A redução do número de licenciados em Portugal não tem base real e trata-se apenas de um “desvio estatístico”, garantiu Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), numa análise macroeconómica do País publicada esta segunda-feira, 4 de setembro.
“Estamos a acumular e a reter capital humano qualificado. Nos últimos vinte anos, a escolaridade dos nossos jovens passou do último lugar na área do euro para os lugares cimeiros (de 40% dos jovens com pelo menos o ensino secundário para 89%). Mas vamos a meio caminho desta revolução silenciosa, que não podemos abandonar”, frisou.
De acordo com uma análise recente do BPI a partir de dados do INE, o número de pessoas empregadas com ensino superior caiu, no segundo trimestre de 2023, 7,3% face ao período homólogo. Ou seja: menos 128 mil pessoas. Foi a quarta queda trimestral homóloga consecutiva. Numa altura em que o emprego em Portugal atinge máximos, este parece estar a ser sustentado pelos trabalhadores menos qualificados. Para o BPI, “esta situação deverá ser explicada pela emigração de indivíduos mais qualificados” - que estarão a triplicar os salários lá fora.
Para o governador, esta emigração massiva de jovens qualificados não existe. “Recentemente, temos sido confrontados com uma suposta “redução” do número de licenciados. Contudo, trata-se apenas de um desvio estatístico, sem sustentação socio-económica”, defendeu.
E argumenta: “Vejamos. Entre 2011 e 2019, a população portuguesa com ensino superior aumentou ao ritmo de 71 mil por ano. Já entre o final de 2019 e meados de 2022 este número teria passado a 180 mil licenciados por ano! Apesar das melhorias do sistema de educação superior, isto é incompatível com o fluxo de alunos formados por ano. Na ausência de fluxos migratórios massivos de entrada de licenciados em plena pandemia, esta evolução não é credível”, disse.
“Corrigido o desvio, os atuais dois milhões de licenciados correspondem a um aumento, também, de 71 mil por ano desde 2019. Nada mudou. O país não está destinado a qualificações que muitos pensavam ser endemicamente reduzidas, nem à emigração”, sublinhou.
“Mais, a este aumento de oferta qualificada, o mercado de trabalho respondeu, criando emprego nos setores com melhores remunerações; o emprego privado em setores que pagam salários acima da média cresceu 44% face a 2015 e 29% nos restantes setores. A formação dos nossos jovens e a criação de empregos qualificados não é um processo instantâneo; devemos mostrar toda a nossa temperança”, acrescentou.
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