Manuel Beja, presidente do conselho de administração da TAP, estava numa deslocação em serviço. Sentado ao lado do motorista, questionou-o.
“Então, o trabalho?”
“Hoje está complicado. Porque estou consigo, há um motorista que está com a Christine [Ourmières-Widener] e um terceiro com o marido da Christine o dia todo”.
Manuel Beja teve dificuldades em compreender o que ouvia. “Causou-me perplexidade”, confidenciou aos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP esta terça-feira, 11 de abril, quando lhes revelou o episódio.
O motorista contou ainda ao chairman da transportadora aérea que a utilização de viaturas e motoristas para fins pessoais acontecia de vez em quando.
“Perguntei à secretaria-geral, a área da TAP que gere o serviço, se acontecia. Foi-me confirmado”, relatou Manuel Beja.
Depois, o líder não executivo da TAP confrontou a presidente da comissão executiva. Nas várias respostas, Christine Ourmières-Widener defendeu que “não era a única pessoa”, e depois referiu mesmo que estava em causa uma “perseguição pessoal”.
“Perdi a paciência”, foi como Manuel Beja acabou por se posicionar neste caso. “Os argumentos não eram de todo aceitáveis, revelavam uma liderança pouco servidora, revelavam-me uma falta de preocupação com o bom senso e a razoabilidade. Preocupou-me bastante”, confidenciou Manuel Beja.
Daí que Manuel Beja tenha decidido criar uma regulamentação para impedir a utilização de motoristas da TAP para fins pessoais. Um facto já anunciado por Alexandra Reis na sua audição na semana passada.
O presidente não executivo da TAP também confirmou que a CEO quis afastar o motorista por não estar vacinado para a covid-19, tal como tinha sido já revelado na audição anterior. Primeiro pela não vacinação, depois porque quis reduzir a equipa de motoristas. “Pareceu-me até mais preocupante do que o episódio inicial”, declarou Manuel Beja aos deputados.
Falta de bom senso na contratação da mulher do treinador do marido
Questionado pela deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda sobre a polémica contratação para um cargo de direção de Isabel Nicolau, uma amiga de Christine Ourmières-Widener, a qual conheceu através do treinador pessoal do marido, Manuel Beja assegurou ter sido um motivo de "desconforto" e um ato de falta de bom senso.
“Do ponto de vista reputacional não foi bom para a TAP e revelou falta de bom senso”, frisou.
O gestor sublinhou porém não conhecer Isabel Nicolau, contrada para um cargo de diretora de segunda linha.
Atualizada às 20:50
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