Sistema financeiro

"Neste momento há uma guerra no crédito à habitação" e nos depósitos, diz Paulo Macedo

"Neste momento há uma guerra no crédito à habitação" e nos depósitos, diz Paulo Macedo

Todos os dias há bancos a lançarem novas ofertas de ‘spreads’ e taxas no crédito à habitação, diz o presidente da CGD. Paulo Macedo refere que até 2025 gostaria de devolver o dinheiro que o Estado injetou na Caixa

“Redução de spreads, taxas de juros mistas”, e até “remunerações promocionais nos depósitos” aparecem todos os dias, diz Paulo Macedo, o presidente da CGD na conferência de apresentação de resultados onde revelou que nos primeiros três meses do ano o banco teve 285 milhões de euros de lucros, mais 96% do que em igual período de 2022.

Macedo respondia às questões relativas às inúmeras campanhas dos bancos sobre redução de spreads e outras condições como também taxas de juro fixas a dois anos e até a cinco anos.

De certa forma indignado, Paulo Macedo convidou os jornalistas a fazer uma reflexão. “Convido-vos a ver o que tem sido a linha do tempo na diminuição das taxas do crédito à habitação e nas taxas dos depósitos”, para atirar: “Neste momento, há uma guerra no crédito à habitação” .

E também nos depósitos a prazo. “A grande guerra não é tanto entre instituições financeiras, mas entre instituições e produtos, em vez de ser só entre produtos”.

E discretamente fala em produtos alternativos (leia-se certificados de aforro), que estão a dar um maior retorno aos aforradores do que os depósitos a prazo. Isto apesar de as taxas de juros subirem para os créditos e praticamente não traduzirem esse aumento nos depósitos a prazo.

Questionado sobre se se incomoda com a colocação do dinheiro naqueles produtos alternativos, responde prontamente: “A mim não me incomoda o que os clientes fazem”. E acrescenta que os clientes põem uma parte do dinheiro nesses produtos (certificados) mas “não tiram o dinheiro todo do banco e aplicam num só produto”.

Macedo mostrou mesmo um slide com as várias ofertas que diz acontecerem quase todas as semanas. Mas alerta para o facto de muitas vezes os juros prometidos, o serem apenas por um determinado período de tempo e a oferta de 2% ou 2,5% ser promocional e apenas por um determinado período e não o prazo todo.

Macedo refere ainda que a CGD já reestruturou cerca de 8 mil créditos, a maior parte por iniciativa própria, dos quais cerca de 900 no âmbito do decreto lei do governo, “o que no total corresponde a menos de 3% da nossa carteira de crédito”. Mas também diz “que esta situação pode piorar”.

Revela ainda que “estamos a estudar várias hipóteses, para ajudarmos os clientes” e “alguma coisa iremos fazer”, prometendo explicar mais tarde o que tem em mente quando as contas forem feitas. Isto porque “mexer em taxas e spreads obriga a marcar os clientes”, e, como temos uma taxa muito baixa de incumprimento, estamos a analisar essa situação".

Pagar os 2,5 mil milhões até 2025

Paulo Macedo confirmou que o montante do dividendo a pagar ao Estado este ano (face ao anterior) é de 352 milhões de euros em dinheiro, mas haverá ainda a juntar o valor do edifício sede da Caixa, “o que deverá duplicar aquele montante”.

Depois de várias questões Macedo esclarece que este ano o valor em termos de dividendo para o Estado poderá ascender a 700 milhões de euros, contando com o valor estimado da sede, cujo valor era - em 2010 quando foi vendido ao Fundo de Pensões - de 251 milhões de euros. Quando foi transferido do Fundo para a Caixa no final do ano passado valia 274 milhões de euros (rendas antigas), por isso é natural que tenha valorizado.

Macedo refere que teve do Estado “um apoio substancial”, e por isso espera devolver até 2025 os 2,5 mil milhões injetados no inicio de 2017. Mas também diz que “não é só devolver todo esse apoio”, porque "vale a pena lembrar o valor do capital orgânico, adicional ao valor do dividendo, que ascende a mais de 3,5 mil milhões de euros.

Desde 2018 a Caixa já devolveu 1,3 mil milhões de euros ao Estado pela injeção, a que se somará este ano o valor da sede.

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