Medina pediu à CEO da TAP para demitir-se antes de a despedir, Christine vai "repor a honra"
TIAGO MIRANDA
“Demitir-me seria admitir que fiz algo mal. E não fiz nada mal”. Christine Ourmières-Widener recusou pedido de Fernando Medina para se demitir. Um dia depois assistiu à sua demissão por televisão. “Foi por razões políticas e nada mais”
“Foi o pior dia da minha vida”. Christine Ourmières-Widener assumiu que foi assim que se sentiu no dia 6 de março, quando Fernando Medina e João Galamba anunciaram o seu afastamento da presidência da TAP por “justa causa”. Por isso, tem uma “prioridade”: “Tentar repor a minha honra, a reputação internacional que tenho nesta indústria”.
As declarações da presidente da TAP foram proferidas na audição desta terça-feira, 4 de abril, na comissão parlamentar de inquérito.
Segundo disse, nas insistentes questões colocadas pelo deputado social-democrata Paulo Moniz, a CEO da TAP assumiu-se surpreendida porque não tinha sido informada anteriormente de que seria afastada daquele cargo - embora tenha sido convidada a demitir-se.
Mais tarde na audição da comissão de inquérito, acabou por admitir que desde a manhã de dia 6, após um “breve encontro” com João Galamba, soube que seria afastada, mas "nunca foi invocada a justa causa".
Christine Ourmières-Widener ficou surpreendida porque considera que a demissão por “justa causa” não se justifica. “Por fazer o meu trabalho, estou nesta posição”, defendeu-se
A justificação dada pelo Governo para o afastamento unilateral foi a auditoria da Inspeção-Geral de Finanças, que considerou que a assinatura que deixou em fevereiro de 2022 no acordo para a saída da ex-gestora da TAP, Alexandra Reis, violou o Estatuto do Gestor Público.
Uma justificação com que discorda: “A única explicação é que foi por razões políticas. Pressão política”. Por isso, vai lutar pela honra - e pelos montantes a que terá direito pelos salários a que tinha direito pelo mandato em curso.
A surpresa da presidente executiva da TAP ao ver-se demitida de forma unilateral deveu-se ao facto de ter estado numa reunião com o ministro das Finanças, Fernando Medina, um dia antes. Nesse encontro, houve um pedido do governante: “Pediu-me para me demitir”, revelou.
“Durante a reunião, o ministro sugeriu que podia ser bom para a minha reputação demitir-me”, explicou.
“Demitir-me seria admitir que fiz algo mal. E não fiz nada mal”, justificou-se a CEO na sua audição, perante os deputados do inquérito parlamentar.
Foi uma reunião “muito difícil”, porque ouviu do ministro que os resultados da TAP eram “fenomenais”. “Mas, à vista da pressão de diferentes fontes, não havia opção para o Governo, não havia grande espaço para o mandato seguir em frente”, disse. Porém, nada foi confirmado, só no dia seguinte na conferência de imprensa. “Quando o ministro me questionou se me queria demitir, não disse que me ia afastar”, completou. No dia seguinte, foi isso que aconteceu.
Fernando Medina fez o pedido para a demissão em nome próprio de Christine Ourmières-Widener quando estava prestes a ser tornado público, um dia depois, que a IGF considerou que a CEO falhou perante o acionista Estado e que havia “responsabilidade financeira” a assumir, junto do Tribunal de Contas. Isto porque tinha assinado a indemnização de meio milhão de euros para que, um ano antes, em janeiro de 2022, Alexandra Reis deixasse a gestão da transportadora.
(notícia atualizada às 00h00 com mais informações)
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