Sistema financeiro

Centeno contra medidas transversais para crédito à habitação e contra congelamento de prestações

Centeno contra medidas transversais para crédito à habitação e contra congelamento de prestações
TIAGO PETINGA

Governador do Banco de Portugal responde a pedido de reflexão de Presidente da República com recusa de apoios generalizados aos clientes da banca

O Presidente da República pediu uma reflexão sobre o crédito à habitação, agora que as taxas de juro estão a agravar as prestações dos portugueses, e o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já tem uma resposta: medidas para todos não são desejáveis.

“Medidas generalizadas? Confesso que não sou muito favorável. Geram comportamentos de mimetismo e que levam outros a aderir a essas medidas sem ter necessidades, e criando problemas para o futuro, sejam as pessoas marcadas como incumpridoras [no sistema bancário] ou não”, respondeu Mário Centeno em conferência de imprensa esta quarta-feira, 17 de maio, para a apresentação das contas de 2022, em que o lucro cedeu 42% precisamente pelo impacto da nova política monetária.

Centeno defende uma atuação “muito focada” em situações em que haja efetiva dificuldade, sem que leve outros clientes a pedir um apoio que até possa ser negativo. E o governador diz também que “em todos os momentos do ciclo económico há casos de incumprimento”.

A suspensão do pagamento dos créditos à habitação não é do agrado do líder da autoridade bancária. O governador manifestou a mesma posição em relação ao regime das moratórias da covid, sendo que agora também há alguns apelas a uma medida similar, já que há famílias a enfrentar aumentos de centenas de euros mensais nos seus empréstimos.

“As taxas estão altas? Qual a resposta? Suspender os pagamentos? Suspender os pagamentos quando estão baixas e quando estão altas? Em que é que ficamos?”, questionou Mário Centeno, lembrando que as taxas de juro que servem de indexante bancário “são altas, mas não historicamente elevadas”.

País melhor

Ao longo da conferência, Mário Centeno foi dando argumentos para mostrar que a situação do país melhorou: “Nós, como país, como sistema bancário, financeiro, nunca estivemos tão bem preparados como estamos hoje. Estamos em boas condições para enfrentar os desafios que temos em mãos”.

Um dos pontos que o governador refere está relacionado com o peso do crédito: “A prestação mediana do crédito bancário é hoje igual à de 2009, muito parecida, de 320 euros. Mas o rendimento disponível das famílias cresceu 30%”, ressalvou. Além disso, “há menos 16% de famílias com crédito à habitação do que as que existiam em 2009”.

Além disso, Centeno sublinhou também que as amortizações de crédito subiram 70% no primeiro trimestre face ao mesmo período de 2022, “em termos próximos de 2600 milhões de euros”. “É 2,5% do crédito abatido em amortizações antecipadas”, frisou, mostrando a vontade das pessoas em antecipar-se.

“Ou consideramos que tudo isto é um enquadramento que temos em Portugal e podemos acudir aos mais vulneráveis e temos condições nas famílias e empresas para enfrentar um choque externo ou na minha opinião teremos dificuldade em mudar e justificar ações que possam colocar em risco o médio prazo”, continuou Mário Centeno.

Quanto aos bancos, o Banco de Portugal fala em “persuasão” para mexidas nos depósitos, e defende que estes, porque “beneficiam da fidelidade dos seus depositantes”, deviam atuar de forma mais eficaz, até para uma “proteção da reputação”.

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