Em reunião de executivo da Câmara de Matosinhos, esta terça-feira, os representantes dos trabalhadores apelaram à reversão do encerramento da refinaria de Leça da Palmeira, que emprega mais de 400 funcionários e garante quase mil postos de trabalho indireto. No pedido de ajuda à vereação presidida pela autarca socialista Luísa Salgueiro, Telmo Silva alegou que a decisão da GALP é “totalmente errada”, além de ter sido tomada“ pela calada da noite”, num comunicado à CMVM, sem acautelar o futuro dos trabalhadores.
O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústria Transformadoras, Energias e Atividades Ambientais afirma que o anúncio da descontinuidade da produção da refinaria foi “um choque e uma enorme desilusão”, temendo que o fecho lance os trabalhadores no desemprego e pobreza“ e se transforme num "desastre económico e social para o concelho”.
Telmo Silva lembrou ainda que os sindicatos tinham razão nas suas preocupações quando viram parte da produção fechar, “apesar de a GALP e Ministro do Ambiente terem dito que era uma situação temporária devido à diminuição da procura de combustível por força da pandemia”. “O que vemos, é um dos maiores grupos económicos, que gera milhões de lucro todos os anos, a arrepiar caminho e a desferir um golpe na capacidade exportadora da região e do país, colocando-o numa situação débil de autonomia energética”, concluiu Telmo Silva, defendendo a reabertura de todas as unidades da refinaria.
Rui Pedro Ferreira, funcionário da Petrogal há 34 anos, também se manifestou contra o encerramento do complexo industrial instalado em Matosinhos há meio século, apelando a todas as forças políticas que acautelem uma transição energética humanizada. O dirigente do Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (SICOP) referiu que a concentração da refinação em Sines irá criar problemas de abastecimento a norte e que apenas a reversão do encerramento da refinaria impedirá que a Repsol invada o mercado nacional. Lembrando que a GALP investiu mais de € 350 milhões na refinaria de Matosinhos que agora encerra, Rui Pedro Ferreira considerou a decisão "incompreensível". "As questões ambientais não justificam esta opção, até porque a refinaria não produz só combustível, mas óleos e produtos aromáticos únicos na Península Ibérica essenciais para a nossa indústria têxtil”, sublinhou.
“Não é transição energética, é empurrão dos trabalhadores”
O secretismo em torno da decisão é uma das mais duras críticas dos trabalhadores à administração da GALP, que exigem que a empresa “fale verdade”. “Até hoje não fomos ouvidos. Para nós foi um choque receber um cabaz de natal no mesmo dia em que a empresa comunicou o fecho à CMVM”, lembra José Santos. O dirigente do SIVE-Norte adverte que a refinaria da Repsol na Corunha vai manter investimentos até 2027, enquanto o Governo português quer liderar a transição energética “a qualquer custo”.
“Aqui não é transição energética, é empurrão dos trabalhadores, com o ministro do Ambiente a levantar a bandeira dos verde”, critica o trabalhador.
Em resposta aos trabalhadores, a presidente da Câmara de Matosinhos lastimou o facto de a administração da GALP ter atuado à revelia dos trabalhadores, tendo frisado que podem contar com a defesa da autarquia. Presentes na reunião, os vereadores da CDU, PSD e dos movimentos independentes 'Narciso Miranda' e 'António Parada, SIM' revelaram estar solidários com os trabalhadores e atentos ao evoluir da situação. José Pedro Rodrigues garante que o encerramento é nefasto para a Matosinhos e para a região, defendendo de forma intransigente a reversão da decisão.
Presente por videoconferência na reunião, José Silva, administrador da GAL, foi questionado por Luísa Salgueiro sobre a razão pela qual os trabalhadores só por terceiros souberem do encerramento, sobre o que leva a empresa a fechar unidades de óleos e aromáticos que o país passará a ter de importar, se há acordos para a refinação de lítio no local da refinaria e ainda se a GALP admite não dispensar trabalhadores ou se a reversão do encerramento da refinaria está em cima da mesa.
“Baterias estão no ADN da GALP”
Em resposta à última pergunta, José Silva foi taxativo: “a decisão está fechada e é irreversível”. O administrador responsável pela empresa em Matosinhos avançou que foram realizados estudos, mas que a conclusão é que não existe racionalidade económica na manutenção da produção em Matosinhos devido à diminuição da procura de combustível, “acentuada pelo confinamento ditado pelo estado de emergência, e pela tendência de energias alternativas”.
Toda a produção fabril será encerrada em 2021, enquanto a desconstrução do complexo industrial irá acontecer nos próximos três a cinco anos. As metas de descarbonização da UE foram outros dos motivos invocados pela administração, que rejeita que a decisão tenha sido assumida em segredo. José Silva garante que o primeiro-ministro e os ministros do Ambiente e da Economia foram informados dia 18 de dezembro, uma sexta-feira, três dias antes da comunicação à CMVM.
Em relação ao futuro dos trabalhadores, a administração diz que a primeira medida passa pela suspensão imediata de novas contratações, integração dos trabalhadores noutras empresas do grupo, reconversão profissional ou acordos de pré-reformas. “Todos serão tratados com respeito”, afirmou José Silva. Para o local da refinaria, a administração adianta que nada está decidido, nega instalação de uma refinaria de lítio, embora José Silva tenha admitido que a empresa tem em curso um estudo sobre “alimentação de baterias, algo que está no ADN da GALP”.
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