Transportes

CEO da TAP compromete gestor financeiro, Pedro Nuno Santos e não vê "justa causa" para ser afastada: "Sou bode expiatório"

CEO da TAP compromete gestor financeiro, Pedro Nuno Santos e não vê "justa causa" para ser afastada: "Sou bode expiatório"
TIAGO MIRANDA

Christine Ourmières-Widener diz que desde janeiro de 2022 colocou o presidente da administração e o administrador financeiro informados sobre a intenção de afastar Alexandra Reis da TAP. Hugo Mendes esteve no processo e disse que ia pôr Pedro Nuno Santos a par. Há críticas para Galamba e Medina

Foi com uma apresentação, com uma cronologia dos primeiros dias de janeiro de 2022, que Christine Ourmières-Widener, ladeada pelos seus advogados, se posicionou perante a comissão de inquérito à TAP. Com ela, a presidente executiva (CEO) da transportadora contrariou o gestor financeiro, Gonçalo Pires, comprometeu o ministério das Infraestruturas de Pedro Nuno Santos, sobretudo o secretário de Estado Hugo Mendes, e deixou farpas à gestão política agora feita por João Galamba e Fernando Medina. Considera-se “um bode expiatório”, numa “batalha política”.

Contraria Gonçalo Pires

Segundo a apresentação, a proposta de reorganização da comissão executiva, em que pretendia afastar Alexandra Reis, que considerava ter um “desalinhamento” com a estratégia para a TAP, foi feita a 18 de janeiro de 2022 e logo no dia seguinte informou o presidente da administração, Manuel Beja, e o administrador financeiro, Gonçalo Pires.

"A 19 de janeiro, enviei um e-mail para o Ministério das Infraestruturas sobre a reorganização. Ao mesmo tempo, informei o presidente do conselho de administração e o administrador financeiro", disse. “A 25 de janeiro o Ministério das Infraestruturas sugeriu que falasse com Alexandra Reis para ver se estaria disponível para sair em que condições. Informei deste encontro o presidente do conselho de administração e o CFO”, acrescentou.

Christine Ourmières-Widener afirmou que Gonçalo Pires "estava a par do projeto para a nova organização [após a atribuição dos cargos de Alexandra Reis] porque alguns das funções seriam para ele". A gestora salientou ainda que “estava a par da discussão sobre a saída de Alexandra Reis, mas não posso confirmar se estava ou não a par do montante [da indemnização]”.

Assegura ainda que teve mais do que uma conversa com o administrador financeiro, "porque temos mais do que uma mensagem trocada".

Afirmações que contrariam o que foi dito por Gonçalo Pires na semana passada, que disse ter sido sempre mantido afastado do processo de afastamento da sua colega, e que só soube poucos dias antes de ele se ter concretizado. Embora a CEO tenha sido afastada, o CFO continua em funções.

Alexandra Reis fechou o acordo para a sua saída, com a indemnização de meio milhão euros que a Inspeção-Geral das Finanças (IGF) acabou a classificar ilegal, já em fevereiro de 2022.

Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja foram os visados pela auditoria da IGF por terem sido quem assinou o acordo para a saída de Alexandra Reis, depois considerada indevida por violar o estatuto de gestor público. Enfrentam agora uma averiguação do Tribunal de Contas por isso mesmo.

TIAGO MIRANDA

Desconhecia liderança de Pedro Nuno

Nesse processo, quem esteve sempre a par foi o antigo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, desde o início e durante o andamento das negociações. No fim de janeiro, Hugo Mendes até pediu informações sobre indemnizações anteriormente pagas pela TAP – isto porque Alexandra Reis começou a pedir 1,5 milhões de euros.

Aliás, numa mensagem, Hugo Mendes até transmitiu à CEO que iria informar o ministro, Pedro Nuno Santos, sobre todo o processo.

Sobre o facto de o Ministério das Finanças, então liderado por João Leão, ter sido mantido à parte, Christine Ourmières-Widener argumentou que “não tinha como saber que o Ministério das Infraestruturas não estava articulado com o Ministério das Finanças”. Disse, aliás, que o contacto com as Finanças era sempre feito por Gonçalo Pires ou Manuel Beja. E esclareceu que nunca falou com João Leão sobre a saída de Alexandra Reis.

Defende, porém, que todos estavam neste processo com a convicção de que "estava a ser feito de boa fé, e a ser bem acompanhado" por parte dos advogados.

Governo criticado

Sobre o seu afastamento, depois da auditoria da IGF que considerou que Christine Ourmières-Widener cometeu falhas procedimentais, nomeadamente por um acordo à luz do estatuto do gestor público que não tem figura jurídica, a CEO deixou várias críticas.

Desde logo, disse que “houve tantas pessoas envolvidas”, desde advogados e membros do governo, e que mesmo assim houve uma falha ao definir um acordo com indemnização que a lei não prevê. "Como se pode dizer que é uma coisa de conhecimento básico?"

“O tema não é básico, em termos que permita sustentar uma justa causa”, declarou Christine Ourmières-Widener. Até disse que estava a ser usada como um “bode expiatório”.

Aliás, aos atuais titulares da tutela sobre a TAP, João Galamba e Fernando Medina, deixou farpas, por ter sido afastada, e "estar sem orientações, numa altura muito crítica para a TAP".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ACampos@expresso.impresa.pt

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