Sistema financeiro

Diretora do FMI foi a Pequim deixar aviso: mundo partido é “uma divisão perigosa" e os riscos financeiros "aumentaram"

Kristalina Georgieva
Kristalina Georgieva
DANIEL LEAL

A criação de esferas de influência económica seria “uma divisão perigosa que irá tornar todos mais pobres e com menos segurança”, disse Kristalina Georgieva em Pequim. O mundo lida com uma incerteza “excecionalmente alta” e “os riscos à estabilidade financeira aumentaram"

Numa conferência em Pequim, capital da China, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, alertou este domingo, 26 de março, uma plateia de responsáveis políticos e económicos que a divisão do mundo em esferas de influência é um fator de empobrecimento e de insegurança para as populações globais.

A criação de esferas de influência económica seria “uma divisão perigosa que irá tornar todos mais pobres e com menos segurança”, disse perante o Fórum de Desenvolvimento da China, um evento anual que junta vários responsáveis da economia e finanças chinesa e global, citada pelo Financial Times.

Este foi, de resto, um argumento defendido por vários outros oradores no evento, segundo o jornal britânico, numa altura em que o rescaldo da pandemia, e guerra na Ucrânia, estão a obrigar os países a repensar relações comerciais e de produção.

A inversão rápida da política monetária acomodatícia dos últimos anos está igualmente a originar riscos novos ao setor financeiro, como provam o colapso dos bancos Silicon Valley Bank e Signature, nos EUA; que levaram à perda de confiança em instituições como o europeu Credit Suisse, comprado à pressa pelo concorrente UBS num par de dias.

O mundo está a sair de um período longo de política monetária acomodatícia e é necessário que as autoridades globais se mantenham atentas em relação ao sistema financeiro, alertou a diretora do FMI: “Os riscos à estabilidade financeira aumentaram numa altura de maiores níveis de dívida (…) a transição rápida de um período prolongado de baixas taxas de juro para as taxas muito mais altas necessárias para combater a inflação gera inevitavelmente tensões e vulnerabilidades, tal como vimos nos mais recentes desenvolvimentos no setor bancário”.

A incerteza, acrescentou, é “excecionalmente alta”. E é preciso que os agentes políticos intervenham de forma rápida e decisiva para evitar problemas maiores, disse: “Vimos também decisores políticos a agir de forma decisiva em resposta aos riscos de estabilidade financeira (…) estas medidas acalmaram a pressão nos mercados até certo ponto, mas a incerteza mantém-se alta e sublinha a necessidade de vigilância”.

Crescimento global a abrandar

Tendo em conta os três grandes fatores de incerteza - pandemia, guerra, e taxas de juro - o FMI prevê para o ano de 2023 um crescimento das economias globais abaixo dos 3%. A China, já totalmente reaberta depois de anos de confinamentos estritos, vai dar um grande impulso à atividade económica do mundo, crescendo 5,2% em 2023 e representando um terço do crescimento global, disse Georgieva, citada pelo Financial Times.

Tal como o economista-chefe do FMI dissera em janeiro, Georgieva recordou que “o crescimento de 1 ponto percentual na taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) da China origina 0,3 pontos percentuais de crescimento em outras economias asiáticas”.

As previsões do FMI, apresentadas em janeiro para as grandes economias globais, davam conta de uma desaceleração para 2023 do ritmo de crescimento do PIB global face a 2022; com um marcado abrandamento nas economias desenvolvidas.

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