O Vladimir Putin que José Manuel Durão Barroso vê hoje a invadir a Ucrânia “é muito mais emocional” do que o líder russo com quem o então presidente da Comissão Europeia se reuniu 25 vezes ao longo dos 10 anos que esteve em Bruxelas. Numa entrevista ao Expresso por videoconferência a partir de Londres, recorda uma conversa telefónica com Putin, durante a guerra da Crimeia, em 2014, em que este o tentou fazer acreditar que as tropas que estavam a atacar o território ucraniano não eram do exército russo: “Posso garantir que se fossem as Forças Armadas russas, podíamos tomar Kiev em menos de duas semanas”, disse-lhe o Presidente da Rússia.
O agora invasor da Ucrânia “não disse que queria tomar Kiev” há sete anos, mas deu a entender que “podia fazê-lo”, recorda Durão Barroso. Mas se o Ocidente desvalorizou Putin como um risco grave no passado, agora não o pode fazer, mesmo se estive em causa a ameaça nuclear: “No passado não o levámos a sério, agora, não podemos excluir nada”, diz o português. “Quero acreditar que não” usará o poder nuclear. “Mas o argumento que utilizou para justificar a não existência da Ucrânia, também podia ser utilizado para outros países que fazem parte da UE. Alguns são da UE e da NATO. Por isso, o perigo de uma escalada é real”, afirma. “Temos de ter disciplina para não gerar uma situação que fuja ao controlo”.
Durão Barroso acha que, “com este isolamento, a Rússia vai depender cada vez mais da China”, o que lhe “parece um erro”. Para o ex-presidente da Comissão, “Putin sabe jogar taticamente, mas não sabe jogar estrategicamente. Esta decisão é um erro do ponto de vista estratégico para a Rússia, mesmo do ponto de vista russo”.
Leia a entrevista na íntegra na edição em papel
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt