TAP: Alexandra Reis travou contratação da empresa do marido da CEO e levantou dúvidas à mudança de sede
ANTONIO PEDRO FERREIRA
"Em dezembro de 2021 dei instruções muito claras à minha equipa: nenhuma adjudicação a essa empresa", afirmou a antiga administrador da TAP, referindo-se à empresa do marido de Christine Ourmières-Widener que propôs serviços à transportadora. Porque saiu ? “Foi a vontade da CEO”
Alexandra Reis, a administradora da TAP que saiu com uma indemnização de 500 mil euros, depois de ser despedida, assegura que nunca falou com Christine Ourmières-Widener sobre a proposta da empresa de informática ligada ao marido da presidente, a Zamma Technologies. Contudo, manteve a sua equipa de sobreaviso para que não houvesse qualquer adjudicação.
"Nunca falei com a CEO sobre as propostas que uma empresa, Zamma, fez à TAP. E a CEO nunca fez nenhum comentário sobre isso", sublinhou na Comissão Parlamentar de Inquérito, referindo-se à empresa onde trabalhava o marido da CEO; Floyd Murray Widener. "Em outubro foi feita uma proposta pela Zamma, e mantive a minha equipa de sobreaviso", conta aos deputados, em resposta ao deputado da Iniciativa Liberal. E acrescenta: "Em dezembro de 2021 dei instruções muito claras: nenhuma adjudicação a essa empresa".
Mais tarde explica: "Entendi dar aquelas indicações à equipa porque havia conflitos de interesse. Não estava previsto [contratar aquele tipo de serviço], não estava orçamentada e nem estava identificada aquela necessidade. "Por isso, achei que não valia a pena ter recursos gastos com aquele tema".
Este foi um dos motivos invocados, nomeadamente pelos deputados, para que tenham eclodido divergências entre a presidente executiva e a administradora. Mas não só.
Mudança de sede ia penalizar
E bloqueou a mudança da sede?, perguntou ainda o deputado da IL. "A certa altura, mostrei muitas e reservas sobre esse assunto", diz. E por várias razões: "A TAP paga zero pelo edifício [na Portela]. Mudar exigia pagar uma renda. E havia custos adicionais com obras".
Além disso, afirma ainda a gestora, era uma mudança penalizadora para os colaboradores da TAP, já que não se iria encontrar um sitio com uma cantina para tantas pessoas, e, acrescentou, o subsídio de refeições é baixo. Havia, explica ainda, a questão do estacionamento para 1200 pessoas.
Alexandra Reis diz que para ela não são claras as razões para a saída da TAP. Tem dúvidas.
“Não tenho dúvidas que foi a vontade da CEO. A CEO queria que eu saísse da empresa. Tenho dúvidas sobre os motivos. Não terá ficado para mim na altura. Tive oportunidade de ler o relatório da Inspeção-Geral de Finanças, onde li divergências irreconciliáveis. Ontem [na audição da CEO], ouvi falar de reorganização, de perfil. Por isso, confesso que para mim não são claras as razões para a minha saída da TAP. Sempre tive uma relação cordial e de trabalho com todos os membros do Conselho de Administração e da Comissão Executiva, que me parece normal que haja algumas diferenças de opiniões sobre alguns assuntos”, explicou-se longamente a ex-gestora da TAP, que esteve também na presidência da NAV e depois foi, por um mês, secretária de Estado do Tesouro.
Aliás, em relação às divergências foi além da compra de sede da TAP, do aumento de capital e da empresa do marido da presidente. “O sr deputado falou-me em três temas, provavelmente terá havido outros: a contratação de pessoas, o tema do procurement, que também era uma preocupação da CEO”.
Alexandra Reis assegura ainda que nunca foi contra o aumento de capital da TAP no âmbito do plano de reestruturação da conversão do empréstimo em capital, contradizendo o que afirmou a ainda CEO da companhia na terça-feira, na CPI.
Alexandra Reis saiu em fevereiro de 2022 da administração da TAP, depois de um processo negocial que rendeu uma indemnização de 500 mil euros que, devido a um acordo considerado indevido pela IGF, será devolvido na sua grande maioria - qual o valor, Alexandra Reis disse ainda não saber, porque a TAP não lhe responde.
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