Christine usava motoristas da TAP para serviço particular, presidente da companhia proibiu a prática
ANTONIO PEDRO FERREIRA
Deputados têm informação que motoristas alocados à presidente executiva eram utilizados para deslocações pessoais de familiares, e falam de tentativa de “retaliação” a motorista que comentou a situação
A dado momento dos últimos dois anos, foi preciso impor uma regra na TAP: “Os motoristas apenas poderiam ser utilizados para motivos profissionais”. Não podiam ser usados para fins pessoais. Quem o instituiu foi o presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, segundo relatou esta quarta-feira, 5 de abril, a antiga administradora executiva da empresa, Alexandra Reis.
“O sr. presidente do Conselho de Administração impôs uma regra relativa à utilização das viaturas e dos motoristas; a generalidade dos administradores não o fazia. Ficou resolvido”, garantiu.
A regra, admitiu em resposta à deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, “poderá estar relacionada com alguma situação”. “Mas não conheço os detalhes”, disse.
Porém, houve mais pormenores a saber, porque a deputada quis saber qual a sua origem. “Houve uma situação, com um motorista, que terá partilhado, com alguma candura” sobre uma deslocação que não era para a presidente executiva da TAP – os deputados disseram que eram para seus familiares. “Esse poderá ter sido o trigger [gatilho]”, sugeriu Alexandra Reis.
A deputada do Bloco de Esquerda quis saber se houve alguma “retaliação”. “Por essa altura, em dezembro de 2021, a CEO deu-me nota que um dos motoristas não estava vacinado contra a covid-19 e que nessas circunstâncias não poderia continuar na empresa e a exercer aquelas funções. Mas essa situação foi contornada”.
Ligação a sindicato
Já o deputado Filipe Melo, do Chega, quis saber se o motorista acabou despedido. “Não”, garantiu Alexandra Reis. “Porque se vacinou”, constatou.
Mais seriamente, disse a ex-gestora, “a TAP não iria despedir ninguém por não ser vacinado”. “O motorista manteve a sua função naquele lugar, porque muito rapidamente entendeu que a vacinação ia ser importante para desempenhar aquelas funções”, conclui. Sendo vacinado, “o argumento da vacinação já estava exaurido”.
O Chega viu outro motivo para a “retaliação”: “Ao que parece, esta ameaça de despedimento foi porque é familiar de um presidente de um dos maiores sindicatos da TAP”, disse Filipe Melo, sem identificar.
Alexandra Reis disse que “nunca ninguém” falou consigo sobre esse tema enquanto esteve na empresa, dizendo que até só foi informada desse facto posteriormente.
Esta questão foi levantada em relação à presidente executiva, que esteve ontem na audição parlamentar, em que o assunto não foi levantado pelos deputados.
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