BCE revê regras salariais à medida que aumentam tensões internas com os sindicatos
O BCE está a rever as regras de atualização salarial dos seus funcionários. Em cima da mesa está uma proposta de revisão dos aumentos em função da inflação
As disputas salariais continuam no Banco Central Europeu. Depois de ter decidido aumentar os seus funcionários em 4% este ano, os trabalhadores lançaram um processo de discussão para a revisão das regras salariais, que passe a prever propostas de aumentos salariais semiautomáticos quando os preços subirem, noticia o “Financial Times”.
Os funcionários sindicalizados solicitaram a revisão depois de contestarem os aumentos salariais deste ano. Os 4% de atualização deste ano foi o dobro da meta de inflação do BCE (2%) e está em linha com o crescimento salarial em toda a zona do euro mas deixou os trabalhadores com um corte real no poder de compra, depois da inflação ter atingindo a média de 8,4% na zona do euro em 2022.
A disputa coloca o BCE numa posição incómoda depois de ter elevado novamente as taxas de juro na semana passada, por forma a controlar a inflação, enquanto diz aos trabalhadores que não vai aumentar os salários, escreve o Financial Times.
Carlos Bowles, vice-presidente do sindicato IPSO (que representa os funcionários do BCE), disse ao jornal que vai pedir “uma abordagem mais equilibrada” para definir os salários dos funcionários, como “a que está em vigor na Comissão Europeia”, onde os salários cresceram 6,9% este ano, com parte do aumento determinado por um mecanismo de ajuste automático projetado para manter o poder de compra relativo dos funcionários públicos em toda a Europa. Cerca de 2,5% do aumento também foi devido a um pagamento adiado de 2020.
Contudo, o BCE tem-se mostrado contra o aumento generalizado dos salários, por acabar por pressionar os preços, mantendo a inflação elevada.
A metodologia atual do banco central para ajustar a remuneração de todos os seus funcionários é baseada na dinâmica salarial dos bancos centrais nacionais da zona euro, da Comissão Europeia, do Banco Europeu de Investimento e do Banco de Compensações Internacionais.
O sindicato alega que o BCE não seguiu corretamente a metodologia de aumentos este ano.
Quanto ao assunto, o BCE apenas referiu que está uma revisão em curso, após ter sido solicitada, ainda no ano passado, por um sindicato. A revisão - apenas a segunda na história do BCE - deve durar além do final de 2023, quando a inflação deverá rondar os 3% segundo as últimas previsões, o que significa que o aumento de 2024 será, à partida, inferior e continuará a haver perda de poder de compra.
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