Sistema financeiro

Líder do Santander: subida de juros nos depósitos só ajudaria ricos, impostos devem baixar no crédito à habitação

Líder do Santander: subida de juros nos depósitos só ajudaria ricos, impostos devem baixar no crédito à habitação
TIAGO MIRANDA

A vida dos portugueses ficaria mais “facilitada" com descida dos impostos, e não com mexidas nas comissões bancárias, defende Pedro Castro e Almeida, que, sobre os juros baixos nos depósitos, remeteu os clientes para certificados de aforro

O presidente do Santander, Pedro Castro e Almeida, considera que não é a mexer nas comissões e regras dos créditos à habitação que se vai resolver eventuais problemas sociais decorrentes da atual crise inflacionista.

“Muitas vezes, no crédito à habitação, estamos a falar em tirar um conjunto de comissões, mas o custo grande que se está a falar são as taxas e a fiscalidade quando é feito um contrato de crédito à habitação, e isso tira competitividade ao país”, declarou Castro e Almeida esta quinta-feira, 2 de fevereiro, na apresentação de resultados anuais que teve lugar em Lisboa. O Santander teve lucros de 607 milhões de euros em 2021, os maiores de sempre em Portugal.

“Se é para facilitar a vida aos portugueses, não é às comissões dos bancos que prestam serviços que se deve apontar para resolver o problema”, continuou.

Eventuais mexidas em regras do crédito à habitação, como a eliminação de comissões pretendidas pelo Parlamento, vão beneficiar as classes média e média-alta, e não as classes média-baixa e baixa, diz Pedro Castro e Almeida.

De qualquer forma, os problemas que já chegaram ao banco devido às subidas de taxas de juro são limitados, na ordem dos 2 mil créditos. O CEO do Santander Totta criticou, aliás, a associação Deco por falar de casos específicos problemáticos como se fossem generalizados. “Existe uma enorme assimetria entre o que é falado por uma associação de defesa dos consumidores e o que é a realidade”, afirmou Pedro Castro e Almeida.

Bancos que reestruturam sabem tudo

Apesar de o Banco de Portugal garantir que os clientes que renegociarem os créditos não vão ser penalizados, Castro e Almeida assegurou que isso não é verdade para os bancos onde for feita a reestruturação.

“Os bancos são obrigados a registar nos seus sistemas todos os clientes com indícios de dificuldades”, mesmo que não entrem em incumprimento, indicou o CEO, dizendo que são regras do Banco Central Europeu e da Autoridade Bancária Europeia que têm de ser respeitadas.

Ou seja, os bancos saberão sempre dos seus clientes que ali reestruturam os créditos por conta das novas regras do diploma do crédito à habitação, que flexibilizaram as negociações; só os outros, ao consultar a Central de Responsabilidade de Crédito, é que não terão a informação da reestruturação, mas podem perguntar ao cliente.

Mais 30% de amortizações

Neste contexto, uma das comissões que foram eliminadas foi a da amortização de crédito ao longo deste ano. Castro e Almeida admitiu que o contexto de subida das taxas de juro no crédito, sem que nos depósitos haja compensação, tem justificado mais decisões de pagamento antecipado. “Temos um aumento de cerca de 30% das amortizações de crédito” nos últimos três meses face ao padrão que existia, disse.

Em 2022, a carteira de crédito registou um decréscimo de 0,3% para 43,3 mil milhões, muito influenciado pela redução de 3,8% na concessão de crédito às empresas. Em sentido contrário, o crédito a particulares subiu 5,2%, com destaque para o aumento de 5,5% no crédito à habitação e 6% no crédito ao consumo.

Subida de juros nos depósitos beneficiaria ricos

Sobre os depósitos, Castro e Almeida rejeita que aumentar os juros seja uma forma de “responsabilidade social” tendo em conta o atual contexto. O “nível de concentração de depósitos em Portugal é muito grande”, pelo que são os mais ricos que têm depósitos, pelo que seriam eles os beneficiados. “80% dos portugueses não tem poupança nenhuma”, continuou.

Castro e Almeida sublinha que é normal haver uma demora no aumento dos juros, ainda que não justificando qual a razão para Portugal ter uma menor remuneração que a média da zona euro.

Além disso, há alternativas. “Os certificados de aforro estão a pagar mais e têm tido procura, mas vão ver que passado um ano os depósitos estarão ao nível dos certificados de aforro”, declarou.

Os recursos de clientes do Santander fixaram-se no final de 2022 em 45,8 mil milhões, uma descida de 2,4% face a 2021. Para isso contribuiu a queda de 14,3% dos recursos fora do balanço, na qual se destaca o decréscimo dos fundo de investimento de 16,5% e de 11,9% nos seguros e outros recursos. Os depósitos estabilizaram.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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