cabelo – foi um ato de liberdade.”

Ricardo Lopes

Em adolescente envolveu-se nos movimentos de esquerda pela procura de um “caminho de justiça e igualdade social”. Juntou-se ao Bloco de Esquerda nos primeiros anos do partido, no início da década de 2000, e fez todo o percurso de militante de base até à direção nacional.

“Ainda há muito a ideia de que os políticos estão em lugares superiores. Há muita arrogância na política, mas sempre existiu”

O voo para Bruxelas aparece pelo desejo de três pessoas, uma delas Miguel Portas, o amigo que conheceu aos 21 anos e que recorda nesta conversa. Demorou a aceitar o convite para o Parlamento Europeu, mas não conseguiu rejeitar o desafio muito pela “incapacidade de dizer que não”. Em 2024, despede-se de Bruxelas e de Estrasburgo. “Os cargos [políticos] não são eternos. Os lugares de representação não são hierárquicos. Nós estamos ao serviço.”

Marisa Matias, militante e dirigente do Bloco de Esquerda, eurodeputada, e, por duas vezes, candidata à presidência da República, é a mais recente convidada do podcast Geração 70. Numa conversa com Bernardo Ferrão fala da infância pobre, do salto da aldeia para a cidade, da vida e percurso político, sobre saúde mental e as batalhas que travou – e que trava diariamente. “As pessoas não percebem que as questões mentais podem ser irreversíveis, há coisas que ficam para sempre.”

Marisa e o irmão no regresso a casa depois da apanha da fava
D.R.
Paulo Alves

Não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: bferrao@expresso.impresa.pt

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