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Trabalhadores pedem reversão do fecho da refinaria de Matosinhos. GALP diz que decisão é irreversível

Trabalhadores pedem reversão do fecho da refinaria de Matosinhos. GALP diz que decisão é irreversível
José Carlos Carvalho

Sindicatos e trabalhadores acusam GALP de, pela calada da noite, ter tomado uma decisão prejudicial para os interesses do país. Administrador José Silva garante que encerramento da refinaria está fechado, nega instalação de refinaria de lítio no local do complexo industrial mas diz que baterias estão no ADN da empresa

Trabalhadores pedem reversão do fecho da refinaria de Matosinhos. GALP diz que decisão é irreversível

Isabel Paulo

Jornalista

Em reunião de executivo da Câmara de Matosinhos, esta terça-feira, os representantes dos trabalhadores apelaram à reversão do encerramento da refinaria de Leça da Palmeira, que emprega mais de 400 funcionários e garante quase mil postos de trabalho indireto. No pedido de ajuda à vereação presidida pela autarca socialista Luísa Salgueiro, Telmo Silva alegou que a decisão da GALP é “totalmente errada”, além de ter sido tomada“ pela calada da noite”, num comunicado à CMVM, sem acautelar o futuro dos trabalhadores.

O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústria Transformadoras, Energias e Atividades Ambientais afirma que o anúncio da descontinuidade da produção da refinaria foi “um choque e uma enorme desilusão”, temendo que o fecho lance os trabalhadores no desemprego e pobreza“ e se transforme num "desastre económico e social para o concelho”.

Telmo Silva lembrou ainda que os sindicatos tinham razão nas suas preocupações quando viram parte da produção fechar, “apesar de a GALP e Ministro do Ambiente terem dito que era uma situação temporária devido à diminuição da procura de combustível por força da pandemia”. “O que vemos, é um dos maiores grupos económicos, que gera milhões de lucro todos os anos, a arrepiar caminho e a desferir um golpe na capacidade exportadora da região e do país, colocando-o numa situação débil de autonomia energética”, concluiu Telmo Silva, defendendo a reabertura de todas as unidades da refinaria.

Rui Pedro Ferreira, funcionário da Petrogal há 34 anos, também se manifestou contra o encerramento do complexo industrial instalado em Matosinhos há meio século, apelando a todas as forças políticas que acautelem uma transição energética humanizada. O dirigente do Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (SICOP) referiu que a concentração da refinação em Sines irá criar problemas de abastecimento a norte e que apenas a reversão do encerramento da refinaria impedirá que a Repsol invada o mercado nacional. Lembrando que a GALP investiu mais de € 350 milhões na refinaria de Matosinhos que agora encerra, Rui Pedro Ferreira considerou a decisão "incompreensível". "As questões ambientais não justificam esta opção, até porque a refinaria não produz só combustível, mas óleos e produtos aromáticos únicos na Península Ibérica essenciais para a nossa indústria têxtil”, sublinhou.

“Não é transição energética, é empurrão dos trabalhadores”

O secretismo em torno da decisão é uma das mais duras críticas dos trabalhadores à administração da GALP, que exigem que a empresa “fale verdade”. “Até hoje não fomos ouvidos. Para nós foi um choque receber um cabaz de natal no mesmo dia em que a empresa comunicou o fecho à CMVM”, lembra José Santos. O dirigente do SIVE-Norte adverte que a refinaria da Repsol na Corunha vai manter investimentos até 2027, enquanto o Governo português quer liderar a transição energética “a qualquer custo”.

“Aqui não é transição energética, é empurrão dos trabalhadores, com o ministro do Ambiente a levantar a bandeira dos verde”, critica o trabalhador.

Em resposta aos trabalhadores, a presidente da Câmara de Matosinhos lastimou o facto de a administração da GALP ter atuado à revelia dos trabalhadores, tendo frisado que podem contar com a defesa da autarquia. Presentes na reunião, os vereadores da CDU, PSD e dos movimentos independentes 'Narciso Miranda' e 'António Parada, SIM' revelaram estar solidários com os trabalhadores e atentos ao evoluir da situação. José Pedro Rodrigues garante que o encerramento é nefasto para a Matosinhos e para a região, defendendo de forma intransigente a reversão da decisão.

Presente por videoconferência na reunião, José Silva, administrador da GAL, foi questionado por Luísa Salgueiro sobre a razão pela qual os trabalhadores só por terceiros souberem do encerramento, sobre o que leva a empresa a fechar unidades de óleos e aromáticos que o país passará a ter de importar, se há acordos para a refinação de lítio no local da refinaria e ainda se a GALP admite não dispensar trabalhadores ou se a reversão do encerramento da refinaria está em cima da mesa.

“Baterias estão no ADN da GALP”

Em resposta à última pergunta, José Silva foi taxativo: “a decisão está fechada e é irreversível”. O administrador responsável pela empresa em Matosinhos avançou que foram realizados estudos, mas que a conclusão é que não existe racionalidade económica na manutenção da produção em Matosinhos devido à diminuição da procura de combustível, “acentuada pelo confinamento ditado pelo estado de emergência, e pela tendência de energias alternativas”.

Toda a produção fabril será encerrada em 2021, enquanto a desconstrução do complexo industrial irá acontecer nos próximos três a cinco anos. As metas de descarbonização da UE foram outros dos motivos invocados pela administração, que rejeita que a decisão tenha sido assumida em segredo. José Silva garante que o primeiro-ministro e os ministros do Ambiente e da Economia foram informados dia 18 de dezembro, uma sexta-feira, três dias antes da comunicação à CMVM.

Em relação ao futuro dos trabalhadores, a administração diz que a primeira medida passa pela suspensão imediata de novas contratações, integração dos trabalhadores noutras empresas do grupo, reconversão profissional ou acordos de pré-reformas. “Todos serão tratados com respeito”, afirmou José Silva. Para o local da refinaria, a administração adianta que nada está decidido, nega instalação de uma refinaria de lítio, embora José Silva tenha admitido que a empresa tem em curso um estudo sobre “alimentação de baterias, algo que está no ADN da GALP”.

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